As revelações da Agência Pública sobre a real história do empresário Samuel Klein, agora reconhecido como explorador e abusador sexual de crianças e adolescentes, estão levando ao esforço de revisão de homenagens públicas que lhe conferiram inclusive o nome de rua e de um centro médico em São Caetano do Sul.
Recentemente, a agência de jornalismo publicou uma longa reportagem com detalhes da vida do famoso empresário, dono das Casas Bahia, falecido em 2014, que teria mantido um esquema de aliciamento de crianças e adolescentes para a exploração sexual dentro da sede da sua empresa, naquela cidade do ABC paulista.
O mandato coletivo “Mulheres por + Direitos” do PSOL, na Câmara Municipal de São Caetano do Sul, iniciou uma campanha para retirar o nome do homenageado do logradouro e da clínica. Por meio de um abaixo assinado, elas pretendem pressionar o prefeito da cidade para que a rua do centro da cidade em frente à loja Casas Bahia, hoje rua Samuel Klein, passe a se chamar Rua 8 de Março, em homenagem à luta das mulheres. Elas também propõem que o Centro de Especialidades Médicas (CEM) Samuel Klein, no bairro Fundação, seja renomeado para homenagear Maria Odília Teixeira, primeira mulher negra a se tornar médica no Brasil.
A reportagem da Agência Pública mostrou que, ao menos entre 1989 até 2010, Samuel Klein supostamente comandou um esquema de aliciamento de crianças e adolescentes, entre 9 a 17 anos, para a exploração sexual. Ele teria usado a sede da Casas Bahia, em São Caetano do Sul, como um dos lugares onde aliciou e violentou dezenas de meninas. Seu filho, Saul Klein, também é investigado por estupro de mais de trinta mulheres.
LEIA: Crescem as denúncias do apartheid israelense, mas também a cumplicidade do Brasil
A cidade de São Caetano do Sul homenageou o empresário em 2018, mudando a denominação da rua da Casas Bahia para Rua Samuel Klein. Na ocasião, o prefeito José Auricchio Júnior falou da “grandeza de homem” que foi Samuel e afirmou que “apesar dos inúmeros convites que recebeu, Klein manteve a matriz do grupo em São Caetano, o que demonstra o carinho e gratidão que ele sempre teve pela cidade”. O fundador da cidade também foi homenageado com um busto na sede da Associação Comercial e Industrial da cidade (Aciscs) em 2015.
Ainda em vida, o empresário foi homenageado pela Sinagoga Knesset Israel, em São Paulo; em novembro de 2011 foi inaugurado o prédio da nova sede, na Avenida Angélica, com o nome de Samuel Klein, após ele ter feito uma doação para a construção do prédio.
Ele também nomeia um instituto sionista brasileiro, fundado em 2014, que tem projetos em parceria com Israel. Após os escândalos, o Instituto Samuel Klein lançou uma nota afirmando estarem chocados e perplexos com as acusações “de extrema gravidade”.“Ressaltamos desde logo que jamais iremos contemporizar com qualquer atitude, de quem quer que seja, que não se alinhe com os maiores valores de ética e integridade”, afirmam. Não foi mencionada a intenção de mudança do nome do instituto.
LEIA: Brasil é cobrado a explicar vínculos militares com Israel