O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, deu mais uma prova de que suas políticas seguirão o legado de seu antecessor Donald Trump. Em sua primeira ligação com o príncipe herdeiro dos Emirados Árabes Unidos, Mohammed Bin Zayed Al-Nahyan, Biden enfatizou a importância de normalizar as relações com Israel no contexto de “desviar a tensão” e “trazer a paz” ao Oriente Médio.
“Nesse sentido, o presidente destacou a importância estratégica da normalização das relações entre os Emirados Árabes e Israel”, disse a Casa Branca. “Ele expressou seu total apoio ao fortalecimento e expansão desses acordos.”
O ex-conselheiro do Trump, Jared Kushner anunciou o lançamento do Abraham Accords Institute for Peace, com financiamento privado. “Paz” neste contexto, é claro, é um eufemismo para acordos comerciais lucrativos às custas do povo palestino. O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gabi Ashkenazi, estará envolvido na organização, junto com diplomatas árabes. Robert Greenway, que foi o principal conselheiro de Trump no Conselho de Segurança Nacional, será o diretor executivo da organização.
Isso está muito longe do que as declarações iniciais anunciando os Acordos de Abraão nos teriam feito acreditar. A anexação formal suspensa do território palestino foi uma suposta vitória do povo palestino, mesmo quando Israel embarcou na expansão de assentamentos adicionais e na anexação de fato de terras palestinas. Mas por que deveriam os palestinos reclamar se a ONU deu sua bênção a outras violações dos direitos humanos com fins lucrativos?
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Um número crescente de países na região MENA está normalizando os laços com Israel [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]
Enquanto isso, as objeções da Autoridade Palestina aos acordos de normalização não têm peso político nem diplomático, já que o líder, Mahmoud Abbas, ainda está lutando contra o paradigma de dois Estados na arena internacional. Não houve nenhuma tentativa da liderança palestina de vincular o surgimento político da “solução” de dois estados aos acordos de normalização e ao fato de que décadas de negociações levaram à atual anexação de fato da terra palestina.
Apesar de toda a retórica de Biden sobre o compromisso dos dois estados, está claro que o legado de Trump ainda exerce influência sobre a política dos EUA. Em fevereiro, o ex-embaixador dos Estados Unidos em Israel, o arquissionista David Friedman, deu uma entrevista em que simplificou os acordos de Abraham assim: “O que demonstramos por ser tão pró-Israel é que podemos ser bons amigos de um aliado que precisa de nossa ajuda”.
Embora de fato benéfico para os países que se inscrevem, o objetivo final dos acordos de normalização é proteger o processo de colonização de Israel. E ao proteger Israel por meio de acordos comerciais, os palestinos têm pouco a não ser seus direitos legítimos, que a ONU não reconhece, exceto em suas referências estatísticas ou relatórios que existem para embelezar a organização internacional, mas não para proteger os oprimidos deste mundo.
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