É evidente que ninguém comprou a narrativa oficial palestina sobre o adiamento da eleição legislativa que estava marcada para o final deste mês, com exceção do núcleo do Fatah próximo à liderança e alinhado a ela. Existem correntes na Fatah que estão iradas e se rebelando contra a decisão; eles não aceitaram o “motivo” e sim o rejeitaram e refutaram. Todas as facções equilibradas se opuseram ao adiamento, assim como a maioria, senão todas, as instituições da sociedade civil.
Não há dúvida de que o povo palestino ficou extremamente decepcionado com a decisão. O grau de sua decepção é quase sem paralelo, igualado apenas pelo extremo entusiasmo em participar do processo eleitoral. Um massivo 93,3 por cento dos elegíveis registraram-se nas listas de eleitores, e havia 36 listas contendo centenas de candidatos para escolher.
A UE e seus membros Alemanha, França, Itália e Espanha ficaram irritados com a decisão de adiar e exigiram que a Autoridade Palestina fixasse uma nova data. Eles também insistiram que Israel deveria permitir que eleitores em todos os territórios palestinos participassem, incluindo aqueles em Jerusalém. A ONU fez o mesmo.
Os EUA, que mostraram pouco interesse na questão eleitoral, preferiram deixar que o povo palestino e sua liderança façam o que for necessário. Foi uma posição “negativa” que reflete a indiferença aos palestinos, o que confirma o que se esperava: o governo Biden não quer investir tempo e esforço no arquivo palestino.
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O que importa para os países árabes vizinhos é que as eleições legislativas e outras não tragam resultados surpreendentes, especialmente outra vitória do Hamas, como aconteceu em 2006. Isso seria um “mau presságio” para os países que não realizam eleições totalmente democráticas e conhecem os resultados dos votos antes da abertura das seções eleitorais.
![Membros da Comissão Eleitoral Central Palestina registram eleitores na cidade de Hebron, na Cisjordânia, em 10 de fevereiro de 2021 [Hazem Bader/ AFP via Getty Images]](https://i0.wp.com/www.monitordooriente.com/wp-content/uploads/2021/05/GettyImages-1231076700.jpg?resize=920%2C613&ssl=1)
Membros da Comissão Eleitoral Central Palestina registram eleitores na cidade de Hebron, na Cisjordânia, em 10 de fevereiro de 2021 [Hazem Bader/ AFP via Getty Images]
A Europa é o maior doador da AP e, portanto, sua posição é importante. No entanto, Washington e as capitais regionais podem torcer o braço da Europa, especialmente com o espectro do Hamas emergindo vitorioso das urnas. Acredito que tal resultado seja improvável, entretanto, e que o movimento nacional palestino e suas várias listas ganharão a maioria das cadeiras no Conselho Legislativo se e quando a eleição for adiante.
Há uma estreita janela de esperança de que a liderança vá recuar e remediar a situação estabelecendo uma nova data para as eleições legislativas e, ao mesmo tempo, colocando pressão pública sobre Israel, especialmente em Jerusalém, bem como fazer lobby em nível internacional. A AP também deve ser criativa quando se trata de garantir a participação do povo de Jerusalém em todas as eleições. Nesse ínterim, deve usar o tempo para reunir as peças do Fatah e tentar unificar suas listas de candidatos, ou pelo menos obter alguma coordenação entre elas, para concorrer às eleições legislativas.
O problema de um cenário como esse é que vai colidir com o obstáculo da eleição presidencial. O presidente Mahmoud Abbas tem 86 anos, mas insiste em se candidatar a mais um mandato. Ele rejeita a ideia de ter um vice-presidente escolhido por ele, muito menos alguém que seja eleito.
Sua paixão pela presidência e o apego da Fatah ao poder impediram a realização de eleições por muitos anos. Quando finalmente chegou o momento da verdade, e parecia que a presidência e o domínio do Fatah haviam chegado a um ponto sem volta, eles recuaram do que haviam prometido ao povo da Palestina. A decisão de adiar – cancelar? – todas as três eleições foram anunciadas sob uma pesada cortina de fumaça estampada com o selo de Jerusalém e desconsiderou os sérios custos nacionais de manter a mesma velha equipe no lugar.
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Este artigo apareceu pela primeira vez na Addustour em 3 de maio de 2021
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