Os palestinos de Jerusalém são de fato o sal da terra. Sua resistência remete às árvores robustas no Portão de Damasco, na Velha Cidade, enquanto protestam veementemente em frente às suas casas no bairro de Sheikh Jarrah, contra a mais perniciosa ocupação do planeta, com as mãos nuas e corações plenos de certeza sobre seus direitos legítimos.
O mês do Ramadã costuma ser associado a eventos heróicos pelos palestinos nativos de Jerusalém. Foi neste momento que um grupo de jovens da cidade ocupada redirecionou a própria resistência popular e reacendeu as chamas da causa palestina, em uma série de protestos contra a ocupação israelense. Registros de vídeo viralizaram online e logo se tornaram o programa favorito dos palestinos durante o Ramadã.
A bravura dos palestinos de Jerusalém é magnética — nos faz checar os celulares constantemente, à espera de novas notícias ou vídeos, a fim de compartilhar tuítes e comentar os incidentes em tempo real nas redes sociais. Toda vez que vemos algum sacrifício de sangue e alma, registramos com nossos aparelhos para divulgá-lo e criamos hashtags em solidariedade. Lamentavelmente, em alguns casos, o medo vence a ação, talvez porque alguns de nós vivemos em um destas capitais árabes onde as autoridades contam os passos e a respiração de seus cidadãos.
Nossa nação vive uma consciência coletiva de que não será derrotada pela imprensa contrarrevolucionária, tampouco pelas próprias agências de repressão. Mesmo que alguns regimes consigam abrandar o ímpeto de seus povos ao reprimir partidos independentes e opiniões balanceadas, o efeito dura pouco perante o último ato de resistência dos palestinos de Jerusalém em sua busca por liberdade. Foram eles que despertaram de fato muitas pessoas e superaram a influência dos estados submissos que logo acataram a normalização de relações com a ocupação de Israel.
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Admiramos o homem que sentou-se em seu pequeno tapete de orações, virado ao Domo da Rocha, com o Alcorão em mãos, desfrutando da serenidade e da brisa fresca de Al-Quds. Esperamos ansiosos para saborear o maqluba feito por Hanadi e Khadija e outras fortes mulheres palestinas que também defendem Al-Aqsa.
Acompanhar Abd Al Afou e Ramzi no Instagram e Salah no YouTube, entre outros jovens, tornou-se um hábito de nossas noites. Enquanto fazemos o desjejum em Londres, aguardamos ansiosamente pelo brilhante Hussam Abu Aysha e seu cativante programa “Nas wa Horras”, transmitido pela emissora Al Hiwar, no qual recebe heróis e defensores de Jerusalém.
Em Jerusalém, o movimento de resistência é liderado pela juventude, dentre a qual muitos nasceram após a Segunda Intifada, entre 2000 e 2005. Trata-se de uma geração agredida pela ocupação com todas as forças a seu dispor, a fim de corromper e alienar o povo palestino e sua causa justa. Contudo, os jovens demonstraram vez após vez que é impossível subjugá-los, mesmo quando sua aparência e comportamento possa desagradar os mais velhos. Uma vez convocados para defender Al-Aqsa e a Cidade Sagrada, mostraram coragem e inspiraram novas histórias emocionantes.
Confiamos em Deus e repousamos nossas esperanças na geração mais jovem, que hoje enfrenta as hordas invasoras de colonos ilegais que planejam invadir a Mesquita de Al-Aqsa no 28° dia deste Ramadã. A juventude de Jerusalém é, afinal, um ótimo exemplo de como nossa nação pode superar suas fraquezas e obstáculos e jamais morrer. E quando escutamos os gritos de resistência, o povo palestino traz consigo sua incomparável resistência.
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Eles me inspiram sempre que vacila meu ânimo ou quando o desespero tenta tomar posse. Minha alma caminha nas vielas da Cidade Velha e suas praças públicas em direção a Al-Aqsa e à imensidão de suas nobres fundações. Escuto atentamente os cânticos dos jovens no Portão de Damasco e os gritos de solidariedade no bairro de Sheikh Jarrah.
O que posso oferecer é nada comparado com tamanho sacrifício e minha determinação é nada sem eles. Então reúno minhas forças e faço tudo que posso para ajudá-los. Em nome da vitória e da liberdade do povo palestino.
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