Em admissão notável de um erro histórico, o The Guardian descreveu seu apoio à Declaração de Balfour — isto é, a promessa do mandato colonial britânico a uma “pátria” para o povo judaico na Palestina ocupada — como “um dos seus piores erros em duzentos anos”.
O tradicional jornal sediado em Londres fez seu anúncio surpreendente na sexta-feira (7).
“O que quer que seja dito, Israel hoje não é o país que o The Guardian visualizou e queria”, declarou seu editorial.
“Quando Arthur Balfour, então Secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, prometeu ajudar a estabelecer um lar nacional ao povo judeu na Palestina, há 104 anos, suas palavras mudaram o mundo”, prosseguiu, em referência à controversa declaração emitida pelo mandato colonial quando a comunidade judaica não excedia 5% da população na Palestina.
Ao observar que seus erros mais notáveis foram publicados nas páginas de seus editoriais, o The Guardian aparentemente assumiu responsabilidade pelo fracasso em instituir uma “pátria judaica” na Palestina, ao apoiar consequentemente uma nova ocupação colonial.
“Em 1917, o The Guardian concedeu apoio, celebrou e — pode-se dizer — mesmo ajudou a facilitar a aceitação de Balfour”, observou o artigo.
Na ocasião, o editor-chefe era C.P. Scott escreveu um texto no qual expressou um racismo característico de autores e políticos ocidentais da época, em apoio ao projeto sionista e franco detrimento aos direitos do povo palestino, observou o presente editorial.
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No dia em que a Declaração Balfour foi anunciada, Scott descartou qualquer outra reivindicação à Terra Santa com a máxima racista de que “a existente população árabe da Palestina é pequena e muito pouco civilizada”.
Naquele momento, porém, cristãos e muçulmanos palestinos constituíam mais de 95% da população.
A admissão do The Guardian ocorre em meio a denúncias de que Israel representa de fato um estado sistematicamente racista, que preserva práticas flagrantes de apartheid.
Em abril, a organização de direitos humanos Human Rights Watch (HRW) juntou-se a outros grupos locais e internacionais para denunciar que Israel comete cotidianamente crimes de apartheid e perseguição racista nos territórios palestinos ocupados.
Antes do recente relatório do HRW, a ong de direitos humanos israelense B’Tselem também descreveu Israel como estado de apartheid, que “promove e perpetua a supremacia judaica entre o Mar Mediterrâneo e o Rio Jordão”, ao corroborar um relatório da ONU de 2017.
A B’Tselem descartou ainda o popular equívoco de que Israel representa um estado democrático dentro da chamada Linha Verde, isto é, das fronteiras demarcadas em 1949.