O parlamentar britânico Richard Burgon, membro do Partido Trabalhista, questionou ontem (19) à Câmara dos Comuns quantos mortos civis palestinos serão necessários antes que o governo assuma qualquer ação para interromper os crimes de guerra israelenses.
“Quantas crianças palestinas serão mortas, quantos lares palestinos serão reduzidos a escombros, quantas escolas e hospitais palestinos serão bombardeados antes do Reino Unido agir adequadamente para enfim convencer o governo israelense a interromper sua guerra contra o povo palestino”, questionou o legislador trabalhista.
Prosseguiu: “Certamente agora é hora de encerrar todas as vendas de armas britânicas a Israel. Certamente agora é hora de sancionar o governo israelense por suas reiteradas violações da lei internacional. Certamente agora é hora — conforme voto desta Câmara em 2014 — de reconhecer o Estado da Palestina, pois a Palestina tem o direito de existir!”
Today in Parliament, I called on the Government to impose sanctions on Israel as part of the international pressure needed to force the Government of Israel to end its war on the Palestinian people. pic.twitter.com/YjLdyWECne
— Richard Burgon MP (@RichardBurgon) May 19, 2021
Desde o início da ofensiva militar israelense, em 10 de maio, ao menos 230 palestinos foram mortos em Gaza, incluindo 65 crianças. Outros 1.700 ficaram feridos — incluindo 55 em estado grave. Na Cisjordânia ocupada, forças israelenses mataram treze palestinos.
Também na Câmara dos Comuns, nesta quarta-feira, o ex-líder trabalhista Jeremy Corbyn demandou esclarecimentos sobre a natureza da relação militar entre Londres e Tel Aviv, além de detalhes de eventuais armas britânicas utilizadas para atacar Gaza.
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Ao referir-se ao Ministro de Estado para Oriente Médio James Cleverly, indagou Corbyn: “Pode ele dizer se alguma arma ou munição vendida pelo Reino Unido a Israel foi utilizada para bombardear Gaza ou se algum drone fornecido foi utilizado como aparato de vigilância seja na Cisjordânia ou Gaza, seguido pela devastação da vida civil e morte de pessoas?”
Em resposta, Cleverly alegou que o Reino Unido possui um “regime robusto de licenciamento de venda de armas e todos os alvarás de exportação são analisados de acordo”.
Porém, segundo a Campanha Contra o Comércio de Armas (CAAT), o Reino Unido autorizou exportações de armas a Israel estimadas em £400 milhões (US$567 milhões), desde 2015.
Durante a brutal ofensiva contra Gaza em 2014, o então governo britânico de David Cameron ameaçou suspender parte das vendas a Israel, sob receio de que equipamentos britânicos fossem utilizados em violação ao acordo de cessar-fogo.
Cleverly fez apenas uma breve menção sobre garantir que “todas as ações [israelenses] sejam proporcionais”, de modo a evitar baixas civis. O ministro conservador condenou apenas “atos terroristas do Hamas” e repetiu a retórica israelense de autodefesa.
A parlamentar palestino-britânica Layla Moran relatou a morte de crianças: “Meu coração está em pedaços … Precisamos de um cessar-fogo e o Reino Unido não deve deixar à França o papel de elaborar uma resolução das Nações Unidas para tanto”.
“O governo foge de suas responsabilidades históricas”, prosseguiu.
Não obstante, Moran também condenou “atos de terrorismo” do Hamas e outros grupos na Faixa de Gaza. “É preciso um fim permanente à sua incitação e lançamento de foguetes contra Israel. Não há qualquer justificativa para atacar alvos civis”.
Especialistas reiteram, porém, que a tentativa de pôr-se a par do lobby sionista por parte de legisladores como Moran ignora o fato de que “incitação” é política de décadas da ocupação militar israelense, de modo que a resistência é consagrada pela lei internacional.
“Como descendente de palestinos, poderíamos supor que [Moran] sabe disso, ao invés de rotular a resistência legítima como terrorista”, argumentou um analista sobre a questão.
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