Nesta sexta-feira (21), uma mesa redonda realizada online, composta por acadêmicos e ativistas de diversos lugares do mundo, debateu a conjuntura da luta palestina e o sistema de apartheid israelense ao longo do século XXI.
As informações são da agência Anadolu.
Os participantes indagaram o que aguarda o futuro ao estado ocupante, após semanas de violência e violações executadas por forças e colonos de Israel.
O fórum online foi convocado por Anas Altikriti, diretor-executivo da Fundação Córdoba.
Participaram do evento o proeminente professor israelense Ilan Pappé, da Universidade de Exeter, a pesquisadora americana Phyllis Bennis, do Instituto de Estudos Políticos de Washington, e Ammar al-Dwaik, chefe da Comissão Independente de Direitos Humanos.
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Pappé ilustrou brevemente a história da limpeza étnica na Palestina ainda antes da Nakba — ou “catástrofe”, como é descrita a criação do Estado de Israel, em 1948 —, que culminou na expulsão massiva dos nativos palestinos de suas terras, destruição de cidades e aldeias e início do empreendimento colonial sionista.
“Hoje, mais e mais compreendemos a natureza do movimento sionista, ao confirmar que Israel é um projeto colonial, segundo o qual pessoas de toda a Europa vão às terras de outros com o intento de expulsá-los. Este impulso levou a atos de limpeza étnica”, relatou Pappé.
“Em meados da década de 1920 e antes de 1948, já ocorriam atos menores de limpeza étnica conduzidos pelo movimento sionista sob mandato britânico, mas certamente a expulsão massiva dos palestinos ocorreu dentro de nove meses no ano de 1948”.
“Metade das aldeias palestinas — mais de 500 aldeias — foram destruídas pela limpeza étnica”, prosseguiu. “Metade da população palestina foi expulsa e a maioria das cidades e centros urbanos foi destruída e então reconstruída para abrigar colonos europeus”.
Justiça internacional e apartheid israelense
Al-Dwaik expressou alívio com o cessar-fogo anunciado na quinta-feira (20) e o fim dos ataques brutais e indiscriminados contra a Faixa de Gaza.
Porém, reiterou o dever da comunidade internacional em reconstruir o território empobrecido, pois Israel — como potência ocupante, a despeito da lei internacional e sua responsabilidade direta pela destruição de áreas civis — recusa-se a fazê-lo.
“A máquina de morte e destruição parou, mas lamentavelmente deixou uma devastação massiva de infraestrutura em Gaza e uma situação de catástrofe humanitária que não pode ser menosprezada”, enfatizou Al-Dwaik.
“É preciso mobilizar bilhões de dólares para reconstruir Gaza, cujos traumas de guerras passadas ainda não se curaram. Vemos um ciclo de destruição e reconstrução na região e trata-se da quarta ofensiva sistemática e devastadora em doze anos”.
Al-Dwaik observou que, apesar do armistício, os palestinos ainda enfrentam um processo contínuo de limpeza étnica pela ocupação, com ênfase na expulsão de famílias em Sheikh Jarrah e outros lugares — “sem qualquer consequência e com impunidade”.
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O cessar-fogo não aborda tais questões e os palestinos enfrentam o genocídio em curso sem qualquer suporte, denunciou o ativista de direitos humanos.
Bennis destacou o crime de apartheid conduzido pelo Estado de Israel e argumentou que a atenção em todo o mundo repousa agora sobre as violações da lei internacional.
A comunidade internacional e particularmente os Estados Unidos, denunciou, são cúmplices por ação ou omissão do apartheid israelense contra os palestinos.
“O apartheid exite quando há um território, uma potência no controle e dois sistemas legais distintos, que se aplicam a dois grupos distintos de pessoas com base em sua raça ou etnia e com o objetivo de dominação de um grupo sobre o outro”, explicou Bennis.
“Esta é a descrição das políticas israelenses em relação aos palestinos, do rio ao mar”, destacou ao referir-se a todo o território da Palestina histórica, isto é, do Mar Mediterrâneo (Gaza) ao Rio Jordão (Cisjordânia), incluindo os territórios ocupados em 1948.
O apartheid israelense é debatido há mais de vinte anos por figuras internacionais, como o arcebispo Desmond Tutu e o ex-líder sul-africano Nelson Mandela, observou Bennis.
Entretanto, ressaltou, o fenômeno de fato expandiu-se nos últimos anos, para envolver a negação dos direitos mais básicos aos palestinos — contudo, assegurados a colonos ilegais —, como liberdade de movimento, acesso à água e contato com famílias e amigos.
Após mais de dez dias de bombardeios brutais, Tel Aviv e Hamas concordaram com um cessar-fogo a partir de sexta-feira (21). Ao menos 243 palestinos foram mortos e mais de 1.700 ficaram feridos desde 10 de maio, segundo autoridades locais.
Forças da ocupação atingiram a infraestrutura de eletricidade, telecomunicações e imprensa da Faixa de Gaza, com o objetivo de isolar o território sitiado do resto do mundo.
Israel ocupou Jerusalém Oriental em 1967, durante a chamada Guerra dos Seis Dias, e anexou toda a cidade em 1980 — medida jamais reconhecida pela comunidade internacional.
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