Uma das duas únicas mulheres no Conselho Soberano do Sudão, órgão executivo de governo, anunciou sua demissão do cargo neste sábado (22), ao acusar a gestão provisória dominada por militares de ignorar as vozes civis, segundo informações da agência Reuters.
O conselho civil-militar de catorze membros foi estabelecido junto de um gabinete de tecnocratas para governar o Sudão durante um período de transição, após o exército derrubar o longevo ditador Omar al-Bashir, em 2019, sob pressão de protestos populares.
“O componente civil no conselho e em todos os níveis de governo tornou-se meramente um órgão executivo de caráter logístico, que não participa da tomada de decisões”, declarou Aisha Musa em vídeo divulgado pela agência estatal SUNA.
“Ao contrário, somente carimba a aprovação de decisões pré-preparadas”, prosseguiu.
Musa anunciou ter submetido sua renúncia ao gabinete em 12 de maio, um dia após dois manifestantes serem mortos pela polícia durante um ato para recordar o aniversário de uma repressão mortal contra o levante popular de 2019.
A ex-oficial sudanesa acusou as autoridades de transição de carregar o país a “mais mortes, mais injustiça, mais pobreza e mais sofrimento”.
Musa observou que a investigação sobre o massacre de 2019 ainda não foi concluída.
Segundo ativistas, 130 pessoas morreram pela repressão às manifestações e pela violência subjacente — autoridades reconhecem, porém, 87 mortes.
Profissionais de saúde, manifestantes e testemunhas relatam que as forças de segurança dispararam munição real contra o protesto realizado neste mês.
Musa também acusou as autoridades de transição de postergar a formação do Conselho Legislativo, o terceiro órgão a ser constituído conforme o acordo de compartilhamento de poder no Sudão, junto do Conselho Soberano e do gabinete técnico.
O Conselho Soberano do Sudão não comentou ainda a renúncia de Musa.
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