A repressão contra dissidentes, ativistas de direitos humanos e críticos independentes ao regime saudita permanece em força total apesar da libertação de alguns presos políticos nos últimos meses, reportou ontem (23) a organização Human Rights Watch (HRW).
A condenação de três homens a longas sentenças de prisão, em março e abril, sob acusações relacionadas à dissidência pacífica, reafirma a manutenção da campanha repressiva pelas autoridades, argumentou a ong de direitos humanos com sede em Nova York.
Entre os condenados nos últimos meses, está Abdulrahman Al-Sadhan, ex-funcionário do Crescente Vermelho da Arábia Saudita. O trabalhador humanitário foi submetido a vinte anos de prisão, sob acusações ligadas à oposição pacífica a políticas do reino.
Cortes sauditas também decretaram seis anos de prisão ao ativista de direitos humanos Mohammed Al-Rabiah, sob uma série de acusações vagas e escusas.
“A libertação saudita de ativistas proeminentes não sugere qualquer abrandamento na repressão, à medida que as cortes antiterrorismo do país cospem penas de vinte anos contra críticas pacíficas”, declarou Michael Page, vice-diretor do HRW para Oriente Médio.
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“Autoridades sauditas podem ter soltado algumas pessoas, para conter a pressão internacional, mas sua atitude em relação aos dissidentes permanece a mesma”, prosseguiu.
Em reportagem publicada pelo The Washington Post, a irmã de Al-Sadhan denunciou que autoridades sauditas agrediram o trabalhador humanitário na prisão, ao torturá-lo com choques elétricos e espancamentos, além de abusos verbais.
Sua irmã relatou ainda que Al-Sadhan foi forçado a assinar documentos de confissão apresentados em seu julgamento, sem sequer chance de leitura.
O Human Rights Watch expressou apreensão sobre alegações que não correspondem efetivamente a crime algum, utilizadas para aprisionar ativistas e opositores na Arábia Saudita.
Dentre as denúncias: “assinar documento para abalar o tecido social e enfraquecer a coesão nacional”; “comunicar-se com outros para prejudicar a segurança e estabilidade do país”; deixar de delatar “apoiadores e simpatizantes” da Irmandade Muçulmana; “autorizar e publicar livro de corrente suspeita”; e violar a lei de crimes cibernéticos — isto é, postar nas redes sociais.
Fontes reportaram ao HRW que as autoridades penitenciárias da Arábia Saudita utilizam choques elétricos, afogamento e agressões físicas contra os prisioneiros, além de pendurá-los de ponta-cabeça e mantê-los em cubículos, sem poder dormir ou comer por dias.
A mudança no governo dos Estados Unidos em janeiro último coincidiu com a libertação de alguns presos políticos, incluindo a ativista pelos direitos das mulheres Loujain al-Hathloul. Sua soltura foi vista como resposta à pressão imposta à monarquia.
Contudo, esperanças de uma nova política saudita foram descartadas pelo HRW.
“A Arábia Saudita não pode reabilitar sua imagem internacional enquanto assedia, prende e tortura críticos do regime, ao coagí-los a submissão ou exílio”, concluiu Page.