Frustrado por suas perdas, Israel mais outra vez ataca residentes de Gaza

Vista aérea dos destroços do edifício Cela, de treze andares, que abrigava escritórios da imprensa internacional, após onze dias de bombardeios israelenses contra a Faixa de Gaza, em 23 de maio de 2021 [Ali Jadallah/Agência Anadolu]

Após onze dias de bombardeios israelenses contra o território sitiado da Faixa de Gaza, um cessar-fogo mediado pelo Egito enfim entrou em vigor na última sexta-feira (21). Ao longo da ofensiva mortal contra Gaza, aviões de guerra da ocupação israelense atingiram nove edifícios altos, sob a alegação de conter “infraestrutura militar” — porém, sem evidências.

Entre os edifícios destruídos estava a Torre al-Jalaa, que acomodava escritórios das redes internacionais Al Jazeera e Associated Press. Estes prédios também abrigavam apartamentos residenciais, centros de ensino, empresas, lojas de roupa e cosméticos e outros empreendimentos civis. Os palestinos denunciam que a ocupação israelense atacou deliberadamente estruturas civis para aniquilar qualquer possibilidade de desenvolvimento social e econômico em Gaza.

Um piloto israelense que participou da chacina comentou publicamente que os bombardeios contra quarteirões residenciais representavam “uma forma de extravasar a frustração do exército, após seu fracasso em impedir o disparo de foguetes de Gaza”. Junto de outros oficiais, o piloto — identificado apenas como Major D — concedeu uma entrevista reveladora à emissora israelense Channel 12, na qual insistiu que o exército israelense jamais subestimou a intensidade de seus ataques, ao aplicar toneladas de poder de fogo contra o pequeno território litorâneo.

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D também expressou pensamentos seus e de seus colegas durante os bombardeios:

Eu fui numa missão para executar ataques aéreos, com o sentimento de que destruir as torres era uma forma de extravasar a frustração pelo que acontecia conosco e pelo sucesso dos grupos da resistência em Gaza em nos atingir … Falhamos em parar o disparo de foguetes ou neutralizar a liderança terrorista, então destruímos as torres.

Segundo comunicado emitido pelo exército israelense, facções palestinas lançaram em torno de quatro mil foguetes em direção ao sul do território considerado Israel — isto é, ocupado durante a Nakba, ou “catástrofe”, via limpeza étnica, em 1948 —, além de cidades centrais, como Tel Aviv. Doze israelense morreram e centenas ficaram feridos.

Após as declarações conferidas ao Channel 12, o ex-piloto israelense Yonatan Shapira reiterou que oficiais da ocupação que atacaram torres residenciais em Gaza cometeram crimes de guerra. Em entrevista à rede Al Jazeera, Shapira confirmou que as ações destes pilotos são resultado de anos de doutrinação nas mãos do exército sionista.

Shapira alistou-se nas Forças de Defesa de Israel (FDI) em 1993 e pediu exoneração dez anos depois, durante a Segunda Intifada. Foi preso diversas vezes por seu trabalho em solidariedade com o povo palestino. Em entrevista à agência Anadolu, Shapira relatou ter recebido uma educação que o encorajou a filiar-se ao exército, com o suposto propósito de defender seu povo. Contudo, ao longo de seu serviço na Força Aérea de Israel, percebeu que as instruções expressas para lançar bombas contra civis consistem em ato de terrorismo de estado. O ex-piloto criticou o sistema de ensino e a imprensa sionista, ao denunciar uma “lavagem cerebral” perpetrada contra os israelenses, de modo que crianças são manipuladas por uma educação de caráter beligerante.

Sem direitos humanos em Gaza – Desenho animado [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

“Como crianças em Israel, somos criados por uma educação sionista profundamente militar. Não sabemos quase nada sobre a Palestina, não sabemos nada sobre a Nakba e não sabemos nada sobre a opressão em curso”, asseverou Shapira.

O engenheiro Nazi Sarhan, subsecretário do Ministério de Assuntos Públicos e Habitação de Gaza, confirmou que aproximadamente 1.800 unidades residenciais foram completamente destruídas pela campanha de bombardeios de Israel. O número de unidades parcialmente danificadas chega a 16.800 residências civis.

Em nota, declarou Sarhan: “Cinco torres em Gaza foram completamente demolidas e o número de instalações públicas destruídas totaliza 74 instalações. Além disso, 66 escolas foram bombardeadas; três mesquitas destruídas; e quase quarenta mesquitas danificadas de algum modo, além de uma igreja cristã”.

“As perdas financeiras pela destruição de prédios e instalações residenciais chegam a US$150 milhões e tais estimativas são meramente preliminares”, prosseguiu Sarhan. “Precisamos de US$350 milhões para reconstruir o setor de habitação, que sofreu enormes prejuízos durante a última rodada de agressões”.

Alguns analistas e especialistas descreveram a recente escalada como “ataques às torres de Gaza”. Segundo eles, Israel busca mostrar domínio sobre a resistência ao impor “custos ao apoio popular”, na tentativa de dissuadir a mobilização do povo palestino e forçá-lo a aceitar uma “trégua sem preço”.

Contudo, a resistência conseguiu expandir seu “círculo de fogo” para incluir alvos estratégicos em Tel Aviv, de modo que a equação de fato mudou.

Forças israelenses deliberadamente atingiram torres e prédios residenciais, deslocaram residentes palestinos e causaram devastação na infraestrutura de distribuição de água e energia elétrica do território sitiado. Tudo isso consiste em crime de guerra e lesa-humanidade, segundo a lei internacional.

Por meio dessa política, que recai dentro do quadro de atos de retaliação proscritos internacionalmente, Israel pretende aterrorizar e intimidar civis pacíficos, além de incitar confrontos violentos para manufaturar crises humanitárias que possam eventualmente ser utilizadas como vantagem de guerra contra a resistência.

A última rodada de bombardeios começou quando forças israelenses intensificaram suas agressões contra os nativos e residentes palestinos de Jerusalém ocupada — sobretudo no bairro de Sheikh Jarrah e na Mesquita de Al-Aqsa. Tensões então varreram toda a região, incluindo Gaza, Cisjordânia e o território considerado Israel. A resistência reagiu.

Israel quer agora garantir que a resistência palestina jamais o faça novamente.

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