Médicos egípcios protestaram nas redes sociais contra um anúncio recente do Ministério da Saúde sobre intenções do governo de responsabilizar profissionais do setor supostamente culpados por “mortes de pacientes com coronavírus e atrasos no tratamento”.
Osama Abdel Hay, secretário-geral do Sindicato dos Médicos do Egito, descreveu a decisão como “ideia errada, pois pressupõe que o médico foi quem causou o atraso na internação”, de modo que os profissionais de saúde concedem tratamento “sem discriminação”.
Um assessor do Ministério da Saúde recentemente disse que investigações serão abertas para averiguar responsabilidade em “atrasos na admissão de pacientes com covid-19 às unidades de terapia intensiva [UTIs] ou pacientes mortos dentro de 24 horas da internação”.
Não obstante, médicos em certas regiões do país advertem que pacientes com coronavírus são forçados a retornar para a casa por falta de leitos de terapia intensiva.
A superlotação dos hospitais tem o efeito adverso de aumentar as taxas de contágio e óbito. Outro fator é a falta de campanhas informativas sobre medidas de prevenção.
Desde o início da pandemia, médicos egípcios denunciam problemas graves no sistema de saúde do Egito, que demanda reforma urgente e carece de remédios e itens essenciais, inclusive equipamentos de proteção individual (EPIs).
A indignação agravou-se após o regime egípcio manter assistência médica a estados aliados, à medida que profissionais de saúde no país têm de comprar suas próprias máscaras.
Ao longo da pandemia, médicos egípcios sofreram campanhas de prisão e assédio por parte do regime do presidente e general Abdel Fattah el-Sisi, como forma de silenciar alertas sobre a subnotificação dos casos e os riscos iminentes da crise de covid-19.
Em maio, mais de 500 médicos faleceram do coronavírus no Egito, de modo que a proporção nacional de óbitos no setor de saúde é seis vezes maior que nos Estados Unidos.
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