Israel vivencia o ápice de um duradouro drama político, à medida que torna-se iminente a possibilidade do fim da hegemonia de Benjamin Netanyahu como primeiro-ministro, segundo informações divulgadas neste domingo (30) pela agência Reuters.
Após quatro eleições parlamentares inconclusivas em apenas dois anos, um prazo de 28 dias para o líder da oposição Yair Lapid compor um novo governo expira na quarta-feira (2).
Relatos da imprensa sugerem que Lapid está próximo de reunir uma coalizão e encerrar os doze anos de governo de Netanyahu. Suas chances de sucesso repousam, em grande parte, em uma aliança com Naftali Bennet, político de extrema-direita cujo partido Yamina detém seis assentos no Knesset (parlamento israelense).
Espera-se que Bennett, de 49 anos, anuncie em breve sua decisão sobre coligar-se com Lapid, que lidera o partido de centro-direita Yesh Atid.
Contudo, o próprio Bennett tem ainda de convencer seus próprios parlamentares ultraconservadores, para que apoiem um “governo de mudança”, que reúne facções da esquerda, centro e direita sionista.
Pouco acima da maioria parlamentar necessária para formar um governo — após as eleições de 23 de março resultarem em impasse —, uma coligação tão diversa seria ainda frágil e demandaria apoio de legisladores árabes, cuja política difere bastante do Yamina.
Bennett preferiu o silêncio nos últimos dias, mas Netanyahu — chefe do partido governista Likud — alimentou especulações ao tuitar um vídeo na sexta-feira (28), no qual alertou para a possibilidade de um governo “esquerdista” tomar o poder.
Na noite de sábado (29), o partido Yamina anunciou que Bennett pretende reunir-se com seus correligionários ainda hoje, após surgirem rumores de que concordou em assumir o cargo de premiê incumbente para repassá-lo posteriormente a Lapid.
Não obstante, o ex-ministro da defesa Naftali Bennett já voltou atrás antes sobre depor Netanyahu, de 71 anos, líder da direita ultranacionalista que permanece no poder em Israel desde 2009 e enfrenta atualmente um julgamento por corrupção.
Antes da ofensiva israelense contra a Faixa de Gaza, lançada em 10 de maio, relatos sugeriam que Lapid e Bennett haviam concluído um acordo político. Entretanto, após os ataques, o líder de extrema-direita alegou abandonar esforços para compor uma coalizão ampla.
Embora o cessar-fogo se mantenha, desde 21 de maio, uma onda recente de violência tomou as ruas de Israel entre cidadãos palestinos e extremistas judeus, de modo que a parceria entre Lapid e Bennett — ambos sionistas convictos — voltou ao jogo.
Comentaristas políticos israelenses, porém, insistem que nada está certo.
“O governo de mudança anti-Netanyahu ainda não é fato consumado”, escreveu Yossi Verter, colunista político do jornal israelense Haaretz, neste domingo.
“É prematuro estourar o champanhe, tampouco é cedo demais para vestir luto”, prosseguiu, ao questionar se os legisladores do Yamina serão capazes de resistir à pressão da direita israelense contra um acordo de frente ampla com Lapid.
Caso Lapid não consiga compor um governo até quarta-feira, Israel deve passar por sua quinta eleição desde abril de 2019 — prospecto que Bennett alega preferir evitar.
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