A aliança com o apartheid sionista segue a derramar sangue palestino sob ocupação e negro nas favelas brasileiras. A mais nova vítima do genocídio no Brasil é a jovem Kathlen Romeu, grávida de quatro meses. Ela foi assassinada no último dia 8 de junho com tiro na cabeça disparado de um “caveirão” em operação policial no Complexo do Lins, na zona norte do Rio de Janeiro.
A tropa de caveirões inclui blindados israelenses desde 2013, ao que o governo fluminense investiu milhões de reais. Os carros da morte são pintados de branco e trazem a ideia de “pacificação”. Um escárnio. Quando entram nas favelas, o resultado é destruição e terror. Realidade que os palestinos conhecem bem.
Blindados israelenses integram também o aparato da repressão em São Paulo, desde 2015, que no estado recebem o nome de “guardiões”, decorrentes de compra milionária do governo. Um deles integrou operação policial na favela de Heliópolis na última semana, que matou o jovem Bruno Silva Pereira, no dia 3.
Essas não são as únicas armas testadas sobre os palestinos nas mãos do aparato de repressão nos dois locais. Nem Rio de Janeiro e São Paulo são exceção na aliança da morte com o sionismo. Em maio, o governo do Amazonas colocou nas mãos de suas polícias seis metralhadoras israelenses Negev, que disparam até 700 tiros por minuto a uma distância de mil metros, que vão ampliar o extermínio indígena na região.
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As tecnologias são as mesmas, assim como técnicas e treinamentos. Também se assemelha a desumanização para a limpeza étnica na Palestina e o genocídio do povo pobre e negro no Brasil, a partir da construção de ideologias.
O massacre de palestinos é sempre vendido ao mundo como resultado de “guerra” ou “conflito” em que a colonização israelense está se defendendo, versão mentirosa que o oligopólio da mídia de massa, nas mãos de grandes capitalistas, dissemina amplamente. É o que se viu mais uma vez durante a recente ofensiva em Gaza, em maio último, quando foram mortos em 11 dias de bombardeios criminosos 256 palestinos, entre os quais 63 crianças. Na resistência contra a limpeza étnica a partir de Jerusalém, outros 31 palestinos foram assassinados na Cisjordânia.
A distorção da verdade é ainda a regra nos assassinatos em operações policiais – que no Rio de Janeiro o Supremo Tribunal Federal (STF) mandou suspender durante a pandemia e, no entanto, já superam 820 mortes no período. A cada sangue derramado no genocídio pobre e negro, os meios de comunicação de massa repetem a ladainha de que é consequência de “confronto entre criminosos e agentes do Estado”. Nas notícias em geral, o assassinato de Kathlen é justificado como “bala perdida” – o que é refutado corretamente pelo movimento negro e de favelas, segundo o qual os disparos têm destino certo: corpos negros e pobres. A mesma mídia não titubeou em afirmar que a morte de Bruno em Heliópolis se deu após “troca de tiros”, quando na verdade ele foi executado enquanto dormia em sua casa invadida pela polícia, como denunciou a Rede contra o Genocídio.
Segundo revela um morador, essas ações não são pontuais ou isoladas, mas parte do dia a dia nas favelas. Guardadas as diferenças, assim também acontece na Nakba (catástrofe palestina) contínua. No entanto, o inferno cotidiano é invisibilizado pelos meios de comunicação de massa. Palestinos e favelados não se veem nos jornais e na TV.
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A partir das mídias independentes e sociais, amplificar as vozes silenciadas das favelas e dos palestinos é parte da resistência dos oprimidos e explorados. Essas narrativas devem vir acompanhadas da exigência de embargo militar a Israel, fundamental na luta pelo direito à vida. Como parte dessa campanha, urge fortalecer a mobilização por “Caveirão não”.
Mobilização
O chamado por embargo militar a Israel é feito desde 2011 pelo movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções). Exige pôr fim a toda forma de cooperação militar com a ocupação, o que engloba pressionar governos para que rompam acordos.
A campanha tem explicitado que as tecnologias testadas em palestinos – convertidos por Israel em “cobaias humanas” – servem depois ao genocídio pobre, negro e indígena, repressão e criminalização dos oprimidos e explorados. Sangue derramado pelas mãos de agentes do Estado sustenta a ocupação – já que 70% das tecnologias militares desenvolvidas pelo Estado sionista destinam-se à exportação.
O site da campanha na América Latina informa que “o embargo busca frear todas as relações de comércio militar que Israel mantém com o mundo, tornando difícil a aquisição ou venda que serve à violação de direitos humanos do povo palestino”. A ação no Brasil é central, já que o país lamentavelmente se tornou na última década um dos cinco maiores importadores de tecnologia militar israelense.
No mundo, o embargo se fortalece ao ritmo da campanha de BDS e ganha aliados importantes, como portuários que têm se recusado a carregar armas sionistas – além do exemplo na Itália em maio último, ação afim ocorreu em Oakland, Califórnia, na semana passada.
Na contramão disso, contudo, no Brasil se ampliam essas relações criminosas. Na última semana a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa da Câmara dos Deputados deu mais um passo nessa direção, ao aprovar parecer favorável ao acordo de cooperação militar assinado pelo genocida Bolsonaro em março de 2019. É preciso fortalecer a mobilização para barrar sua aprovação nas comissões subsequentes naquela Casa e pressionar pelo fim das alianças de morte também entre os governos estaduais e Israel. A luta antirracista é inseparável da resistência à colonização sionista, assim como contra o sistema capitalista.
Ciente disso, em 2017, o movimento negro e de favelas lançou a campanha “Caveirão não! Favelas pela vida e contra as operações!”, que traz em seu bojo a reivindicação de embargo militar a Israel. Em seu manifesto, apontava que de 1997 até aquele ano 16 mil pessoas haviam sido assassinadas pelas forças do Estado nas favelas fluminenses, a maioria negras, moradoras de favelas e periferias. Número que tragicamente não para de crescer.
É preciso dar um basta. Exigir justiça para Kathlen Romeu, Bruno e tantos outros que tiveram suas vidas interrompidas violentamente pelas mãos do Estado no Brasil. Assim como para os jovens palestinos Said Odeh, Rashid Abu Arreh – ambos com apenas 16 anos de idade – e incontáveis outros assassinados na limpeza étnica sionista. Não mais lágrimas de mães e familiares de vítimas, no Brasil e na Palestina. Embargo militar a Israel já.
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