Uma ONG francesa com laços estreitos com a extrema-direita e as forças armadas do país provou ainda mais que financiou diretamente uma milícia pró-Assad na Síria, acusada de cometer numerosos crimes de guerra, de acordo com uma investigação da revista Newlines, sediada em Washington.
A grande quantidade de evidências coletadas pela investigação – que inclui documentos vazados, um rastro de dinheiro e testemunhos confidenciais de denunciantes – mostra que a ONG chamada SOS Chrétiens d’Orient (SOSCO) conduziu e continua a conduzir esforços de arrecadação de fundos para as milícias pró-Assad desde 2014.
De acordo com o relatório, centenas de milhares de euros foram enviados anualmente pela SOSCO à Síria, que contornou as sanções internacionais ao regime transitando o dinheiro através de instituições financeiras intermediárias situadas no Iraque e no Líbano, onde a ONG também tem escritórios.
Enquanto coletava fundos na França de doadores desconhecidos, que supostamente acreditavam estar doando para projetos como hospitais na Síria, o dinheiro ia de fato para a famigerada milícia cristã conhecida como Forças de Defesa Nacional (NDF), que opera em coordenação com o regime.
Nessa sombria campanha de financiamento, a SOSCO teria doado cerca de 46 mil euros (56 mil dólares) em dinheiro a Simon Al-Wakil, comandante da milícia com sede na cidade predominantemente cristã de Mhardeh, na província de Hama.
A Dra. Samira Mobaied, que atua como vice-presidente da Syrian Christians for Peace, disse à revista: “Seguimos o dinheiro para um hospital, por exemplo, para o qual a SOSCO alegou estar arrecadando dinheiro na França, apenas para descobrir que muito pouco dinheiro ou equipamento foram recebidos”.
A ONG foi bem sucedida em manter suas campanhas e suporte, ela acrescentou, porque “A narrativa política era que Assad protegia minorias, e esta era uma narrativa forte”.
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Essa percepção foi propagada há muito tempo pelo regime e seus apoiadores, e conseguiu ganhar sua legitimidade entre alguns partidos do Ocidente. Seus críticos, entretanto, sustentam que o regime e seus serviços de inteligência não excluem os cristãos da prisão, detenção e tortura que são realizadas regularmente.
Comandantes de milícias como Al-Wakil também foram acusados de cometer numerosos crimes de guerra durante toda a década de conflito em curso na Síria.
Esta não é a primeira vez que a SOSCO foi implicada em controvérsia política, pois foi considerada como parte de uma rede de grupos supremacistas brancos de extrema-direita que operam na Europa e na França em particular.
Isso foi comprovado em abril quando a representante dos EUA e presidente do Comitê de Segurança Nacional da Casa Elissa Slotkin, que escreveu uma carta ao Secretário de Estado Antony Blinken pedindo para designar a SOSCO como um dos grupos supremacistas brancos violentos no exterior que correspondem “aos critérios necessários como Organizações Terroristas Estrangeiras”.
Enquanto isso, até o ano passado, a ONG foi designada pelo Ministério da Defesa da França como um “parceiro”. Sendo a única organização que trabalhou no Oriente Médio com esse status de 2015 a 2020, ela operava no mesmo nível de importância que as empresas de defesa de alta tecnologia antes de ser removida sem razão clara.
Embora organizações como a Mediapart e a Bellingcat no ano passado tentassem provar ainda mais a relação da SOSCO com as milícias, não havia provas suficientes para fazê-lo e ela não podia ser processada sob a lei francesa. Com esta última investigação, no entanto, a trilha documentada do dinheiro aparentemente atende ao limiar da legislação francesa de delitos passíveis de processo judicial.
O advogado de direitos humanos Laurence Greig, sediado em Paris, disse à revista: “A ligação financeira é fundamental. É a ‘arma fumegante’, a prova que liga a SOSCO ao dinheiro dado à milícia”. Ele destacou que “começariam por apresentar a queixa em juízo contra a SOSCO. A milícia síria pode ser processada à revelia. Temos o suficiente para abrir uma investigação contra eles”.