Tornar-se Palestina

Ela nasceu no país das Cordilheiras, em um lugar onde a geografia  quase árida, as frutas como o damasco,  o frio invernal e o sonho de  pessoas lembram o cenário da terra de seus ancestrais, a Palestina.

Sim, o Chile  possui a maior  comunidade palestina fora do  Oriente Médio, em torno de  500 mil pessoas (cerca de 3% dos dos  habitantes do país) são filhos ou netos de palestinos, é a escritora  Lina Maruane é um deles.Lina cresceu ouvindo as histórias das avós de toda a  comunidade, mulheres cristãs e muçulmanas, nascidas  sobretudo em Belém, Beit Jala e Beit Sahour, e que enriqueceram a cultura e a história chilena  com sua culinária, suas vozes, sua sabedoria milenar, seus bordados e suas mãos incansáveis.  Lina cresceu ouvindo histórias de lutas, injustiças, sonhos e refúgio que se transformaram em  histórias de muito trabalho, união e vitórias palestinas do outro lado do mundo.

Assim como seu avô, muitos  amigos dele chegaram ao Chile trazendo apenas uma pequena mala e  o sonho de poder viver em paz e construir uma nova trajetória, ajudando  a desenvolver o país que os acolhia.

 

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 Muitos palestinos se instalaram em  Valparaíso, no centro do país, e Talca, também na região central e  em povoados da Patagônia. Como tantos imigrantes e refugiados árabes acolhidos na América do Sul, assim como meus avós sírio- libaneses que um dia partiram do navio de Beirute e chegaram ao Brasil, os palestinos no Chile começaram a trabalhar muito e a prosperar como vendedores de lençóis e cobertores de  porta em porta.

Lina Meruane cresceu nessa atmosfera, entre a Palestina da memória afetiva familiar e a   Santiago que se tornara parte de quem ela era.

O avô imigrara  para o Chile depois de ouvir de outros palestinos histórias  sobre um vale mágico nas Cordilheiras dos Andes, parecido geograficamente com  Palestina, e onde poderia trabalhar, ver os filhos crescerem e ter sonhos.

No livro, Lina Meruane refaz o longo caminho percorrido pelo avô e reflete sobre o sentido duplo da palavra “volver”,  que pode significar tanto ” retornar” quanto ” tornar- se” em espanhol.

Lina Meruane nos leva à Palestina de seu avô, a conhecer a linda Beit Jala e a entender como a Palestina é parte  fundamental de sua identidade como mulher e escritora chilena.O livro traz à luz a sua memória familiar, a revelação de sua  identidade palestina, ao mesmo tempo em que reflete sobre o conflito israelo-palestino. Ela descreve a dor e as perdas trazidas pelo conflito a partir do que considera “o grande paradoxo de Israel”:  uma comunidade que sofreu por séculos com a ausência  de uma terra segura para viver, de um lugar para  viver sem medo, mas hoje  submete um povo ao mesmo sofrimento desumano,  tornando os palestinos hoje a maior comunidade de refugiados do mundo.

No livro “Tornar- se Palestina”, Lina Meruane  reflete sobre as perdas, os sonhos e a dor de milhões de refugiados palestinos ao longo de décadas de ” Nakba” e nos leva a sonhar com uma solução humana  para uma dor imensa, que já dura mais de 70 anos.

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