‘A pista não conhece gênero’, afirma primeira mulher árabe a competir na Nascar

Embora existam e ocupem seu espaço, mulheres pilotos nas competições de corrida ao redor do mundo ainda são raras. Trata-se de um fato lamentável, observa Toni Breidinger, que rompeu as barreiras tradicionais de um esporte dominado pelos homens.

“Minha primeira reação em descobrir que sou a primeira piloto árabe-americana a concorrer na Associação Nacional para Corridas de Stock Car (Nascar) foi honestamente decepção”, comentou Breidinger. “Essa oportunidade deveria estar lá para alguém ainda antes de mim”.

Em fevereiro, a piloto de origem libanesa, de 21 anos, fez história ao competir no circuito internacional de Daytona. Chegou em 18° lugar entre 33 veículos, à frente de outras duas mulheres que também participaram da corrida.

O mercado de automobilismo esportivo nos Estados Unidos mudou bastante nos últimos anos, com uma onda de pilotos mulheres que tomaram as pistas pela primeira vez. Há hoje dez mulheres — entre 150 homens — concorrendo nas diversas categorias da Nascar.

Breidinger cresceu em Hillsborough, Califórnia, e descobriu a emoção das corridas aos nove anos de idade, quando foi levada à pista de kart de Sonoma por seu pai — engenheiro mecânico e entusiasta do esporte. Desde então, foi encorajada a seguir carreira por amigos e família.

“Quando eu tinha nove anos, meu pai levou eu e minha irmã para correr de kart, só por diversão, mas eu me apaixonei desde o primeiro dia”, relatou a piloto. “Eu queria voltar sempre e o kart se tornou grande parte da minha vida e então viajamos por todo o país. Foi uma experiência maravilhosa que de fato construiu minha paixão pelo automobilismo”.

 

Quando começou a correr competitivamente, seu pai logo tornou-se chefe da sua equipe. Após três corridas na categoria ARCA, Breidinger obteve sua melhor classificação até então, ao terminar em décimo lugar no circuito internacional de Madison, em 2018. Depois disso, venceu dezenove corridas organizadas pelo Auto Clube dos Estados Unidos (USAC), recorde conquistado por uma mulher.

Breidinger é parte do programa de diversidade da Nascar, iniciativa para criar um ambiente mais inclusivo, que abriu caminho para outras mulheres, como Brehanna Daniels — primeira mulher negra a exercer um papel crucial na categoria, como mecânica no pit stop.

O objetivo de Breidinger é chegar ao topo. Ela quer participar da competição principal da Nascar, ao superar barreiras de gênero ainda mais árduas em um esporte tradicionalmente masculino.

“Falta diversidade no esporte”, reiterou Breidinger. “A Nascar ainda é uma categoria dominada por homens brancos, então penso que é interessante para as pessoas ver um rosto novo, alguém fora da regra avançando na classificação”.

Apesar dos avanços recentes, há muito a se fazer: “Há cada vez mais mulheres chegando em nosso esporte. Não apenas pilotos, mas também na equipe de pit stop, engenheiras e mecânicas. É emocionante ver tantas mulheres durante as corridas e precisamos ver mais”.

Breidinger está ciente que, para meninas que assistem as corridas na televisão, sua presença pode incitar uma fagulha em seus sonhos e sua imaginação. “Há espaço para todas: matemáticas, engenheiras, mecânicas de corrida; mesmo a competição, o atletismo”.

LEIA: Conheça a presidente do clube de futebol da Turquia com lenço na cabeça

No entanto, a jovem piloto insiste que a pista de corrida não conhece gênero ou cor da pele. Uma vez de capacete, ela e seus adversários são pilotos e nada mais.

“Eu me destaquei fora das pistas como uma mulher cercada por homens”, prosseguiu. “Mas a pista não conhece gênero, o carro não conhece gênero; então o gênero não é relevante”.

Não obstante, é tratada diferente. “Todo fim de semana de corrida, eu recebo algum tipo de comentário ou sou tratada de alguma forma estranha por alguém, mas é algo que costumo ignorar porque sei o que tenho de fazer e sei que sou piloto como todos os outros. Então nunca deixo me afetar”.

O apoio financeiro é crucial para o sucesso, de modo que qualquer atenção que os corredores recebem é potencialmente benéfica em termos de atrair patrocinadores e investidores. No passado, Breidinger participou de uma série de campanhas publicitárias para marcas como Tory Burch, Head & Shoulder e Skims, lançada pela celebridade Kim Kardashian. A piloto também apareceu em revistas e programas de televisão.

Na última de suas parcerias, Breidinger colabora agora com a empresa Huda Beauty, fundada por Huda Kattan, magnata iraquiano-americana da indústria dos cosméticos. Trata-se de uma iniciativa para promover a representação cultural e o empoderamento feminino.

“Ter o selo Huda Beauty em meu carro é algo que jamais esquecerei”, enfatizou Breidinger. “É uma pioneira em romper barreiras pelo empoderamento feminino. Eu costumava assistir os vídeos de Huda no YouTube quando era adolescente, tentava imitá-la e me maquiar como ela”.

Breidinger obteve grandes conquistas em sua ainda recente carreira, ao preservar sua determinação e coragem. Tais atributos a ajudaram a manter a cabeça erguida para defender a participação das mulheres no automobilismo. Ela também luta por sua autoconfiança fora das pistas, uma dificuldade que sempre enfrentou.

“Aprendi que a melhor maneira de confiar em mim mesma é fazer o que tenho medo de fazer. Algumas vezes, somos nossos piores inimigos, seja por causa do medo, da ansiedade ou de ambos. Não importa se o seu sonho é correr ou fazer algo diferente do padrão, seja confiante em si mesma e conheça seu potencial”, aconselhou a esportista.

Breidinger mal pode esperar para que mais e mais mulheres juntem-se a ela nessa jornada. À medida que avança em sua história, espera que novas companheiras apareçam ao seu lado. “É ótimo ser a primeira, mas não posso ser a última. Tenho esperanças de abrir caminho a outras mulheres”. Esta é a carreira de Toni Breidinger até então; não tenho dúvidas de que terá sucesso.

LEIA: Sonhadores palestinos talentosos desafiam o pesadelo da ocupação de Israel

Sair da versão mobile