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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Agonia e resistência de Lifta

Um patrimônio histórico e antropológico palestino ameaçado de destruição
Faixada das casas de Lifta [Foto Lina Bakr]

Lifta é uma tradicional aldeia palestina construída na encosta de uma colina a noroeste de  Jerusalém e que não foi completamente destruída após a expulsão dos palestinos que ali viviam. Os residentes da aldeia foram obrigados a abandonar seus lares, levando consigo apenas as chaves de casa, as quais ainda hoje guardam carinhosamente, porém foram proibidos de retornar.

Atualmente, é a única aldeia palestina dentro dos territórios ocupados por Israel  que não foi povoada por colonos israelenses e que mantém casas palestinas pré- nakba, construídas com pedras que resistem ao tempo e a toda violência israelense. As ameaças de destruição de Lifta são constantes. Há décadas, palestinos tentam barrar em tribunais israelenses e com campanhas internacionais a demolição das casas de pedras que se tornaram verdadeiras jóias arquitetônicas e centro antropológico de memória palestina.

Em 2012, após intensa campanha, o plano de construção de casas de luxo para colonos foi adiada.

Em 2018 Israel declarou a aldeia palestina como reserva natural. Houve muitos protestos de sionistas contrários e, neste mesmo ano, o Fundo Mundial de Monumentos nomeou Lifta como um dos 25 locais em perigo de extinção. Embora exista uma grande pressão para que Israel devolva as terras de Lifta aos palestinos, que hoje são refugiados, a Autoridade de Terras de Israel (ILA, na sigla usual em inglês), órgão governamental encarregado da gestão de terras públicas, anunciou em maio deste ano a  abertura de licitações para construção de casas luxuosas, um hotel 5 estrelas e  uma sinagoga para colonos que, provavelmente, virão de outras partes do mundo.

Lifta faz parte do plano de limpeza étnica iniciada antes mesmo da autodeclaração do Estado sionista de Israel, caso também de Sheikh Jarrah, Silwan e diversas cidades da Cisjordânia, como Nablus e Al Khalil (Hebron).

Desde o anúncio da licitação para o povoamento de colonos, os palestinos e solidários à causa   palestina intensificaram a campanha por Lifta, assim como #SaveSheikhJarrah, e agora também #SaveLifta. Um grande protesto foi feito por moradores originários de Lifta que, em suas ruínas, cantaram a memória palestina, fizeram  piquenique, reafirmando a identidade do local.

Protesto realizado no dia 18 de maio de 2021 em Lifta por palestinos e apoiadores da causa palestina

Lifta remete a uma questão importante da causa palestina, o direito ao retorno.  Proprietários palestinos pedem que devolvam suas terras; eles existem, seus ancestrais e o direito ao retorno é assegurado pela ONU. Israel segue violando esse direito, assim como tantos outros e ainda assim segue impune.

Lifta da pré-Nakba

De acordo com o historiador palestino  Walid Khalidi, “…  a população de Lifta era predominantemente muçulmana, seus residentes cristãos foram estimados em 20 de um total de 2.550 na década de 1940.  A vila tinha uma mesquita, um  santuário para Shaykh Badr (um sábio local) e algumas lojas em seu centro.  Tinha também uma escola primária para meninos e meninas que foi fundada em 1945. Existiam, além disso, duas casas de cafés e um  clube social.  A aldeia era, na verdade, um subúrbio da cidade de Jerusalém e seus laços econômicos com a cidade eram fortes.  Os fazendeiros de Lifta comercializavam seus produtos em Jerusalém e aproveitavam os serviços da cidade.  A água que bebiam era retirada de uma nascente em Wadi al Shami.”

Lifta também era conhecida pelos lindos bordados feitos pelas mulheres e pela abundante plantação de grãos, vegetais, oliveiras e variadas frutas. 

Antes mesmo da Nakba de 1948, a Palestina já era saqueada por terroristas sionistas, que invadiam as aldeias de agricultores, queimando suas plantações, matando e expulsando o povo originário daquela terra, que hoje é conhecida como Israel. As gangues sionistas mais conhecidas daquele período eram: grupos paramilitares Irgun, Lehi, Haganah e Bando Sterm  que mais tarde, juntas, dariam origem às Forças Armadas de Israel e seus respectivos integrantes se tornaram primeiros- ministros de Israel.

A expulsão dos habitantes de Lifta começou em 1947, quando terroristas da Haganah invadiram o vilarejo, onde primeiro mataram um comerciante, depois entraram em um café e atiraram em todos que estavam ali presentes pacificamente. Segundo o historiador palestino  Arif Al Arif, isso ocorreu em 28 de dezembro de 1947 e foram assassinados seis clientes e outros sete ficaram gravemente feridos.

Meses após este violento ataque, moradores de Lifta presenciaram, na aldeia vizinha, o massacre de Deir Yassin, no qual cerca de 250 pessoas foram brutalmente assassinadas por milícias judaicas. Assustados, os palestinos  de Lifta deixaram suas casas, levando consigo apenas a chave com o propósito de voltar assim que a violência diminuísse, mas isso nunca mais foi possível. Israel confiscou suas terras e proibiu seus moradores de retornar aos seus lares.

Mais do que ruínas e lembranças, Lifta representa a presença, força e resistência do povo palestino que nunca  esquecerá de suas origens e sempre terá a chave do retorno em seu coração e mente, independente do local em  que esteja. David Ben Gurion, o  Primeiro Ministro israelense de 1948 e   e também um dos arquitetos  da Nakba palestina, errou grandiosamente ao afirmar que “ os velhos morrerão e os jovens esquecerão…” . De fato, os velhos morrerão, mas os jovens jamais esquecerão, e a história até hoje já indica que isso nunca acontecerá.

LEIA: Israel está falsificando a história palestina e roubando seu patrimônio cultural

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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Palestina: quatro mil anos de história
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