Integrantes do Monitor do Oriente Médio (MEMO), Ahmad Alzoubi e Hani Aldrsani, foram recebidos na terça-feira (22) pelo ex-senador e ex-governador do Rio Grande do Sul, Pedro Simon e sua esposa, Ivete, na residência do casal na cidade gaúcha de Xangri-lá.
Presenteado com publicações da MEMO Editora no Brasil, sobre aspectos históricos da luta palestina, o senador retribuiu a gentileza com suas obras sobre questões do Estado e da política brasileira, como o livro “Sobre o Brasil que queremos”, em que mostra uma ferrenha atuação contra a corrupção e a impunidade e defende um Estado forte com inclusão social.
Aos 91 anos e com uma visão abrangente sobre a história recente do Brasil, o veterano Pedro Simon é um político experiente que passou pela oposição à ditadura, a coordenação da Campanha Nacional pelas Diretas Já, a CPI que resultou no impeachment de Fernando Collor e, posteriormente, à CPI do Mensalão, e conhece portanto os altos e baixos da política brasileira, desde a resistência ao golpe militar de 1964 ao período democrático iniciado com a Constituição de 1988 e suas turbulências recentes.
Pedro Simon militava na Juventude do PTB gaúcho (seu primeiro partido) na época da aprovação pela ONU, sob a presidência do brasileiro Oswaldo Aranha,em 1947, da criação do Estado de Israel. Anos depois, como senador, pronunciou-se em defesa do cumprimento da prometida solução da ONU de um Estado para o povo palestino, independente do Estado de Israel e pedindo ação internacional para por fim à violência da ocupação. O povo palestino já havia se levantado por duas vezes nas intifadas de 1987 e 2000. Em 2002, os Estados Unidos, sob o governo Bush pareciam condicionar qualquer apoio à Palestina, à própria saída de Arafat, então confinado em seu escritório, na cidade de Ramala, na Cisjordânia cercado por tropas israelenses.
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Católico, o senador mostrou sua indignação no pronunciamento.
feito em 4 de abril daquele ano: “Pela primeira, a Igreja da Natividade, em Belém, berço de Jesus Cristo, está sendo ameaçada de bombardeio. Então, o presidente George Bush aqui também está tendo uma atitude que me parece absurda. Ao se omitir, Bush deixa a impressão de que aguarda primeiro a destruição da Autoridade Palestina por Israel para ver depois o que fazer. É algo que choca realmente.” Em 2004, ele voltaria a se pronunciar, lamentando a morte de Arafat: “Eu gostava dele”, diz hoje ao visitantes do MEMO, tentando lembrar o tempo em que o líder da Autoridade Palestina, OLP e Fatah e co-detentor do Nobel da Paz. ficou preso em seu gabinete. Foi mais de um mês, durante a violenta operação israelense chamada “muro protetor”, de 2002.
Hoje retirado da política institucional, mas insatisfeito com a situação brasileira, ele continua sendo uma voz importante e de referência sobre os rumos do país. A causa palestina é, para ele, uma questão de direito internacional.
“A Palestina é um povo que existe, tem terra, tem história e tem direito de viver como um povo livre. A ONU, ele recorda, fez uma composição em que os dois seriam Estados independentes, o que ele considera uma solução adequada mas que acabou inviabilizada na prática: “Os israelitas do mundo todo foram para a Palestina e os palestinos foram espalhados por toda região.” Com isso, lamenta o senador, um Estado se viabilizou e o outro não.
Filho de imigrantes libaneses, Simon Pedro é sensível à situação dos palestinos que vivem até hoje refugiados na terra de seus pais. Ele afirma que os povos árabes anseiam por liberdade e democracia como todos os povos do mundo. E como todos, “o povo palestino merece ser livre e ter seu próprio Estado livre”.
Pedro Simon recebeu do MEMO a obra de Nur Masalla, “A expulsão dos palestinos – O conceito de ‘transferência’ no pensamento político sionista (1882-1948)”, lançado em parceria com a Editora Sundermann e o Fórum Latino-Palestino. O historiador mostra a retirada continuada do povo palestino desde antes da Nakba – a expulsão violenta para instalação do Estado de Israel. Outra publicação entregue ao ex-senador é o novo lançamento da MEMO Editora, “Fatos Fundamentais Sobre a Questão Palestina”, do professor Mohsen Mohammad Saleh, que resume em tópicos as passagens da história palestina, sua ocupação progressiva e o processo de acordos internacionais envolvendo o direitos ao Estado Palestino.
“A decisão da ONU lá atrás é a que tem que ser feita”, afirma, lamentando que o processo tenha sido mutilado e deixado pela metade. Ele também confia que seja possível chegar a uma solução “harmoniosa” entre os povos, por considerar que o Brasil seja uma demonstração importante de que é possível a boa convivência entre árabes e judeus, citando a proximidade existente entre os filhos desses imigrantes em Porto Alegre e São Paulo, por exemplo. “Eu acho que vamos chegar lá, mais cedo ou mais tarde”, diz ele. Mas ao mesmo tempo lamenta as “declarações infelizes” do atual presidente, Jair Bolsonaro, em sua política externa. “Ele fala e depois tem que recuar. Foi o que ele fez em relação a Israel. Assim como fez com a China (em relação à pandemia de coronavírus). Recuou e o ministro foi afastado.”
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