O governo americano de Joe Biden sugeriu não reconhecer a soberania israelense sobre as colinas de Golã, território ocupado pertencente à Síria, em franco contraponto à política de seu predecessor Donald Trump, considerado “duro golpe” ao estado sionista.
A região ao sul do território sírio foi expropriada por Israel em 1967, mas a soberania da potência ocupante jamais foi reconhecida internacionalmente.
A conquista territorial e a anexação via agressão bélica é proibida pela lei internacional.
Entretanto, o ex-presidente americano Donald Trump — visto por muitos como o mais sionista dos líderes de Washington — reconheceu a soberania da ocupação sobre Golã, em 2019.
Sob o entusiasmo do anúncio da então gestão republicana dos Estados Unidos, o ex-premiê israelense Benjamin Netanyahu nomeou um assentamento ilegal na região como “Colinas Trump”, em homenagem ao controverso magnata e líder da extrema-direita.
O reconhecimento da soberania de Israel sobre Golã foi apenas parte de uma série de medidas tomadas pela gestão Trump em flagrante violação do consenso internacional — incluindo o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel e anuência à anexação ilegal de terras.
Apenas no primeiro ano do governo dos Estados Unidos de Donald Trump, Israel aumentou em 17% a construção de assentamentos ilegais na Cisjordânia ocupada
Até o momento, o governo Biden evitava comentar diretamente sua posição sobre Golã.
Em fevereiro, contudo, o Secretário de Estado Antony Blinken levantou a questão, ao indicar que seu departamento mantinha a decisão da antiga administração. Na ocasião, argumentou apenas que Golã “prevalece de real importância à segurança israelense”.
Não obstante, o status formal sobre a ocupação em Golã permaneceu vago.
Em resposta ao website conservador Washington Free Beacon sobre a matéria, um oficial do Departamento de Estado alegou que o território não pertence a ninguém e que o controle poderia ser transferido conforme a dinâmica da região.
“O secretário deixou claro que, como questão prática, Golã é muito importante à segurança israelense”, afirmou o oficial. “Enquanto Bashar al-Assad mantiver o poder na Síria … milícias ligadas ao Irã e o próprio regime representam ameaça substancial a Israel”.
Analistas observaram, porém, que reconhecer o controle de Israel como “questão prática” é muito distante de assumir uma política formal como estabelecida por Trump.
Os comentários incitaram controvérsia, considerados por muitos como recuo político.
O ex-Secretário de Estado Mike Pompeo, protagonista nos avanços coloniais sobre Golã, acusou Biden de prejudicar a segurança israelense. Nesta conjuntura, políticos republicanos querem transformar em lei a política de Trump sobre o território ocupado.
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