Detalhes do trauma psicológico imposto a crianças palestinas pela violenta campanha israelense de demolição de casas foram revelados por um novo estudo da proeminente organização internacional Save the Children.
As vítimas demonstram alto grau de pânico, ansiedade e depressão, reiterou a ong.
O estudo divulgado nesta segunda-feira (28) revelou que quatro entre cinco crianças nos territórios ocupados — Cisjordânia e Jerusalém Oriental —, cujos lares foram demolidos pela ocupação, sentem-se “abandonadas” pelo restante do mundo.
A publicação do relatório coincide com a ameaça de despejo arbitrário enfrentada por residentes e nativos palestinos nos bairros de Sheikh Jarrah e Silwan, em Jerusalém ocupada, à espera de uma decisão final da Suprema Corte de Israel.
A Corte Distrital de Jerusalém deve analisar a expulsão de quatro famílias palestinas de Sheikh Jarrah em 2 de agosto, segundo as últimas informações sobre o caso.
O risco de deslocamento forçado das famílias palestinas incitou indignação global e culminou na brutal ofensiva israelense contra a Faixa de Gaza, em meados de maio. Ao menos 250 palestinos foram mortos no território sitiado, incluindo 66 crianças.
A decisão da corte foi então postergada e há chance de novo adiamento.
As quatro famílias são parte de um grupo de mais de quinhentas pessoas — equivalente a 28 famílias — que enfrentam a ameaça de despejo do bairro palestino.
O relatório foi intitulado “Hope under the rubble: the impact of Israel’s home demolition policy on Palestinian children and their families” — isto é, “Esperança sob os escombros: o impacto da política de demolição de casas sobre as crianças palestinas e suas famílias”.
Para conduzir o estudo, a organização Save the Children consultou 217 famílias palestinas por toda a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, cujas casas foram demolidas pelas autoridades da ocupação israelense nos últimos dez anos.
Segundo a pesquisa, 80% das crianças demonstraram perda de confiança não apenas na comunidade internacional, mas também nas autoridades nacionais e mesmo na capacidade de seus pais em ajudá-las e protegê-las.
O sentimento preponderante é impotência e falta de perspectiva de futuro.
“Continuamos nos mudando para encontrar onde viver”, declarou um menino de 14 anos de idade às equipes da ong humanitária. “Isso me deixa louco, porque sinto que não importa onde eu vou, eles vão me achar e vão destruir minha vida”.
“Tudo que tenho são lembranças tristes. Lembro dos soldados e seus cães atacando meu pai”, relatou outro entrevistado de 15 anos de idade. “Tenho pesadelos com tratores arrancando as pedras da nossa casa, o som das explosões ainda me assustam”.
A Save the Children destaca que a maioria das crianças consultadas manifestaram graves sinais de estresse, depressão, pânico e ansiedade. Pesadelos são frequentes, além do sentimento de despertencimento e medo constante.
O estudo observou ainda que 80% das famílias reportaram grave impacto financeiro pela demolição de suas casas. Mais de um quarto dos provedores perderam seu emprego devido à expropriação e deslocamento.
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A crise é agravada pelo aumento no custo de vida, mas pouquíssimas famílias recebem qualquer indenização ou assistência para reconstruir suas vidas.
O trauma psicológico imposto por Israel aos adultos também é aterrador.
O relatório descobriu que a maioria dos pais e responsáveis (76%) expressam sensação de impotência, incapazes de proteger suas crianças dos avanços coloniais. Segundo a pesquisa, 75% sentem vergonha e 35% sentem-se distantes de seus filhos.
Jason Lee, diretor regional da Save the Children, comentou: “Tais descobertas chocantes deveriam servir de alerta à comunidade internacional — crianças e suas famílias sentem-se massacradas e impotentes”.
“Desde 1967, as autoridades israelenses demoliram 28 mil casas palestinas”, prosseguiu. “Cada demolição expulsou de suas terras todo um lar, ao esmagar os sonhos e esperanças de seis mil crianças e suas famílias apenas nos últimos doze anos”.
Lee exortou a comunidade internacional a responsabilizar Israel por suas violações e advertiu que casas e escolas continuarão a ser demolidas pela ocupação a menos que haja consequências por seus crimes, conforme prescrito pela lei internacional.