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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Nizar Banat: o fim de um homem corajoso

Protesto palestino contra a morte de Nizar Banat em Gaza, 24 de junho de 2021 [Mohammed Asad/Monitor do Oriente Médio]

Há apenas poucos dias, o povo palestino acordava para uma nova tragédia que chocou e destruiu nossos corações. Uma tragédia que permanecerá um estigma na história palestina, pois não foi causada pela ocupação, nem pelo sionismo, nem pela América e pelos países ocidentais, mas sim pelos nossos povos, aqueles que deveriam compartilhar conosco nossas preocupações nacionais, a migalha do pão e a dignidade da nação. Acordamos com a notícia do assassinato de um proeminente ativista e filósofo palestino, o Nizar Banat, de uma forma tão hedionda e brutal.

Nizar Banat foi um humilde carpinteiro palestino em sua quarta década, sua única preocupação era viver com dignidade em seu país e no país de seus pais e avós, ele buscava um futuro melhor para sua família e seu povo, ele lutou por uma Palestina livre do rio até o mar, Palestina sem colonialismo e ocupação; também lutou por um mundo árabe sem fronteiras, guerra e ódio. Nizar Banat é um exemplo de como deveria ser o palestino, seu único crime é ter buscado a verdade e exposto os registros de corrupção de um bando da Autoridade Palestina que causara devastação na terra e no mar.

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A luta era para acontecer em Bab al-Amud, em Gaza, em Beita, deveria ser em Sheikh Jarrah, em Silwan, nos velhos becos de Jerusalém, em cada bairro e rua de nossa pátria saqueada. Mas fomos surpreendidos por uma luta com a forma de um crime hediondo por parte das forças de segurança palestinas contra um ativista político palestino para silenciá-lo. Basta imaginar esta cena sádica: às três horas da manhã, vinte e sete agentes de segurança explodiram as portas e janelas; invadiram a casa, enquanto todos dormiam, chegaram ao local de dormir da vítima e o espancaram em todas as partes do corpo com bastões e varas de ferro sem piedade; pulverizaram três latas de gás pimenta em seu rosto, tiraram-lhe a roupa, arrastaram-no pelo chão e o colocaram na viatura, tudo na frente de sua esposa e filhos pequenos, pouco depois de ter sido declarado morto.

Protesto palestino contra a morte de Nizar Banat em Gaza, 24 de junho de 2021 [Mohammed Asad/Monitor do Oriente Médio]

Por que a Autoridade Palestina – que, aliás, é ilegítima – assassinou um palestino apenas por ser um ativista político? A missão desta autoridade não deveria ser proteger os palestinos? proteger sua terra, sua liberdade, suas crenças e defender seus direitos? Para responder a essa pergunta precisamos voltar ao início do estabelecimento desta autoridade e porque o poder ocupante permitiu que ela fosse estabelecida. O principal objetivo de seu estabelecimento foi abortar a primeira Intifada Palestina (1987-1993), na qual os palestinos puderam, com seus sacrifícios, liderar novamente a cena mundial, da mesma forma como a potência ocupante criou o Estado Livre do Líbano sob a liderança de Antoine Lahad para servir ao ocupante, dividir o Líbano e perseguir e assassinar os militantes. Assim como o governo de Vichy na França, designado pelos nazistas para servir aos seus interesses na Segunda Guerra Mundial. Concluímos que “qualquer governo que esteja sob ocupação é necessariamente um agente desta ocupação e sua principal função é servir ao lado ocupante, perseguir os militantes e a resistência, além do saque, corrupção, nepotismo e abuso de poder”, Edward Said acertou quando descreveu esta autoridade como uma “Autoridade Vichy Palestina”; a base de sua existência é servir aos ocupantes e se não fosse assim, a ocupação não teria permitido que ela existisse.

O que aconteceu desde a chegada da AP e, especificamente, depois dos defeituosos e malfadados Acordos de Oslo (1993)?  O assentamento dobrou dezenas de vezes, eles colocaram os militantes e a resistência em prisões da ocupação e da AP, além de terem liquidado muitos deles. Eles aumentaram suas declarações bancárias, construíram grandes palácios, adquiriram carros de luxo, roubaram as capacidades do povo palestino, a corrupção se espalhou em nossas instituições e na sociedade. Trabalharam para arruinar a unidade nacional, que sempre foi uma fonte de nossa força e firmeza, e para romper a união nacional e o credo palestino, impeliram milhares de palestinos instruídos e diplomados a emigrar, gerações que sonhavam com um lugar em uma pátria para todos, uma nação baseada na justiça, na igualdade e na distribuição justa de oportunidades, papéis e direitos. Essa autoridade era (e ainda é) um fardo sobre nossos ombros, e o Estado da Palestina não existirá antes de derrubá-la com tudo o que ela trouxe; hoje o povo palestino está em uma encruzilhada e sua decisão será fatal. Ou nos revoltamos contra esta autoridade para nos livrarmos dela e de tudo o que ela trouxe, ou nos satisfazemos com a vida sob uma ditadura policial.

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Nizar Banat morreu, aquele que sempre falou a verdade, com a palavra livre sem medo ou hipocrisia, o corajoso homem com o coração aberto que só queria expor todos os corruptos e ladrões. Dezenas de milhares de pessoas que o amavam e acreditavam em sua abordagem despedem-se dele, cada cidade, aldeia, acampamento e rua despedem-se dele. Ele morreu deixando cinco crianças pequenas, mas morreu sem sucumbir, sem temer ou ceder, ele morreu como o herói da escritora síria Hanna Mina em seu famoso romance “O Fim de um Homem Corajoso”. Certamente a morte de Nizar Banat mudará muitas coisas, a situação não será mais a mesma; a mobilização do povo e a tomada das ruas para derrubar essa autoridade e exigir seus direitos nacionais é uma prova disso.

Por que a Autoridade Palestina matou Nizar Banat? [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

Por que a Autoridade Palestina matou Nizar Banat? [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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