Adultos nas áreas mais pobres da Inglaterra têm quase quatro vezes mais chances de morrer de coronavírus do que nas comunidades mais ricas, revelou dados compilados ao longo de nove meses pela Fundação Health sobre os impactos da pandemia no país.
O inquérito descobriu que o Reino Unido vivenciou maior mortalidade e maior desigualdade quando comparado a outros países na região. Entre os efeitos da crise decorrente do covid-19, está o risco desproporcional vivenciado pelas classes mais baixas.
Adultos entre 50 e 69 anos em 10% dos bairros mais pobres são muito mais sujeitos ao óbito por coronavírus, sobretudo pois são duas vezes mais propícios a doenças pré-existentes ou crônicas, como diabetes ou problemas pulmonares.
Condições precárias de habitação e a tendência a exercer trabalhos que impedem o distanciamento social, como indústria e serviços, também têm impacto.
Nos bairros mais ricos, a possibilidade de trabalhar de casa (home office) e outros privilégios estruturais garantiram menos risco e melhor acesso à saúde durante a pandemia.
LEIA: Gaza aumenta nível de preparação para variante covid da Índia
O covid-19, segundo a pesquisa, expôs desigualdades cultivadas no país desde o colapso financeiro de 2008, sobretudo com a redução drástica em iniciativas de investimento público e medidas de austeridade impostas pelos sucessivos governos.
“A queda na expectativa de vida reflete a erosão das condições sociais no país, na década anterior à pandemia, afetando certos grupos com maior gravidade”, reiterou a pesquisa.
Sob o impacto da pandemia, prosseguiu o relatório, as desigualdades sociais “expuseram o Reino Unido a uma maior taxa de mortalidade e reduziram a capacidade da população de enfrentar o subsequente choque econômico”.
Embora focado nas diferenças gerais entre as classes na Inglaterra, o inquérito revela outro problema: minorias étnicas e a população islâmica também são mais afetadas.
Segundo o mapa compilado pela fundação, as áreas mais pobres — portanto, mais atingidas — são localizadas nos subúrbios do sul, áreas centrais e norte da Inglaterra, com maior presença demográfica de minorias étnicas e religiosas.
Conforme estudo publicado em 2015, cerca de metade dos muçulmanos britânicos residem em 10% dos distritos mais pobres do país.
Clare Moriarty, diretora da pesquisa, reivindicou “mecanismos de recuperação em torno de uma resiliência socioeconômica, não apenas restrita a áreas geográficas em desvantagem, mas também a grupos que vivenciaram os maiores impactos da pandemia”.
LEIA: Egito reporta 14.9% mais mortes na primeira metade de 2021