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Relembrando a vida de Margarida e as suas marchas

Marcha das Margaridas de 2019 [Pillar Pedreira/Agência Senado]

O quê: Assassinato de Margarida Alves

Onde:  Alagoa Grande

Quando: 12 de agosto de 1983

Em 12 de agosto de 1983, a líder sindical do campo, Margarida Maria Alves, estava em casa,  em Alagoa Grande, na Paraíba, acompanhada do marido, enquanto o filho pequeno, de 8 anos, brincava na calçada. Um homem bateu à porta e ela atendeu. “É a dona Margarida?”, o desconhecido perguntou.  Ela disse: sim. E então levou um tiro no rosto, disparado de uma arma de calibre 12. O visitante era um pistoleiro contratado por fazendeiros na região.

Quem foi Margarida

Margarida Maria Alves

A paraibana Margarida Maria Alves  foi a primeira mulher a ocupar a presidência do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande e uma das primeiras a exercer um cargo de direção sindical no Brasil. Ela atuou no cargo durante doze anos, reconhecida por sua coragem em lutar, em um mundo dominado por grandes usineiros e muita violência no campo, pelos direitos dos trabalhadores rurais a terem a carteira de trabalho assinada, férias, 13º salário e jornada de trabalho de 8 horas diárias.

Irmã caçula de oito irmãos, Margarida cresceu no Sítio Jacu, zona rural de Alagoa Grande até os 22 anos de idade, quando a família foi expulsa da terra por grandes latifundiários e mudou-se para a periferia de Paraíba (PB). Com pouco estudo e decidida a lutar pelas famílias do campo, foi eleita para o sindicato em 1973, aos 40 anos.

Sua atuação à frente da entidade foi intensa  em organização dos trabalhadores, ações jurídicas por direitos trabalhistas, e luta pela educação das crianças e adultos. Ela criou um programa de alfabetização para os trabalhadores inspirado na pedagogia de Paulo Freire.

O que aconteceu antes

Ela vinha denunciando abusos e desrespeito aos direitos dos trabalhadores pelos usineiros da região  e vinha recebendo ameaças de morte por telefonemas e cartas,

No Dia do Trabalhador, em 1º de maio de 1983, Margarida Maria Alves denunciou que vinha recebendo ameaças de morte e disse sua frase mais famosa: ‘Da luta não fujo. É melhor morrer na luta do que morrer de fome’.

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No sindicato, ela moveu mais de 100 ações trabalhistas contra grandes proprietários de terras e, principalmente, com os usineiros de açúcar, donos da Usina Tanques. Segundo dados no Ministério Público, no ano de 1983, Margarida estava movendo cerca de 72 processos na Justiça do Trabalho contra fazendeiros e usineiros.

Marcha das Margaridas 2015 [Mídia Ninja]

 O que aconteceu depois

O crime nunca foi solucionado, nem houve justiça, apesar de muitos acusados e da grande repercussão do caso, que chegou a ser denunciado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Dois anos depois de sua morte, o Ministério Público denunciou três pessoas que poderiam estar associadas ao crime: Antônio Carlos Regis, visto como um ponto focal dos fazendeiros da região e os irmãos Amauri e Amaro José do Rego, que teriam sido, de fato, os executores. Em 1988, três anos após a denúncia realizada pelo Ministério Público, Antônio Carlos Regis foi absolvido por falta de provas.

Em 1995, o Ministério Público denunciou os fazendeiros Aguinaldo Veloso Borges, Zito Buarque, Betâneo Carneiro e Edgar Paes de Araújo pelo assassinato da líder sindical. Dos quatro suspeitos, apenas um foi levado a julgamento. Edgar Paes de Araújo foi assassinado em 1986,  Aguinaldo Veloso Borges morreu em 1990, Betâneo Carneiro foi beneficiado pela prescrição penal e excluído do processo penal em 1997, seu paradeiro permanece desconhecido e Zito Buarque permaneceu preso por apenas três meses, mas em 18 de junho de 2001, foi julgado e absolvido pelo Tribunal do Júri da Comarca de João Pessoa.

A homenagem e a Marcha das Margaridas

Margarida tornou-se um símbolo da luta por direitos das mulheres e dos trabalhadores rurais, contra a violência no campo, pela reforma agrária, pelo fim do trabalho infantil e da exploração dos agricultores.

No ano 2000, foi realizada a primeira Marcha das Margaridas, exigindo direito e respeito pelas trabalhadoras rurais e a luta no campo. Organizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), a marcha se repete todos os anos, nas proximidades do aniversário da morte de Margarida Alves e se tornou uma das maiores manifestações coletivas  das mulheres da América Latina.

A pequena casa de Margarida e sua família foi comprada pela Prefeitura Municipal de Alagoa Grande e virou museu em 26 de agosto de 2001. A fachada leva a frase que simbolizou sua vida e luta: “Da luta não fujo. É melhor morrer na luta do que morrer de fome.” Uma placa indica: “Aqui foi assassinada em 12-08-1983 a líder sindical Margarida Maria Alves”. Dentro da casa, em letras grandes e pretas, a frase se repete: “Da luta eu não fujo”.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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