Suhail Shaheen, porta-voz do Talibã, afirmou que o movimento “aguarda ansiosamente” para trabalhar com a Turquia, em entrevista exclusiva concedida à televisão turca, segundo informações da agência Anadolu.
Shaheen reiterou o desejo do movimento de manter relações entre Ancara e Cabul: “É algo positivo que um país irmão permaneça ao nosso lado. Queremos instituir boas relações com a Turquia, ser próximos, cooperar e apoiá-la”.
Sobre os últimos acontecimentos no Afeganistão, uma fonte turca reportou que o governo do presidente Recep Tayyip Erdogan engajou-se no diálogo, ao enfatizar críticas à política dos Estados Unidos sobre o processo de retirada das forças militares.
A fonte insistiu ao jornal Hurriyet que Washington decepcionou amigos e aliados, após o presidente americano Joe Biden implementar a decisão de seu antecessor Donald Trump sem qualquer consulta ou planejamento; cedendo, portanto, o país ao Talibã.
O jornal turco relatou que Ancara conduz uma série de conversas com diversas partes e decidiu não deixar o Afeganistão tão rápido quanto forças aliadas, sobretudo Estados Unidos, de modo que não há qualquer demanda afegã neste sentido.
Segundo o Hurriyet, o mais importante agora é como o Talibã formará o novo governo, em particular para evitar um forte isolamento internacional como ocorreu no passado. Neste contexto, é preciso gerir relações regionais, argumentou a reportagem.
Há dúvidas ainda sobre o futuro do Conselho de Coordenação, que inclui o presidente do Conselho de Reconciliação Nacional, Abdullah Abdullah, e o ex-líder mujahideen Gulbuddin Hekmatyar, instituído para conduzir negociações com o Talibã.
Segundo uma fonte oficial em Ancara, dois dias antes do grupo islâmico capturar Cabul, ambos disseram ao então presidente afegão Ashraf Ghani para deixar o país, a fim de evitar uma potencial escalada de tensões.
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A fonte destacou que o regime turco prefere aguardar a conclusão do processo político antes de assumir decisões definitivas. Não obstante, mantém contato com a ala política do Talibã através do Catar e com a ala militar através do Paquistão.
De acordo com as informações, um diálogo direto também é realizado nos bastidores via serviços de inteligência.
Ancara possui investimentos em solo afegão por meio da Agência de Cooperação e Coordenação da Turquia (TIKA), além de diversas escolas instaladas no país.
Segundo relatos, o regime turco deseja um Afeganistão estável e teme que uma guerra civil possa atrair movimentos terroristas à região, com impacto danoso à Turquia, sobretudo com o aumento de requerentes de asilo.
O Talibã tenta estabelecer contato com a comunidade internacional e debate a presença de forças turcas no Aeroporto Internacional de Cabul, conforme o Hurriyet.
Como membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) — coalizão que manteve uma ocupação em solo afegão por duas décadas, sob liderança dos Estados Unidos —, a Turquia alega que mantém tropas no aeroporto para promover a estabilidade.
Apesar da fuga ou tentativa de fuga em massa do país, muitos diplomatas permanecem na capital afegã. Sua presença deve impactar a natureza do novo regime islâmico e determinar o futuro das relações entre Talibã e outros governos.
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