Há uma grande diferença na linguagem utilizada pela Human Rights Watch (HRW) em seu relatório de abril de 2017 que descreve Israel como tendo cometido crimes de apartheid, e seus relatórios mais recentes de julho e agosto sobre Gaza, que lançam dúvidas sobre se Israel cometeu crimes de guerra em suas ofensivas contra o enclave. Os dois últimos relatórios enfatizam que Israel “aparentemente” cometeu crimes de guerra em Gaza em maio deste ano, transformando assim crimes reais em possibilidades.
Entre suas ações agressivas contra os palestinos em Gaza, Israel destruiu quatro estruturas de arranha-céus que abrigavam escritórios e famílias, violando assim o direito humanitário internacional que só permite o direcionamento de objetivos militares. O governo israelense alegou que o Hamas utilizou as estruturas para suas armas, mas nenhuma evidência foi produzida. A HRW também declarou que não encontrou “nenhuma evidência de que membros de grupos palestinos envolvidos em operações militares tivessem uma presença atual ou de longo prazo em qualquer uma das torres no momento em que foram atacados”.
Os ataques de Israel aos arranha-céus perpetuaram mais um ciclo de deslocamento forçado de palestinos no enclave, pondo em questão também a proporcionalidade de seu ataque. A explosão e a destruição também danificaram casas vizinhas; em alguns casos, isso significou sua completa destruição.
LEIA: A ONU está apenas ‘profundamente preocupada’ em proteger Israel
Se provas visíveis – e o que pode ser mais visível do que um bloco de torres residenciais completamente destruído? – indica que um crime de guerra foi cometido, por que a HRW promove indiretamente a narrativa israelense de “autodefesa”, acrescentando “aparentemente” a seus relatórios detalhados?
Em contraste, os foguetes do Hamas disparados contra Israel não receberam o benefício da dúvida, mesmo que a resistência contra a ocupação militar seja legítima no direito internacional. “Lançar tais foguetes para atacar áreas civis é um crime de guerra”, afirma um relatório no início deste mês. Os ataques de precisão de Israel são muito mais propensos a destruir edifícios civis e, portanto, equivalem a crimes de guerra, dados os edifícios arrasados e o impacto sobre os blocos vizinhos, e ainda assim a HRW insiste em contribuir para a impunidade israelense.
A medida faz lembrar como a ONU normalizou os crimes de guerra de Israel em nível internacional, dando assim ao Estado do apartheid a oportunidade de testar até onde pode ir ao violar o direito internacional para se adequar à sua agenda colonial. Uma grande falha da ONU é sua recusa em considerar as violações de Israel de uma perspectiva colonial, seguida pela noção errônea de equivalência entre o colonizador e o colonizado.
Até agora, apenas o Tribunal Penal Internacional (TPI) chamou claramente a atenção para os crimes de guerra de Israel. A ONU não seguiu o exemplo e apoiou as investigações preliminares do TPI, criando assim uma dissonância na comunidade internacional, que Israel é capaz de explorar através de seu lobby dos líderes globais e sua politização das investigações.
Já é uma falsa justiça que as organizações de direitos humanos tenham que confiar em organizações corruptas como a ONU para divulgar suas conclusões. No entanto, se relatórios como a recente publicação da HRW aplicam o mesmo discurso que a ONU usa rotineiramente para promover a impunidade de Israel, que papel as organizações de direitos humanos estão cumprindo? Promover a narrativa da ONU quando se trata de direitos humanos invade qualquer possibilidade de justiça para o povo palestino, cujas vidas foram destruídas em Gaza com base em reivindicações infundadas feitas por Israel.
ASSISTA: Palestino atira contra soldado israelense através da cerca de Gaza
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.