Reino Unido é acusado de abandonar cidadãos binacionais no Afeganistão

Pessoas aguardam o embarque em um avião de transporte militar no aeroporto internacional de Cabul, Afeganistão, 17 de agosto de 2021 [STR/AFP via Getty Images]

Advogados e ativistas denunciaram ao jornal The Guardian que cidadãos britânicos de origem afegã ainda não foram evacuados de Cabul, após a captura da cidade pelo grupo Talibã.

Segundo os relatos, cerca de 50 cidadãos binacionais entregaram seus passaportes britânicos no aeroporto da capital afegã, mas foram discriminados no processo de evacuação.

Recentemente, o Secretário de Relações Exteriores Dominic Raab alegou que quase todos os cidadãos de nacionalidade única que queriam deixar o país já retornaram ao Reino Unido.

“Cidadãos mononacionais britânicos  — com a documentação em mãos —, que em maioria desejavam deixar o país, já regressaram para casa”, afirmou Raab.

Afegãos aguardam no Aeroporto Internacional Hamid Karzai para tentar deixar a capital Cabul, após tomada do grupo Talibã, em 21 de agosto de 2021 [Sayed Khodaiberdi Sadat/Agência Anadolu]

Colin Yeo, advogado especialista em imigração, exortou Raab a retrair-se do uso discriminatório do termo “mononacional” e reiterou que não há base na legislação britânica para distinguir cidadãos do país, independente de uma segunda nacionalidade.

Sabir Zazai, diretor executivo do Conselho de Refugiados da Escócia, enfatizou que a maneira como tais cidadãos binacionais são tratados equivale a discriminação.

“Há um paralelo com Windrush”, afirmou Zazai em referência ao escândalo no qual cidadãos britânicos, na maioria de origem caribenha, foram detidos e ameaçados de deportação.

“Caso houvesse homens, mulheres e crianças brancas entre as multidões, sendo empurrados de um lado para o outro, seríamos bastante rápidos em tirá-los com segurança”, observou.

“O Reino Unido tem o dever de tratar todos os seus cidadãos com absoluta igualdade. Contudo, no que se refere à presente situação aterradora, tais pessoas — que possuem cidadania britânica — são tratadas com enorme distinção”, acrescentou.

“Entendo que a equipe [da Secretaria de Relações Exteriores] esteja trabalhando duro no Reino Unido e em Cabul … mas este é um fracasso oriundo da falta de preparação do governo britânico. A vida dessas pessoas está em risco”, concluiu Zazai.

A firma de advocacia Duncan Lewis Solicitors também enfatizou o efeito discriminatório imposto aos indivíduos que aguardam em Cabul: “Cidadãos britânicos devem ser tratados com igualdade, com a mesma urgência, mesmo que sejam também cidadãos afegãos”.

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