Primeira atleta mulher da Equipe Paralímpica de Refugiados faz sua estreia hoje nos Jogos de Tóquio

Após o nadador sírio Ibrahim Al Hussein dar as braçadas iniciais da Equipe Paralímpica de Refugiados nos Jogos Tóquio 2020, os próximos atletas refugiados a disputar as competições são a síria Alia Issa, o afegão Abbas Karimi e o iraniano Shahrad Nasajpour. Competindo pelo amerremesso de taco, natação e lançamento de disco, respectivamente, os atletas competem pela Bandeira Paralímpica, uma parceria da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) com o Comitê Paralimpico Internacional (IPC, em inglês).

A jovem Alia, de 20 anos, é a primeira mulher a integrar a Equipe Paralímpica de Refugiados. Após superar a discriminação, o bullying e diversas reviravoltas, Alia representa agora a “delagação mais corajosa do mundo”, segundo as palavras do jogador canadense Alphonso Davies enviada à Equipe em uma carta.

O pai da atleta, Mohament Issa, deixou a Síria e chegou à Grécia em 1996 em busca de proteção para sua família. Ele viveu por quatro anos sozinho, trabalhando como alfaiate, até somar os recursos necessários para buscar sua esposa e seus quatro filhos.

Quando tinha quatro anos, a vida de Alia mudou repentinamente. Ela contraiu varíola e foi hospitalizada. Com a febre alta, ela teve danos cerebrais, o que a deixou em uma cadeira de rodas, com necessidade de suporte e mesmo dificuldade para falar. Quando passou a frequentar a escola, ela ela se sentia excluída, mas esse sentimento nunca a impediu de continuar os estudos.

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Aos 16 anos, Alia sofreu um grande golpe, quando seu pai foi diagnosticado com câncer e morreu pouco tempo depois. A família, que tinha se mudado para a Noruega em busca de tratamente para Mohament, retornou à Grécia e decidiram permanecer no país com o status de refugiados, devido à situação na Síria,

As coisas mudaram quando ela entrou em uma escola no ensino médio voltada para alunos com deficiência. Na nova escola, a atleta conheceu Michalis Nikopoulos, que a levou para um centro esportivo para pessoas com deficiência. Após testar algumas modalidades, a jovem conheceu – há apenas dois anos – o arremesso de taco. Essa é uma modalidade específica das Paralimpíadas para atletas que não têm uma forte o suficiente para segurar um dardo ou praticar o arremesso de peso. Os atletas seguram um taco que parece um pino de boliche, sentam-se em uma cadeira de rodas ou plataforma e têm como objetivo lançar o taco o mais distante possível.

Em maio de 2021, Alia participou do Grande Prêmio Mundial de Para-Atletismo em Nottwil (Suíça) e estabeleceu seu recorde pessoal com 16,40 metros. As conquistas esportivas da atleta a colocaram em evidência na Grécia e surgiu um convite para ela falar com o primeiro-ministro grego, por meio de uma videoconferência.

“O esporte me deu independência. Agora, faço parte de uma nova comunidade, fazendo novos amigos com objetivos semelhantes”, afirma Alia.

Outro atleta que inicia suas disputas nos Jogos de Tóquio hoje é Abbas Karimi. Ele cresceu no Afeganistão, onde também enfrentou a discriminação por causa de sua deficiência. Ele começou a praticar kickboxing ainda criança, o que o ajudou a se proteger e a canalizar suas emoções. Mas, foi quando ele pulou em uma piscina pela primeira vez que percebeu que nadar era sua verdadeira vocação. Ele foi campeão já em sua primeira competição nacional em seu país de origem.

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Em 2013, Abbas foi forçado a deixar o Afeganistão. Depois de uma longa e árdua jornada, ele chegou à Turquia, onde passou quatro anos como refugiado antes de ser reassentado em Portland (EUA) pelo ACNUR em 2016. Desde então, o atleta ganhou oito medalhas, incluindo prata no Campeonado Mundial de Para-Natação da Cidade do México em 2017. Atualmente, ele vive e treina em Fort Lauderdale, na Flórida, onde treinou muito para Tóquio 2020 com o desejo de levar esperança e inspiração para milhões de pessoas deslocadas ao redor do mundo.

“Acredito que tenho potencial para chegar ao pódio nas Paralimpíada de Tóquio e acredito que seja importante para todos os refugiados – e para o nosso legado – que um dos atletas da Equipe Paralímpica de refugiados chegue ao pódio. Isso pode gerar mudanças para os refugiados e inspirar e trazer esperança”, afirma Abbas.

Desde maio deste ano, Abbas se tornou apoiador de alto nível do ACNUR, dedicando parte de seu tempo para promover a causa dos refugiados, em especial dos cerca de 12 milhões de pessoas em deslocamento forçado que vivem com alguma deficiência.

Outro atleta membro da Equipe Paralímpica de Refugiados é o iraniano Shahrad Nasajpour, que já competiu pelo time nos Jogos Paralímpicos Rio 2016. Shahrad sempre foi apaixonado por esportes. Como nasceu com paralisia cerebral, o que o deixou com algumas limitações de mobilidade do lado esquerdo, ele começou a jogar tênis de mesa. Quando alguém sugeriu que ele deveria conhecer o atletismo e o arremesso, a princípio, ele não se convenceu.“Isso não era algo que eu realmente amava no início, mas cresceu em mim”, relembra.

Shahrad acabou buscando proteção internacional em uma pequena cidade localizada no estado de Nova York (EUA), onde conheceu algumas pessoas ​​na Universidade de Buffalo que o ajudaram a treinar.

Em Tóquio, o atleta espera enviar uma mensagem especial para as 80 milhões de pessoas deslocadas de forma forçada em todo o mundo. “Seja resiliente em tempos difíceis. Você vai ouvir muitos não’s com frequência, mas não tome esse não como uma resposta. Tente encontrar maneiras diferentes de chegar a seus objetivos e, eventualmente, você pode chegar onde deseja.”

Publicado originalmente em Acnur

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