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Salvando a diplomacia de dois Estados e o autoritarismo da Autoridade Palestina

31 de agosto de 2021, às 16h32

Um homem palestino segura uma foto do presidente palestino, Mahmoud Abbas, durante um protesto em Gaza, em 20 de agosto de 2020 [Ashraf Amra/ApaImages]

A reunião entre o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, e o ministro da Defesa israelense, Benny Gantz, irritou autoridades israelenses e palestinas. Os israelenses sugeriram que Gantz pode estar tentando derrubar o governo, enquanto facções palestinas denunciaram a reunião porque Gantz tweetou mais tarde: “O presidente Abbas afirma que Israel busca tomar medidas que fortaleçam a economia da AP”.

Claramente, os problemas da AP motivaram essa reunião durante a qual, de acordo com o Ministério da Defesa do estado de ocupação, Gantz e Abbas se reuniram “para discutir questões de segurança, civis e econômicas”. A revelação da AP após o assassinato extrajudicial de Nizar Banat alterou a percepção da política palestina e seu status corrupto e aparentemente invencível resultante da diplomacia internacional. O povo da Palestina ocupada provou que é capaz de mudar, então os interlocutores de todo o espectro político estão se unindo para garantir que a vontade do povo não se concretize.

Por que a AP matou Nizar Banat? [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

O encontro de Gantz com Abbas aconteceu após a visita do primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, a Washington para se encontrar com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Este último prometeu o apoio usual para a narrativa de segurança de Israel e falou sobre o avanço da “paz, segurança e prosperidade para israelenses e palestinos”.

Em ambas as reuniões, a mensagem foi unânime: o status quo na política palestina deve ser preservado para evitar que quaisquer desenvolvimentos tornem a diplomacia de dois Estados ainda mais extinta do que sua implementação inexistente. É nesse contexto, com o qual os EUA também estão preocupados, que as concessões feitas por Gantz à AP devem ser avaliadas.

Essas concessões incluem um empréstimo de US$ 155,6 milhões para a AP; direitos de residência concedidos a palestinos na Cisjordânia ocupada também serão concedidos a palestinos em Gaza e a estrangeiros casados ​​com palestinos residentes no território ocupado; 15.000 autorizações de trabalho serão emitidas para os palestinos trabalharem em Israel; 1.000 licenças de construção serão emitidas para os palestinos na Área C. Nas palavras de Gantz, “quanto mais forte for a Autoridade Palestina, mais fraco será o Hamas. E quanto maior for sua capacidade de governar, mais segurança teremos e menos faremos”.

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Bennett ainda não indicou nenhum interesse em reiniciar as negociações diplomáticas com a Autoridade Palestina em termos do compromisso de dois estados, mas a política de seu governo é o baluarte que sustenta Abbas e ajuda o “crescimento natural” de assentamentos de Israel. Esse é o último eufemismo para expansão colonial e anexação de fato da terra palestina. Em sua reunião com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, na semana passada, Bennett teria enfatizado que os Estados Unidos precisam “entender que a linha do primeiro-ministro é preservar a estabilidade, sem dar passos para mudar a realidade”.

Portanto, embora as concessões possam aliviar a realidade palestina, elas são justapostas a uma realidade mais dura de permitir a repressão da AP contra seu povo. Por trás da reunião entre Abbas e Gantz está a coordenação de segurança da AP com Israel. Quanto mais é benéfico para Israel a Autoridade Palestina e os EUA oferecerem concessões há muito devidas que, em última análise, não interferem no plano de Bennett de não entrar em negociações? A constatação de que a AP atingiu o fundo do poço só pode complementar a tendência de Israel para a violência e o autoritarismo de Abbas.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.