Na última semana, o Ministro da Defesa de Israel Benny Gantz visitou a cidade de Ramallah, na Cisjordânia ocupada, onde participou de duas reuniões com a liderança da Autoridade Palestina (AP), incluindo seu presidente Mahmoud Abbas. Os encontros provocaram reações acaloradas por todo o espectro político israelo-palestino.
Ao defendê-los, Gantz alegou “unicamente propósitos de segurança”. Seu gabinete insistiu que o ministro sugeriu a Abbas uma série de medidas de boa vontade, incluindo iniciativas para fortalecer a economia da Autoridade Palestina e sua cooperação de segurança.
“Foi uma reunião sobre segurança, na qual discutimos a cooperação de segurança e atividades conjuntas. Queremos fortalecer as forças moderadas na área”, afirmou o ministério. “Ambos debateram também como modelar a realidade econômica, civil e de segurança”, prosseguiu em referência à Cisjordânia ocupada e Faixa de Gaza sitiada.
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Israelenses desde a extrema-direita até mesmo progressistas acreditam que a Autoridade Palestina está à margem do colapso. Dessa forma, há certo consenso sobre lhe conceder apoio, pois qualquer alternativa jamais seria tão complacente a Israel como é a Autoridade Palestina. Devido à sua corrupção notoriamente generalizada — sobretudo após o assassinato em custódia do ativista político Nizar Banat —, a liderança palestina enfrenta agora críticas contumazes e pressão pública sem precedentes por sua renúncia.
Do lado oposto da cerca, o movimento de resistência palestino Hamas aumenta cada vez mais sua popularidade — não somente em Gaza, onde governa desde 2007, mas também na Cisjordânia ocupada, administrada pelo partido Fatah, que detém hegemonia na Autoridade Palestina. Não obstante, milhares de funcionários públicos são pagos pela AP — mesmo em Gaza. Os encontros de Gantz aparentemente foram avalizados pela coalizão de governo israelense, com o intuito de demonstrar apoio à Autoridade Palestina e evitar seu colapso.
Segundo o autor palestino Daoud Kuttab, Abbas e sua autoridade são “cúmplices em perpetuar o status quo de uma ocupação permanente”. Kuttab reiterou ainda que a popularidade de seu governo desabou após o “adiamento” — leia-se “cancelamento” — das eleições palestinas, em meados de maio, além do assassinato de Banat, no mês seguinte.
O escritor israelense Zvi Bar’el descreveu as “medidas de construção de confiança” promovidas por Gantz como “pacote vazio”, que nada oferece aos palestinos, mas busca obter todas as vantagens à ocupação israelense. Conforme suas observações, o socorro outorgado pelo ministro israelense à Autoridade Palestina nada fará para ajudar o governo de Abbas ou o povo palestino, de modo que é mentira de Gantz prometer o contrário. Toda a movimentação, segundo Bar’el, trata-se da segurança de Israel — não do povo palestino, muito menos dos sofrimentos que lhes são impostos.
De acordo com o Centro de Assuntos Públicos de Jerusalém, além do presidente palestino, apenas Majed Faraj e Hussein al-Sheikh encontraram-se com Gantz em Ramallah — representantes da cooperação de segurança e da cooperação civil com Israel, respectivamente. Se a economia e a vida dos palestinos de Gaza de fato estavam em pauta, porque então os ministros responsáveis não foram convocados?
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Al-Sheikh estava lá — não exatamente em nome da cooperação civil, mas para coordenar arranjos à sucessão de Abbas. A questão de quem substituirá o presidente octogenário esteve na agenda. A questão da reunificação das cinco mil famílias palestinas separadas pela ocupação supostamente também foi debatida — porém, provavelmente para dar a impressão de algum benefício ao povo palestino, dado que se trata de um tabu em Israel.
“Quem serão as famílias felizes a enfim conquistar reunificação e status de residência?”, perguntou Bar’el. “As experiências prévias nos ensinaram muito bem que o processo é longo e exaustivo, o critério é incerto e as decisões são arbitrárias, sob decisão do serviço de segurança Shin Bet … Em todo caso, Israel não cederá seu controle absoluto da demografia palestina nos territórios em questão”.
O interesse israelense em fortalecer a cooperação de segurança com a Autoridade Palestina serve apenas para para asseverar pleno controle sobre seus 70 mil oficiais de segurança — sim, 70 mil soldados —, que reprimem violentamente a resistência palestina à ocupação, mas nada fazem para melhorar a vida do povo palestino. Caso Israel realmente estivesse disposto a ajudar, por exemplo, poderia revogar sua dedução imposta aos recursos tributários coletados em nome da Autoridade Palestina.
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Ainda além, caso Israel realmente estivesse interessado em ajudar os palestinos, cancelaria seus planos para despejar residentes dos bairros palestinos de Khan al-Ahmar, Sheikh Jarrah e outros, ao invés de meramente adiar as expulsões até que seu governo desfrute de maior estabilidade para arcar com tais avanços. Caso quisesse de fato propor “gestos de boa vontade” aos palestinos, deveria então impedir seus colonos e soldados de invadir a Mesquita de Al-Aqsa em plena luz do dia e casas palestinas, durante a madrugada.
De fato, há muitas coisas que poderiam mitigar o sofrimento palestino. Por exemplo: poderia dar fim à prisão de mulheres e crianças ou à “detenção administrativa”, isto é, encarceramento sem sequer acusação ou julgamento; poderia tratar os prisioneiros palestinos com o mínimo de preocupação com sua saúde e bem estar; e poderia deixar de incitar ataques coloniais cometidos diariamente por extremistas judeus a cidadãos e propriedades palestinas em Jerusalém, Cisjordânia ocupada e mesmo no território considerado Israel — isto é, ocupado durante a Nakba ou catástrofe, via limpeza étnica, em 1948. Israel poderia também abandonar seus planos de expansão ilegal de assentamentos exclusivamente judaicos e deixar os palestinos construírem suas casas em sua própria terra, além de encerrar sua ostensiva campanha de demolições.
Ao comentar sobre o aval israelense para que nativos palestinos construam cerca de mil unidades habitacionais na chamada Área C — sob pleno controle militar e administrativo da ocupação israelense —, Bar’el observou que as futuras residências “não são um presente, ao passo que Israel avança nas obras de ao menos 2.200 unidades habitacionais nos assentamentos ilegais”. Bar’el também destacou que o aumento no número de trabalhadores palestinos com permissão para entrar em Israel deve-se sobretudo à falta de mão de obra barata para a construção civil, ao invés de qualquer preocupação com os palestinos.
O “pacote vazio” dado aos palestinos pela ocupação israelense é “projetado para construir confiança com o governo de Joe Biden, em troca da suspensão de todo um processo diplomático, para que os Estados Unidos contenham a implementação de uma solução de dois estados”, concluiu o articulista israelense.
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