Nesta semana tivemos um exemplo bem prático e emblemático de como a resistência pode triunfar contra a mais bruta força, e de como o desequilíbrio gritante nas forças pode pender para o lado mais fraco quando houver uma ferrenha e inabalável força de vontade para resistir. Seis prisioneiros palestinos conseguiram heroicamente escapar de uma das penitenciárias israelenses mais bem protegidas e vigiadas. Numa saga digna dos mais sofisticados filmes e merecedora das atenções mais sinceras e devotas, os seis prisioneiros palestinos cavaram um túnel, meses e anos a fio, sem que as autoridades opressoras israelenses tivessem a mínima suspeita.
Estes intrépidos e nobres prisioneiros, que foram dignos de sua liberdade, conseguiram, com a sua heroica realização, dar um alento para todos aqueles que lutam por liberdade contra forças opressoras, mundo afora. O efeito e a influência de um simples ato de fuga de uma prisão política injusta ultrapassam o seu entorno imediato para servir de exemplo para muitos oprimidos no mundo todo, especialmente palestinos, árabes e muçulmanos que sofrem opressão de ditaduras locais e invasores externos.
O túnel através do qual os seis corajosos prisioneiros palestinos escaparam veio para mostrar, de uma forma direta e reta, que a luz no fim do túnel é possível de ser não somente vista, mas também alcançada. Não podemos isolar este heróico ato individual de todo o contexto de luta e resistência palestinos que vem ocorrendo há décadas contra um inimigo muito mais forte. O Davi contra Golias é ainda possível, mesmo em tempos de arsenais nucleares, químicos e biológicos, e mesmo com as forças militares mais poderosas. É a força da resistência palestina contra o regime sionista opressor e tirânico.
Ao contrário do que os normalizadores de relações com as forças usurpadoras, e ao contrário do que os defensores da capitulação tentam argumentar, há muita luz no final do túnel. Mas é preciso ter a fé para cavar, a persistência para resistir, a coragem para acreditar, a nobreza para não se abater e deixar-se subjugar. Justamente na mesma época em que alguns estados árabes constroem laços de amizade e normalização com o estado sionista, atos singelos e nobres, como o último ato heróico dos seis prisioneiros palestinos, vem ao mundo para mostrar que a luta contra a opressão ainda é o caminho, e que o caminho para a paz não se faz com a perpetuação das injustiças. Tu queres a paz enquanto estado imperial, opressor e praticante do terrorismo de estado? Então tens que desistir das suas práticas injustas e opressoras. Enquanto persistires com estas práticas, toda e qualquer luta contra ti é lícita e constitui ato legítimo e nobre de resistência.
Como que os prisioneiros conseguiram esta grande proeza? Como conseguiram com instrumentos simples cavaram o túnel que os levou à liberdade? Como que conseguiram manter em sigilo durante tanto tempo esta pequena-gigante obra? O segredo está em acreditar enquanto muitos duvidam. O segredo está em persistir enquanto muitos esmorecem. O segredo está em manter a dignidade enquanto muitas sujeitam-se à infâmia e desonra. O segredo está em ter a coragem de lutar contra a opressão e injustiça enquanto muitos pregam a rendição e a capitulação. Há uma grande diferença entre ser um usurpador de uma terra e ser o seu legítimo dono.
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A luta triunfante destes prisioneiros é uma dose fenomenal de ânimo para os oprimidos palestinos, árabes e muçulmanos onde quer que estejam e independente do tipo de opressão que sofrem. Partindo do pressuposto de que o estado sionista e os regimes tirânicos árabes são duas faces da mesma moeda, podemos dizer que a luta pela libertação da palestina é indissociável da luta dos povos árabes para verem-se livres de seus tiranos algozes. Não é à toa que os regimes tirânicos árabes estejam agora buscando alianças com o regime sionista. A opressão e a injustiça os unem.
Pequenos-grandes atos de resistência como o túnel da liberdade palestino me fazem acreditar, mais do que nunca, de que a aurora dos oprimidos há de chegar, de que a luta vale a pena, de que ficar do lado da justiça, da verdade e do bem, deve ser sempre o caminho a ser traçado. Na luta, é proibido deixar-se abater pelo desânimo, é proscrito prostrar-se perante as adversidades, só há uma alternativa a escolher: lutar, lutar e lutar.
A História da Humanidade mostra que não há negociação entre opressor e oprimido, entre força colonial e país colonizado, entre poder imperial e povo dominado. O único diálogo possível, nestes casos, é aquele ditado pela luta e resistência. As forças opressoras, coloniais e imperiais possuem suficiente arrogância para negar qualquer dignidade às suas vítimas. Cabe às vítimas recusar este papel aviltante e passar de meros espectadores passivos a serem verdadeiros autores e protagonistas de seu destino, com honra, dignidade e hombridade. Sobraram honra, dignidade e hombridade nos seis prisioneiros palestinos e no seu heróico túnel. A luz no fim do túnel tornou-se realidade, para desgosto dos céticos. A aurora chegou! Linda! Radiante! Brilhante!
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