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Presidente do Irã escolhe gabinete linha-dura para negociar com EUA

Ali Bagheri, diplomata iraniano, em Teerã, 24 de maio de 2013 [Kaveh Kazemi/Getty Images]

O Irã — encorajado pela desastrosa retirada das tropas americanas no Afeganistão — decidiu apostar em um novo gabinete linha-dura, incluindo o vice-chanceler Ali Bagheri Kani, para obter concessões das potências ocidentais nas negociações sobre o acordo nuclear.

As informações são da agência Reuters.

Bagheri foi nomeado nesta terça-feira (14) para substituir o pragmático diplomata Abbas Araqchi, como chefe de negociação para restaurar o pacto. Teerã tem esperanças de eliminar, assim, as sanções dos Estados Unidos.

“Bagheri é uma extensão do estado profundo, que agora comanda todas as instituições, e pode negociar diretamente, pois não representa apenas o governo, mas tem o aval do círculo interno”, comentou Andreas Krieg, professor de Estudos de Defesa do King’s College de Londres.

“[A retirada do Afeganistão] deu ao regime em Teerã mais confiança em sua abordagem de guerrilha, ao demonstrar que Washington tem desvantagem na região”, prosseguiu.

O crescimento da influência iraniana na região — por meio de grupos aliados no Iraque, Iêmen e Líbano — é motivo de preocupação aos Estados Unidos e aliados do Golfo.

Bagheri, vice-chanceler para assuntos políticos, serviu como negociador sobre a pauta atômica já no governo de Mahmoud Ahmadinejad, entre 2007 e 2013. Além disso, é considerado próximo do Supremo Líder Ali Khamenei.

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No fim de agosto, o parlamento iraniano aprovou todos os nomes — exceto um — da lista ministerial do novo presidente Ebrahim Raisi. O gabinete de notórios terá de agir para atenuar as sanções estrangeiras e combater a crise econômica.

Conversas indiretas entre Teerã e Washington foram paralisadas em junho, dias após a eleição de Raisi. Na última semana, o Secretário de Estado dos Estados Unidos Antony Blinken enfatizou que um retorno ao pacto representa uma “corrida contra o tempo”.

Uma fonte envolvida nas negociações alegou que a adoção de centrífugas avançadas para enriquecer urânio por parte do Irã é uma questão em aberto, ao passo que o regime insiste em “atestar” o cumprimento americano antes de conter seus avanços.

O mesmo oficial observou que isso significa reduzir sanções sobre as exportações de petróleo e liberar pagamento por meio de bancos internacionais, antes que Teerã adote medidas para reverter a capacidade de seu programa atômico.

Os atuais índices de enriquecimento de urânio sugerem uso militar, alertam observadores, mas autoridades iranianas insistem que sua pesquisa tem fins pacíficos.

Na segunda-feira (13), as potências ocidentais descartaram elaborar uma resolução de repúdio na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), entidade da ONU, após a república islâmica aceitar prorrogar a monitoria de certas atividades nucleares.

A AIEA, porém, reiterou que Teerã não fez qualquer “promessa” sobre outros pontos críticos.

Durante uma visita de último minuto a Teerã, no fim de semana, Rafael Grossi — secretário-geral da AIEA — convenceu o governo local a conceder acesso a equipamentos nucleares, para monitorar áreas sensíveis do programa nuclear.

No domingo (12), Grossi anunciou um acordo para solucionar a questão “mais urgente”.

Inspetores avaliarão cartões de memória após duas semanas do prazo previsto.

Grossi, no entanto, deixou claro que há outro ponto de preocupação — isto é, a recusa do Irã em explicar traços de urânio em antigas instalações não-declaradas.

Nicki Siamaki, analista da rede Control Risks, argumentou que a indicação de Bagheri pode prolongar o processo de negociação com os Estados Unidos, de modo que os líderes iranianos deverão aumentar a aposta para obter melhores condições.

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O acordo nuclear assinado em 2015 impôs restrições às atividades nucleares de Teerã, em troca da suspensão de sanções internacionais.

Contudo, em 2018, o então presidente americano Donald Trump abandonou o tratado e restituiu duras sanções contra a república islâmica. Teerã respondeu um ano depois, ao violar limites de enriquecimento de urânio a níveis mais próximos do uso militar.

Mohanad Hage Ali, associado do Centro Carnegie para Oriente Médio, destacou que a narrativa iraniana concentra-se em perseverar com suas reivindicações, a fim de obter uma vitória às custas da deterioração da influência internacional de Washington.

O grupo paramilitar Hezbollah, influente no Líbano e apoiado pelo Irã, acrescentou Ali, passou a divulgar imagens de pessoas caindo de um avião que partia do Afeganistão para sugerir que aqueles que apostam no poderio da Casa Branca sofrerão o mesmo destino.

“As imagens de Cabul emitiram ondas de choque e têm consequências”, concluiu Ali.

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