Em que a Autoridade Palestina se preocupa com as condições dos prisioneiros palestinos nas prisões israelenses? Se a retórica do primeiro-ministro Mohammad Shtayyeh é tudo que temos para prosseguir, a narrativa não é mais do que uma fachada. Ele apelou ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e à ONU para garantir que os prisioneiros não sejam submetidos a tortura.
Reportagens na mídia israelense, baseadas em uma fonte não identificada da Autoridade Palestina, sugerem que Ramallah estava envolvida na localização e recaptura dos prisioneiros palestinos que escaparam da prisão de Gilboa na semana passada. O acordo era que eles seriam capturados vivos e haveria uma flexibilização das condições em que os prisioneiros palestinos são mantidos por Israel.
O que pode ser deduzido da última colaboração com o Estado da ocupação é que a coordenação de segurança permanece “sagrada” para Mahmoud Abbas. De fato, o ministro da Defesa israelense, Benny Gantz, garantiu que assim seja, com as últimas concessões oferecidas em troca do fortalecimento da AP.
Os comentários de Shtayyeh, portanto, farão pouco para tranquilizar os prisioneiros palestinos e suas famílias. A tendência de explorar histórias promovidas pela mídia continua sendo uma forma pela qual a AP tenta ganhar alguma relevância política e alguns “biscoitos” públicos. O apelo do primeiro-ministro não faz nada para disfarçar a opressão que os palestinos enfrentam nas mãos da AP e de Israel; não é apenas nas prisões israelenses que os palestinos enfrentam tortura e abusos. A coordenação de segurança com Israel garante que os palestinos enfrentem um tratamento brutal semelhante nas prisões da AP. À luz do recente assassinato de Nizar Banat pelas forças de segurança da Autoridade Palestina, bem como a repressão brutal aos protestos públicos em suas conseqüências, Shtayyeh teria sido mais honesto se também tivesse lançado os holofotes sobre a crueldade da Autoridade Palestina.
“Chegamos ao último capítulo do período de transição com a AP e eles sabem que a única maneira de permanecer no poder é com balas e cassetetes”, declarou Shawan Jabarin, diretor da organização de direitos humanos Al-Haq recentemente.
LEIA: Os presos palestinos, a tortura como regra sionista e a solidariedade desde o Brasil
O que está sendo considerado a última manifestação de repressão contra o público palestino, há muito tempo é usado contra dissidentes palestinos que acabam sendo entregues a Israel pelas forças de segurança da AP. Shtayyeh está nos pedindo para acreditar que as condições de prisão, detenção e encarceramento sob a AP são melhores do que as de Israel, dado que a coordenação de segurança é decisiva no destino dos prisioneiros palestinos? As condições de detenção da AP deveriam ser de tanto interesse para as organizações internacionais quanto para as de Israel, se ao menos os direitos humanos fossem realmente uma preocupação para a comunidade internacional.
A única certeza obtida do apelo de Shtayyeh às organizações internacionais é a exploração periódica de prisioneiros palestinos. Eles são a vanguarda da resistência que a AP pensa que pode capitalizar, desde que finja preocupação com as violações dos direitos humanos cometidas por Israel enquanto ignora as suas próprias.
A AP estaria preocupada com os palestinos nas prisões israelenses se a fuga de Gilboa não tivesse chegado às manchetes? A AP está delirando se pensa que as oportunidades de relações públicas podem convencer um público palestino unido de que a liderança mudou da coordenação de segurança, tortura e assassinato extrajudicial para uma entidade política que cumpre as normas internacionais de direitos humanos.
Até que ponto a hipocrisia da AP pode passar por cima da questão dos prisioneiros palestinos? Muito provavelmente ainda mais do que agora.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.