Saadi Yacef, célebre combatente da resistência pela independência argelina contra o colonialismo francês, faleceu em 10 de setembro, aos 93 anos.
Ao anunciar sua morte, Salah Goudjil, líder da Frente de Libertação Nacional (FLN) e presidente do Senado, descreveu Yacef como “uma das luzes” da revolução argelina.
Yacef nasceu no distrito de Casbah, na capital Argel, em 20 de janeiro de 1928, de uma família berbere. Aos 17 anos, enquanto trabalhava como aprendiz de padeiro, filiou-se ao Partido Popular da Argélia, organização histórica de esquerda.
Aos 21 anos, viajou à França e testemunhou em primeira mão o racismo contra os árabes, experiência que o encorajou ao caminho revolucionário.
Quando retornou à Argélia, deixou seu emprego e filiou-se à Frente de Libertação Nacional. Pouco tempo depois, foi nomeado chefe militar de Argel.
Yacef tornou-se figura central na guerra de independência, que encerrou os 132 anos de ocupação da França, incluindo ao liderar a resistência na batalha de Casbah entre 1956 e 1957. Cerca de 1.5 milhões de argelinos foram mortos nos oito anos de guerra.
Em contrapartida, 25 mil franceses foram mortos neste mesmo período.
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Em 1956, após uma série de atentados — a um escritório da Air France na Rua Mauritânia, um café na Rua Michelet e uma mercearia na Rua d’Isly, por exemplo — e suas consequentes baixas civis, a ocupação francesa designou Yacef como “terrorista”.
A FNL, no entanto, reitera até hoje que as ações foram conduzidas em retaliação a crimes de guerra perpetrados pela França, incluindo desaparecimentos, tortura e assassinato.
Colonos franceses participaram de outras atrocidades e executaram ataques a bomba como o incidente na Rua de Thebes, em agosto de 1956.
Em uma entrevista de 2007, Yacef abordou as controvérsias, ao asseverar que suas táticas “abrangiam uma estratégia maior, incluindo participação das massas”.
“Nosso alvo era especificamente os ocupantes, não qualquer um … Matamos mulheres, é verdade, e mesmo os bebês em seus ventres”, confessou o veterano. “Mas tudo em nome de nossa libertação. Era nosso único meio contra um inimigo cruel”.
Autoridades francesas capturaram Yacef em 1957 e o condenaram à morte. Entretanto, dois anos depois, quando chegou ao poder, Charles de Gaulle decidiu perdoá-lo. Seu indulto levou a alegações de cooperar com Paris, o que negou veementemente.
Após a independência em 1962, Yacef tornou-se senador e manteve o cargo até a sua morte.
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