À medida que grandes demagogos saem de cena, pouco a pouco, os filhos do colonialismo sionista sofrem algumas derrotas. Logo que emergiu na arena política, o Presidente da França Emmanuel Macron decidiu insultar o Profeta Muhammad — que a paz esteja com ele — e salvaguardar criminosos que publicaram as infames charges da Charlie Hebdo, sob pretexto da “liberdade de expressão”. Desde então, uma ruína quase divina recaiu em seu país.
Macron expôs suas credenciais sionistas ao promover uma legislação para vincular antissionismo com antissemitismo — medida bastante perigosa que cospe na cara de conceitos estabelecidos da ciência política.
Antissemitismo, vale reforçar, equivale ao racismo antijudaico e é, portanto, corretamente criminalizado em todo o mundo ocidental. É uma forma de discriminação com uma dimensão religiosa, repreendida pela lei francesa e de outros países.
O sionismo, no entanto, não é um elemento identitário de caráter étnico, tampouco religioso. Ao contrário, o sionismo é uma forma de racismo assim reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) entre 1975 e 1991 — quando a comunidade internacional enfim cedeu à pressão sionista para que Israel comparecesse à Conferência de Paz de Madri. O sionismo político, sobre o qual se fundou o Estado de Israel, é uma ideologia nascida no contexto colonial do século XIX. Seu pai fundador, o austríaco Theodor Herzl — notório judeu ateísta —, tinha como objetivo criar um lar nacional judaico em algum território, a princípio, não determinado ; com o tempo, a Palestina foi escolhida para tanto.
LEIA: França tem aumento dramático de atos islamofóbicos
A legislação efetivamente racista de Macron foi aprovada no parlamento, a despeito de alguma resistência, e representa esforços sem precedentes não apenas na França, como em todo o Ocidente em geral. Ao basicamente revogar a mesma liberdade de expressão que Macron utilizou para justificar as ofensas ao Islã, a provisão legal discriminatória menospreza e escarnece o célebre lema iluminista “liberdade, igualdade e fraternidade”. Ao criminalizar o ativismo político contra a ocupação sionista da Palestina histórica, Macron concedeu a Israel um altar acima de toda e qualquer crítica. Não surpreende então que muitos judeus antissionistas opõem-se veementemente a essa mesma lei.
Na prática, Macron declarou guerra ao Islã, ao fechar mesquitas e escolas religiosas, instituir leis discriminatórias e restringir o direito ao culto. Desde então, a França enfrenta crises persistentes, uma após a outra. Fábricas e empresas fecharam as portas no país porque mercados islâmicos decidiram boicotar produtos franceses devido à política racista do presidente europeu.
A mais recente — provavelmente, não a última — dessas crises é a disputa em curso entre França, por um lado, e Estados Unidos, Austrália e Reino Unido, por outro, sobre a assinatura de um acordo para que o governo em Camberra desenvolva submarinos nucleares como resposta à “ameaça chinesa”. A Austrália anunciou a poucos dias a revogação de um contrato de 2016 com a França para construção de tais submarinos, estimado em US$90 bilhões — em seguida, substituiu o co-signatário europeu por Washington e Londres, em troca de acesso a tecnologia avançada, equipamentos militares e capacidades nucleares.
Logo após o anúncio, oficiais franceses lançaram uma feroz campanha contra um suposto ato de agressão. O chanceler Jean-Yves Le Drian descreveu a decisão australiana de rescindir o contrato dos submarinos como “facada nas costas”. Em seguida, associou o atual presidente americano Joe Biden com seu predecessor Donald Trump, ao afirmar: “Esta decisão brutal, unilateral e imprevisível me lembra muito do que fazia o sr. Trump. Estou indignado e ressentido, pois isso não pode acontecer entre nações aliadas”.
A Ministra da Defesa da França Florence Parly descreveu a decisão de Camberra como “algo muito ruim e perigoso em respeito a compromissos prévios”. Em nota assinada conjuntamente com Le Dryan, acrescentou: “A decisão americana, que leva à exclusão de um aliado europeu como a França de uma parceria crucial com a Austrália, em um momento que enfrentamos desafios sem precedentes na região do Indopacífico, em detrimento de nossos valores de respeito e multilateralismo embasados no estado de direito, sugere falta de consistência sobre a qual a França pode apenas advertir e deplorar”.
LEIA: Macron pede explicações do premiê israelense sobre software espião
Segundo relatos da imprensa ocidental, a perda do contrato com a Austrália deverá custar mais de US$100 bilhões ao estado francês, em sua totalidade, além de duro prejuízo ao complexo industrial militar e às exportações de defesa, que representam grande parte da balança comercial de Paris. A França representa o terceiro maior exportador de armas do mundo, com vendas estimadas em US$10.5 bilhões em 2018 e US$9.7 bilhões em 2019. Um relatório emitido pelo Ministério da Defesa em julho revelou 41% de queda no volume das exportações de armas no último ano.
A França está agora contra as cordas. Macron isolou seu país, ao menos quando descreveu a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) como “aliança com morte cerebral” — o que incitou respostas contundentes, na ocasião. A decisão britânica de deixar a União Europeia tampouco ajudou nas relações entre Londres e Paris.
Meus comentários sobre o divórcio litigioso com Austrália, Reino Unido e Estados Unidos não ser a última crise suscitada por Macron já foram escritos previamente, antes mesmo do líder francês cancelar sua visita marcada à Suíça em novembro, após o país vizinho recusar a compra de jatos combatentes e optar pelo mercado americano.
O colonialista Macron — pequeno e melindrado — queria unir todas as potências ocidentais contra o mundo islâmico sob seu estandarte; quem sabe, para restaurar certa “glória” do império francês sobre as terras árabes. Agora, contudo, o arrogante Monsieur Quixote desperta de um sonho vago e encontra a si mesmo em batalha contra moinhos de vento, isolado e rechaçado por seus parceiros ocidentais.
Seu país decerto parece amaldiçoado — tudo graças a Macron.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.