Em meio à fome e à pandemia, o desgoverno atual dá mais uma mostra de que suas prioridades nem de longe são a vida dos brasileiros.
Na lista de pregões internacionais da Comissão do Exército Brasileiro em Washington (CEBW) encontra-se um que objetiva comprar 100 mísseis antitanques. “Embora não informe marca ou modelo, os requisitos exigidos, segundo uma fonte da caserna, descrevem o míssil Spike, da empresa israelense Rafael”, revela o portal de notícias Caderno da Indústria. Cada um tem custo de US $170 mil, aponta a mesma reportagem.
A informação traz indicações de que a licitação, portanto, visa a aquisição de produto desenvolvido a partir de testes em corpos palestinos e amplamente usado para a limpeza étnica na contínua Nakba (catástrofe com a formação do Estado de Israel em 15 de maio de 1948).
A Rafael Defense tem apresentado sua linha de produtos confirmados em “testes em campo” durante a Laad – Feira de Defesa e Segurança da América Latina, que geralmente é sediada no Riocentro, na capital fluminense, e terá sua 12ª edição em 2023. Não à toa os movimentos sociais, populares e de direitos humanos a apelidaram “feira da morte”. Em abril de 2019, o blog ForTe informava que a Rafael ofertaria nesse espaço produtos ao Exército brasileiro.
LEIA: Chega de barbárie do Estado racista, na Palestina e no Brasil
Como escreve Bruno Beaklini, articulista do Monitor do Oriente, a estatal israelense tem origem nos corpos científico-militares das forças de ocupação e segue sendo uma de suas principais fornecedoras. “Sua presença no Brasil implica dois escritórios no país (São Paulo e Brasília), e 40% de participação na Gespi Aeronáutica (São José dos Campos). Na metade do ano de 2016, estabelece ‘joint-venture para segurança cibernética com a empresa brasileira Stefanini”.
O Spike vem sendo utilizado nos massacres perpetrados pelas forças de ocupação sionistas na faixa de Gaza, como ocorreu em maio de 2021. É o que revela notícia publicada no portal The Drive do dia 17 do mesmo mês: “Os navios da Marinha israelense estão agora mirando Gaza usando mísseis guiados de precisão lançados do mar. Pelo menos um dos vídeos disponíveis publicamente parece mostrar o uso de um Rafael Spike […]. Com um alcance anunciado de quase 20 milhas, a versão Naval Spike Non-Line-of-Sight (NLOS, em português Fora da Linha de Visão) pode ser empregada no modo “dispare e esqueça” ou usando a orientação homem no circuito. No último modo, o míssil pode ser disparado em uma área específica e, em seguida, ser direcionado manualmente para o alvo por um operador que enxerga o que o míssil vê por meio de uma câmera infravermelha em seu nariz. Dessa forma, o Spike também pode ser usado para reconhecer alvos antes de atingi-los, também com extrema precisão.”
A extrema precisão é confirmada em relatório da Human Rights Watch de 30 de junho de 2009. Atingiu em maio de 2021, portanto, os alvos que pretendia em Gaza, entre os quais hospitais em meio à pandemia de covid-19 e escolas, além de ter matado mais de 250 habitantes, entre os quais mais de 60 crianças. Assim como em 2014, quando 2.200 palestinos foram assassinados nos bombardeios à estreita faixa, incluindo 530 crianças. E em 2008-2009, quando as vítimas fatais foram 1.400, das quais 350 crianças.
No relatório em que investigava o massacre em Gaza há mais de 12 anos, a Human Rights Watch destacou que Israel utilizou drones Hermes, produzido pela empresa Elbit Systems, e Heron, pela Israel Aerospace Industries. O primeiro “carrega dois mísseis Spike-MR (alcance médio), às vezes chamados de “Gil” em Israel, produzidos pela empresa israelense Rafael Advanced Defense Systems Ltd”. O segundo pode transportar quatro desses. “As placas de circuito e peças de míssil encontradas pela Human Rights Watch em locais de ataque eram consistentes com um pequeno míssil como o Spike.” Além disso, a organização denunciou que eram compatíveis com seu uso os “padrões de explosão e fragmentação em ataques que investigou: ‘tipicamente uma cratera rasa com buracos cúbicos salpicados em um raio de até 20 metros e fragmentos cúbicos de tungstênio alojados em muitos dos buracos’”.
Durante a invasão de Israel ao Líbano em 2006, a Human Rights Watch diz no mesmo relatório que “encontrou pedaços de mísseis semelhantes e marcas de explosão e fragmentação no local de um ataque a duas ambulâncias da Cruz Vermelha Libanesa, que feriu seis trabalhadores médicos e três pacientes”.
LEIA: Contra a criminalização e o genocídio, barrar os acordos Brasil-Israel
O resultado apresentado em 2009 foi confirmado por especialistas do Instituto de Tecnologia e Energia da Noruega, como consta do documento da Human Rights Watch: “A arma usada nos ataques foi um míssil antitanque guiado com sensores e outros equipamentos para atingir com precisão seu alvo, e muito provavelmente era um míssil Spike.”
Armas em lugar de alimento
Enquanto o Exército realiza o pregão, notícias dão conta que 19 milhões de brasileiros acordam todos os dias sem saber se vão ter o que comer e pesquisa feita pelo grupo Alimento para Justiça: Poder, Política e Desigualdades Alimentares na Bioeconomia revela que 59,3% da população sofre de insegurança alimentar – ou seja, 125,6 milhões de pessoas.
As cenas terríveis de brasileiros fazendo fila nas portas de açougue em Cuiabá em julho último para conseguir doação de ossos eram vistas em reportagem do Fantástico, da TV Globo, como era de se esperar, são a face trágica e cruel de um governo genocida que privilegia investimentos como compra de mísseis antitanques usados em crimes contra a humanidade em lugar de matar a fome.
Coerente com a expressão do sionismo na Presidência, que afirma que é “idiota” quem diz que tem que comprar feijão, não fuzil. A esse desgoverno, que a voz das ruas no próximo dia 2 de outubro trace seu destino: “fora Bolsonaro”. E ecoe a mobilização por embargo militar a Israel.
LEIA: Embargo militar a Israel pelo direito à vida
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.