Ainda há uma janela aberta para reavivar o acordo nuclear iraniano de 2015, mas não será para sempre, disse ontem um oficial sênior dos EUA, dizendo que o Irã ainda tem que nomear um negociador, marcar uma data para conversações ou dizer se retomaria onde parou em junho, relatou a Reuters.
Washington estava preparada para ser paciente, disse o funcionário americano aos repórteres, mas disse que em algum momento os avanços nucleares do Irã ultrapassariam o acordo e os Estados Unidos e seus parceiros teriam que decidir se o Irã estaria disposto a reavivá-lo.
“Nós ainda estamos interessados. Ainda queremos voltar à mesa”, disse o oficial do Departamento de Estado norte-americano em um informe telefônico. “A janela de oportunidade está aberta. Ela não estará aberta para sempre se o Irã tomar um rumo diferente”.
Teerã sinalizou na terça-feira que as negociações seriam retomadas dentro de algumas semanas sem dar uma data específica. Apesar da necessidade do Irã de reforçar sua economia, negociando o fim das sanções dos EUA, os especialistas esperam que seu novo governo adote uma linha mais dura se as conversações forem retomadas.
No âmbito do acordo de 2015, o Irã refreou seu programa de enriquecimento de urânio, um possível caminho para as armas nucleares, em troca da suspensão das sanções econômicas. Em 2018, o então presidente dos EUA, Donald Trump, desistiu do acordo e reinstituiu duras sanções ao setor petrolífero e financeiro do Irã, paralisando sua economia e levando Teerã a tomar medidas para violar seus limites nucleares.
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O representante dos EUA recusou-se a dizer o que os Estados Unidos poderiam fazer se o Irã se recusasse a voltar às negociações, ou se uma retomada do acordo original se revelasse impossível. Tal planejamento de contingência dos EUA é frequentemente chamado de “Plano B”.
“O ‘Plano B’ que nos preocupa é aquele que o Irã pode estar contemplando, onde eles querem continuar a construir seu programa nuclear e não estar seriamente envolvidos em conversações para retornar ao JCPOA”, disse ele, em referência à sigla em inglês para o nome formal do acordo, o Plano de Ação Compreensivo Conjunto.
O Irã e os Estados Unidos iniciaram em abril negociações indiretas em Viena sobre o resgate do acordo nuclear, mas estas pararam dois dias após Ebrahim Raisi ter sido eleito presidente do Irã em junho.
Na terça-feira, Raisi ecoou a posição de longa data do Irã de que as armas nucleares “não têm lugar em nossa doutrina de defesa e política de dissuasão”.
As potências ocidentais disseram que o tempo está se esgotando, pois o programa nuclear do Irã está avançando muito além dos limites estabelecidos pelo acordo.
“O tempo não está do nosso lado com relação a um acordo potencial porque o Irã está aproveitando os atrasos para agravar suas violações nucleares, tornando um retorno ao JCPOA cada vez mais complicado”, disse Anne-Claire Legendre, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores francês.