Tensões políticas continuam em alta na Tunísia, à medida que se prorrogam as decisões extraordinárias do presidente Kais Saied.
Em entrevista à rede Al-Quds Al-Arabi, Ahmed Gaaloul, assessor de Rached Ghannouchi — presidente do parlamento e diretor executivo do movimento Ennahda —, reafirmou que as decisões provisórias de Saied representam um “golpe contra a legitimidade constitucional”.
Gaaloul destacou que o Ennahda debate com forças civis e políticas a possibilidade de formar uma “frente civil” para resistir ao golpe contra o processo democrático no país.
Em seguida, alegou que as decisões de Saied não afetam a autoridade do parlamento, dado que a “legitimidade eleitoral não pode ser revogada por decreto”, e observou os direitos e deveres do legislativo em reunir-se e enfrentar as crises em curso em território nacional.
Gaaloul, porém, descartou “retirar o voto de confiança” concedido a Saied na ocasião de sua posse como presidente da república.
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“O que anunciou o presidente efetivamente fechou as portas à interpretação sobre o que de fato ocorre na Tunísia”, afirmou. “Claramente leva o país para fora das linhas da constituição”.
“O que aconteceu sequer pode ser descrito como decreto, pois decretos são governados por razão, sabedoria e consequência dos atos”, acrescentou. “Enquanto isso, os tunisianos enfrentam uma situação que impõe poder coercitivo em lugar da legitimidade popular”.
“Portanto, a descrição apropriada para este ato é golpe de estado”, reiterou Gaaloul. “O Ennahda é parte importante dos componentes políticos e civis da sociedade e a forma com que lida com tais perigos iminentes à democracia, que ameaçam não apenas a liberdade e dignidade, mas mesmo o pão de cada dia, deve implicar no mais vasto fronte político, conforme os limites determinados”.
“Desta forma, estamos em contato com todos para unificar nossos pontos de vista, esforços e programa, incluindo livre expressão da opinião popular”, concluiu Gaaloul. “Um dos mais importantes ganhos da revolução é o direito adquirido de protestar e manifestar opinião … um dos mecanismos da prática democrática, sobretudo em face de um golpe de estado”.