O pesquisador egípcio Patrick George Zaki, residente na Itália e detido há 19 meses após viajar a seu país natal para visitar sua família, enfrentou a primeira sessão de seu julgamento nesta terça-feira (28), sob acusações sem provas de espalhar “fake news”.
Sua prisão decorre de um artigo que escreveu sobre a opressão perpetrada no Egito à comunidade copta, uma das mais antigas denominações cristãs.
As informações são da agência Reuters.
Zaki, de 30 anos de idade, pós-graduando na Universidade de Bolonha, foi preso em fevereiro de 2020, ao chegar no Aeroporto Internacional do Cairo.
Após meses de “detenção preventiva” — isto é, sem acusação ou julgamento —, compareceu hoje a uma audiência judicial, dentro de uma gaiola destinada aos réus nos tribunais.
O caso ressoou na Itália, ainda indignada com o assassinato sob tortura do estudante italiano Giulio Regeni, cujo corpo mutilado foi descoberto em uma vala na rodovia Cairo-Alexandria, nos subúrbios da capital egípcia, em 2016.
LEIA: Ativistas denunciam julgamento de exceção contra pesquisador no Egito
Neste mês, Zaki foi encaminhado a um julgamento às pressas pela promotoria de segurança de sua cidade natal, Mansoura, a cerca de 113 km ao norte do Cairo.
Em 14 de setembro, foi levado a uma breve audiência, então prorrogada. Na sessão de hoje, seu advogado pediu um novo adiamento para avaliar devidamente os documentos do caso.
Sob a acusação de propagar notícias falsas em âmbito doméstico e no exterior, Zaki pode ser condenado a cinco anos de prisão, de acordo com a Iniciativa por Direitos Individuais do Egito (EIPR), grupo independente para o qual ele havia trabalhado anteriormente.
A acusação se baseia em um texto de julho de 2019, publicado no website Daraj sob o título “Deslocamento, Assassinato e Restrições: Uma semana dos coptas do Egito”.
Conforme as informações, Zaki foi espancado, eletrocutado e ameaçado de morte após sua prisão. Autoridades egípcias não comentaram os relatos, até então, mas costumam negar maus tratos cometidos por suas forças policiais e penitenciárias.
Desde 2013, quando o então chefe do exército, Abdel Fattah el-Sisi, depôs o presidente eleito Mohamed Morsi, por meio de um violento golpe de estado, o Egito promove uma dura repressão contra qualquer dissidência política.
Grupos de direitos humanos alertam que dezenas de milhares de pessoas foram encarceradas pelo regime de Sisi. O presidente e general insiste que a segurança e estabilidade é fundamental e nega que haja prisioneiros políticos no Egito.
Ainda em setembro, Sisi — sob pressão internacional, incluindo risco de cortes no pacote assistencial dos Estados Unidos — divulgou uma nova estratégia de direitos humanos, segundo a qual prometeu estabelecer metas abrangentes ao país.