Said Marei, presidente da Suprema Corte Constitucional do Egito, enviou uma mensagem alarmante a ativistas por direitos humanos: “Fiquem quietos, é melhor para vocês”.
Seus comentários ecoam ameaças feitas pelos Ministro da Imigração do Egito, durante uma festa privada em 2019. “Qualquer um que diga qualquer coisa sobre nosso país, o que acontece com eles? Cortamos”, disse ao fazer um gesto contra a garganta.
“O Egito é pioneiro em respeito aos direitos humanos”, alegou Marei, ao insistir que o presidente Abdel Fattah el-Sisi respeita as mulheres e trabalha duro por seus direitos, incluindo ao indicá-las à promotoria pública e ao conselho executivo.
Quem quer que visite o país e seus templos antigos encontrará símbolos de justiça em suas paredes, argumentou Marei durante sua entrevista à televisão local.
O chefe da Suprema Corte reiterou ainda que o judiciário egípcio é “independente” — imagem bastante oposta a denúncias documentadas por ativistas de direitos humanos.
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Há cerca de 65 mil prisioneiros políticos no Egito, vítimas de tortura sistemática, sem acesso a cuidados de saúde e sob sentenças de morte cada vez mais frequentes. Autoridades negam uma crise humanitária e mesmo a existência de presos políticos.
Em agosto, um líder religioso descreveu os presídios do Egito como “estâncias turísticas”, onde os detentos são tratados como “hóspedes”, após relatos de que guardas da prisão de Tora foram responsáveis pela morte do preso político Tjuddin Abdel-Qader Allam.
Críticos observam que a participação das mulheres em instituições do Cairo representa somente um esforço de relações públicas, enquanto centenas de cidadãs egípcias reportam assédio sexual e verbal perpetrado por autoridades, sobretudo em custódia.
Ao mesmo tempo, o governo introduziu uma legislação arcaica que considera o casamento anulado caso um parente homem desaprove a união, instaurando efetivamente um padrão de tutela masculina sobre as mulheres do país.
Em junho, o ativista egípcio Alaa Abdelfattah exortou o judiciário a recuar de suas medidas repressivas, ao acusá-lo de subordinação ao presidente e general Sisi.
Segundo a legislação do Egito, ordens de prisão preventiva têm prazo máximo de dois anos; contudo, as cortes costumam atribuir novas acusações contra prisioneiros políticos, às véspera de expirar o limite, para prorrogar seu cárcere indefinidamente.