A polícia tunisiana invadiu no domingo (3) a residência do parlamentar Abdellatif Alaoui, membro da Coalizão por Dignidade (Al Karama), para prendê-lo sob acusações de “conspirar contra a segurança do estado”.
Em postagem no Facebook, escreveu Alaoui: “Um esquadrão do al-Gorjani [centro de segurança] está invadindo minha casa e me prendente neste momento”.
O Ennahda — maior bloco parlamentar do país, com 53 assentos — corroborou que um grupo policial prendeu Alaoui e o jornalista Amer Ayad, ao invadir suas casas, intimidar suas famílias e encaminhá-los a investigações militares sem prazo previsto.
O Ennahda reiterou seu repúdio aos avanços das autoridades para julgar civis em cortes militares — “pois viola seu direito a um julgamento justo”.
Em comunicado, o tradicional movimento político destacou “a necessidade de respeitar a independência do judiciário” e advertiu contra “tentativas de contornar tamanha conquista democrática ao levar prisioneiros às cortes militares”.
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Segundo o partido, as ações repressivas do regime de Kais Saied — após sua tomada de poder em julho — “recordam os tunisianos de uma era de tirania e injustiça”.
O Ennahda expressou “receios de que a prisão do parlamentar Abdellatif Alaoui tenha intuito de impedir quórum da Assembleia dos Representantes do Povo, como mais outra agressão ao legislativo e seu papel de fiscalização determinado pela constituição”.
O mais alto órgão do parlamento tunisiano inclui 13 membros, dentre os quais, o presidente da câmara, Rached Ghannouchi, e seus dois adjuntos. Contudo, seus encontros somente são válidos caso dois terços dos membros estejam presentes.
Na sexta-feira (1°), o parlamento confirmou em nota o reinício de suas operações, ao rechaçar as medidas de Saied e acusá-lo de tentar fechar a câmara legislativa.
Saied tomou para si plenos poderes executivos em 25 de julho, sob pretexto de “emergência nacional”, ao destituir o premiê Hichem Mechichi e congelar o parlamento.
A maioria dos partidos políticos tunisianos condenaram a medida como golpe contra a constituição e as conquistas democráticas da revolução de 2011.