“Terra de mensagens divinas reveladas à humanidade, a Palestina é o país natal do povo árabe palestino. Ali é que ele cresceu, desenvolveu-se e expandiu-se. Sua existência nacional e humana afirmou-se ali numa relação orgânica ininterrupta e inalterada entre o povo, sua terra e sua história.” Esse trecho apresenta o conceito de Palestina dado pelo poeta palestino Mahmoud Darwish, na Abertura da Declaração de Independência do Estado da Palestina, com Jerusalém como Capital, e proclamado em Argel, Argélia, por Yasser Arafat, líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), em 15 de novembro de 1988.
Antes de 1948, ano em que foi fundado o “Estado de Israel”, a Palestina já era uma terra que povoava as mentes, os corações e a existência de milhões de pessoas há mais de 6.000 anos, quando chegaram os primeiros habitantes cananeus, membros de tribos semitas vindos da Península Arábica, fugindo de uma grave seca que assolava a região, e se estabeleceram na região próxima ao Mar Mediterrâneo, no território que forma hoje a Síria, o Líbano, a Jordânia e a Palestina ocupada.
Com seus 27.000 km2, a Palestina é um território que, do ponto de vista econômico, político, religioso e militar, conta com uma localização estratégica. Ela está localizada na divisa da África e Ásia, e bem próxima da Europa. A Palestina é dona de um vasto litoral banhado pelo Mar Mediterrâneo e com acesso ao Mar Vermelho, ao Mar da Arábia e ao Oceano Índico, e daí ao resto do mundo.
Sua capital, Jerusalém, foi fundada por volta do ano 3000 a.C., pelos jebuseus, um subgrupo cananeu, numa das melhores localizações da Palestina, em um planalto nas montanhas da Judeia entre o Mediterrâneo e o Mar Morto. Líderes das três religiões monoteístas – judeus, cristãos e muçulmanos – já governaram a Cidade Santa, uma vez ou outra. Os judeus dominaram a cidade por apenas 72 anos, nos tempos bíblicos de Salomão e seu filho Davi.
LEIA: Jerusalém, a joia que é estopim de uma guerra regional
Os cristãos dominaram Jerusalém durante cerca de 400 anos entre os séculos IV e VII e, outra vez, no século XX, quando as tropas britânicas capturaram a capital após o acordo que desligou a Palestina do Império Turco-otomano, que passou a administrar a Palestina por mandato concedido pela Liga das Nações, no período de 1922 a 1948.
Os muçulmanos – árabes e turcos – governaram a cidade por 12 séculos – de 638 a 1917 ininterruptamente –, excetuando o período em que a cidade foi a capital do reino latino de Jerusalém, sob o governo do imperador romano Públio Aelius Adriano, de 73 a 138 d.C.
Durante sua longa existência, Jerusalém foi destruída pelo menos 2 vezes, sitiada 23 vezes, atacada 52 vezes e capturada e recapturada outras 44 vezes. As diversas Resoluções das Nações Unidas e o Direito Internacional não reconhecem a soberania do “Estado de Israel” na ocupação de qualquer parte de Jerusalém. Ela continua a ser a capital histórica e milenar da Palestina.
Seu status religioso, histórico e civilizacional é fundamental a árabes, muçulmanos e cristãos, e ao mundo em geral. Os lugares sagrados para muçulmanos e cristãos pertencem exclusivamente ao povo palestino, por mais que os sionistas adulterem os livros didáticos para insistir na lenda de que são lugares sagrados ao judaísmo.
Os fatos históricos demonstram fartamente que o agressor tem sido “Israel”, que praticou ataques assimétricos contra Gaza e as forças do Hamas em 2008/2009, 2012, 2014, 2015, 2018 e em maio de 2021, como forma de legitimar a ocupação, expandir ilegalmente o território do chamado “estado judeu” e destruir a infraestrutura de Gaza, gerando o caos como forma de enfraquecer a resistência palestina, o direito dos palestinos ao seu Estado soberano e o retorno dos refugiados expulsos desde 1948.
Porém, quando se pesquisa para entender a questão envolvendo “Israel” e palestinos, é oferecida uma enorme quantidade de informações realçando mitos como os que sugerem que o conflito é de natureza religiosa e que “Israel” busca apenas assegurar o direito de defender a sua existência como “a única democracia do Oriente Médio”.
LEIA: Israel e o mito da “única democracia” do Oriente Médio
Essa narrativa contra palestinos faz parte daquilo que o revolucionário italiano Antônio Gramsci definiu como uma “imprensa como partido”, em que as empresas de mídia pertencentes a determinados grupos políticos, ideológicos e econômicos interferem na avaliação e divulgação dos fatos e das circunstâncias da vida pública, sem nenhuma neutralidade, determinando o que, como, onde e quando a opinião pública deve ou não saber, nesse caso, sobre a Palestina.
As forças da resistência palestina e o movimento de solidariedade internacional são contra Israel enquanto um estado colonial que ocupa a Palestina e sujeita o seu povo aos horrores da guerra, da colonização e do deslocamento, e não por ser um “estado judeu”. O conflito com Israel é fundamentalmente político, e os palestinos estão lutando por liberdade e autodeterminação.
As informações entregues pela mídia hegemônica silenciam os atos de agressão israelense, enquanto evidenciam a reação palestinos e de suas organizações de resistência, dando a entender que esses são os agressores e que Israel está apenas se defendendo. A partir dessas narrativas, as pessoas são induzidas e ver o conflito não como ele é, mas como as forças sionistas donas e patrocinadoras da grande mídia, do Facebook e Instagram, querem que ele seja visto.
Em meio a esse complexo tabuleiro interno e externo dessa luta, uma coisa é certa: o povo palestino não dará trégua a Israel, que não desfrutará da paz enquanto segurar o povo palestino pela garganta, tornando-o refém do seu regime militar racista de supremacia judaica.
Enquanto persistir essa opressão, o povo palestino não tem outra escolha a não ser resistir às agressões por todos os meios, somando todas as forças políticas nacionais palestinas e o movimento de solidariedade internacional numa ação conjunta para acabar com a ocupação colonial sionista na Palestina.
LEIA: Os muçulmanos e a libertação da Palestina
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.