O golpe militar no Sudão incitou preocupações em Israel sobre o futuro da normalização entre os países, de acordo com informações da agência Anadolu.
Na segunda-feira (25), o exército sudanês declarou “estado de emergência” no país norte-africano, ao dissolver o governo de transição estabelecido há dois anos e prender o primeiro-ministro Abdalla Hamdok e representantes civis de seu gabinete.
Segundo a imprensa israelense, a tomada militar deve dificultar a adesão sudanesa aos Acordos de Abraão, isto é, a onda de normalização entre a ocupação e países árabes, promovida pelo ex-Presidente dos Estados Unidos Donald Trump.
No último ano, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Marrocos e Sudão se comprometeram com o pacto. O governo de transição sudanês assentiu com a normalização, caso retirado da lista americana de países patrocinadores do terrorismo.
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Tel Aviv não comentou a situação sudanesa, até então. No entanto, a rádio estatal israelense KAN reportou que o governo do primeiro-ministro Naftali Bennett decidiu engajar-se em “diversas consultas” sobre o golpe de estado.
Segundo o noticiário, um diplomata sudanês não-identificado afirmou que a tomada militar não deve afetar drasticamente os acordos com Israel, pois a maioria dos líderes militares, que consolidaram seu poder nesta semana, apoiam o processo.
Não obstante, o mesmo diplomata — supostamente filiado ao campo de Hamdok — advertiu que a situação pode debilitar ainda mais o apoio popular à normalização.
“O povo sudanês está farto de golpes de estado”, argumentou a fonte. “O exército cometeu um grave erro e pode enfrentar agora um levante doméstico”, cuja situação pode escalar caso Washington decida cortar a ajuda econômica ao país, enfatizou.
De sua parte, o jornal israelense The Jerusalem Post publicou um artigo intitulado “O golpe no Sudão prejudicará laços com Israel?”, no qual aponta riscos iminentes à aproximação.
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Seu concorrente em hebraico, Yedioth Ahronoth, fez coro aos alertas ao argumentar que os acontecimentos “devem provavelmente levar ao retorno das sanções americanas e ao adiamento ou mesmo abandono dos tratados de normalização”.
O periódico sediado em Tel Aviv observou, contudo, que os comandantes do exército sudanês expressaram maior apoio ao relacionamento com Israel do que políticos civis, devido à promessa do governo americano de revogar décadas de sanções.
“Embora o processo seja lento por divergências veementes que assolam a liderança, houve algum avanço no último ano, incluindo a visita do ex-Ministro de Inteligência Eli Cohen ao Sudão e uma turnê de segurança sudanesa a Israel”, destacou o artigo.
Segundo a reportagem, as potências ocidentais — sobretudo os Estados Unidos — dificilmente aceitarão um domínio militar em Cartum. Caso as relações se deteriorem, os laços com a ocupação israelense devem também ser afetados.
Washington suspendeu pouco a pouco parte das sanções ao estado sudanês no último ano; há chances, no entanto, de restituí-las no futuro próximo. A medida deve afastar novamente Cartum de Tel Aviv, conclui boa parte da imprensa israelense.