A escalada do conflito na região de Tigray, na Etiópia, poderá piorar ainda mais a situação humanitária no país, alerta a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos.
Michelle Bachelet divulgou um comunicado nesta quarta-feira, onde faz um apelo a todas as partes, para que acabem com a violência e “priorizem a proteção dos civis e o total respeito aos direitos humanos”.
Estado de emergência
O secretário-geral das Nações Unidas também está extremamente preocupado com a situação e com a recente declaração de um estado de emergência na Etiópia. Na terça-feira, António Guterres pediu o fim imediato das hostilidades e das restrições ao acesso humanitário.
Para Guterres, o diálogo nacional será a solução para resolver a crise no país. Ele reitera que a estabilidade da Etiópia e de toda a região está sob risco.
Já a alta comissária para os Direitos Humanos reforça que o estado de emergência poderá aumentar as divisões, criar perigos para os defensores da sociedade civil e provocar ainda mais conflitos.
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Relatos dos últimos dias confirmam bombardeios por parte das Forças Nacionais de Defesa Etíopes na capital de Tigray, Mekelle. Já as Forças Especiais de Tigray estariam violando a lei humanitária internacional e cometendo abusos em Amhara, região vizinha.
Peso sobre os civis
Michelle Bachelet também divulgou um novo relatório feito em conjunto com a Comissão Etíope dos Direitos Humanos, que mostra “o terrível peso do conflito em Tigray sobre os civis”.
Dados coletados entre novembro de 2020 e junho deste ano mostram que todos os lados envolvidos no conflito em Tigray cometeram abusos de direitos humanos e violações às leis humanitária e de refugiados.
Bachelet teme que “essas terríveis violações e abusos ainda estejam acontecendo, baseados nos relatos que estão surgindo”.
Bombardeios matam crianças
O documento confirma assassinatos e ataques indiscriminados, além da situação humanitária no país, com milhões de pessoas sofrendo de insegurança alimentar. O Escritório de Direitos Humanos da ONU recebeu alegações de ataques áereos e bombardeios realizados nas últimas semanas pelas Forças Nacionais de Defesa Etíopes.
No dia 18 de outubro, três meninos que estavam cuidando de gado foram mortos e oito civis ficaram feridos quando um ataque aéreo atingiu uma fazenda a 15 km de Mekelle. Em um outro ataque, no dia 28 de outubro, seis civis, incluindo duas crianças, morreram.
Há também relatos de abusos cometidos pelas Forças Especiais de Tigray, que estariam mantendo presas 87 pessoas em um mesmo centro de detenção, acusadas de assassinatos e de ligação com o governo federal.
Fuga sem sucesso
Em outro centro de detenção, estariam presos quase 5,7 mil soldados das Forças Nacionais, incluindo mulheres, duas crianças e 28 grávidas. Seis homens e três mulheres morreram pela falta de tratamento médico.
O relatório destaca ainda que em julho, 90 pessoas que tentaram escapar de Tigray para o Sudão foram atingidas por balas disparadas pelas forças de Amhara, milícia Fano e pelas Forças Nacionais de Defesa Etíopes. Alguns dias depois, foram encontrados 39 corpos no rio Setit-Tekeze.
Já na região de Amhara, conflitos liderados pelas forças de Tigray causaram grande deslocamento de pessoas e execuções sumárias em Kombolcha. Em setembro desde ano, 205 civis foram mortos por soldados das forças de Tigray.
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O Escritório de Direitos Humanos também confirma que 19 mulheres e 13 meninas foram estupradas por integrantes das Forças de Tigray, somente no início de setembro.
As Forças Especiais de Tigray entraram na região de Afar em julho, onde lutaram até setembro. Entre os vários incidentes ocorridos no período, o relatório destaca o assassinato de mais de 200 civis quando um centro de saúde e uma escola foram bombardeados. Metade eram crianças.
Publicado originalmente em Agência News