Lord Acton era um humilde inglês, talvez por causa de seu vasto conhecimento. Entre seus famosos ditos, está: “O poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente, de modo que quase todos os grandes homens são maus”. O amor ao poder torna a pessoa egoísta e autoconfiante ao ponto do absurdo. Por outro lado, foram muitas as grandes pessoas que influenciaram a história de seus países e suas lutas, mas a história não lhes fez justiça, deixando ações para eles e reputação para os outros.
Não há dúvida de que a causa palestina foi e ainda é a questão central e mais importante em todo o mundo, apesar de algumas vezes retroceder. Muitos grandes povos passaram por sua trajetória de luta, sobre os quais não encontramos menção nas páginas da história. São aqueles que deixaram traços profundos e indicaram outros, mas não foram indicados. Neste artigo, citarei um pouco da biografia de um deles cuja história está esquecida até hoje, apesar de sacrificar tudo que tinha para defender a Palestina.
Amin Hamideh nasceu na cidade de Al-Mazra’a Ash-Sharqiya, distrito de Ramallah no início do século passado, especificamente no ano de 1907. Ele cresceu como um simples camponês em uma sociedade agrícola. Depois disso, as difíceis condições de vida o levaram a emigrar para Cuba em seus anos de juventude, como milhares de jovens palestinos da época. Em Cuba, ele alcançou grande sucesso como empresário reconhecido. A relação com sua pátria e sua família permaneceu muito forte, e ele sempre pensou em voltar à Palestina e lá se estabelecer. Mas não mediu esforços no envio de ajuda material para os revolucionários palestinos nas décadas de 30 e 40 do século passado, durante o período do colonialismo britânico na Palestina e a escalada alarmante da imigração judaica naquela época.
Ele decidiu retornar à Palestina com sua esposa cubana e seus quatro filhos em 1947, depois que as Nações Unidas emitiram uma resolução para dividir a Palestina em dois estados, um árabe e outro judeu, e ele quis defender sua terra, seu país e seu povo. “Somos os guardiões da terra”, disse ele.
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Na Palestina, Amin Hamideh construiu uma casa enorme, projetada para ser uma fortaleza impenetrável contra qualquer ataque à cidade, pois foi erguida em um local estratégico em sua fronteira, no topo de uma colina com vista para toda a área. Ele comprou armas para a maioria dos jovens da cidade para defendê-la e um caminhão para transportar os feridos. Também feriu-se enquanto defendia a aldeia abandonada de Qalunya, perto de Jerusalém. Ele sacrificou toda a enorme riqueza que acumulou em Cuba e todos os seus bens pelo bem da Palestina, para defendê-la e ao seu povo.
As pessoas em Al-Mazra’a Ash-Sharqiya e nas aldeias vizinhas sempre se lembrarão de Amin Hamideh como o homem que sacrificou tudo para defender a Palestina. Elas se lembrarão dele como um homem honrado que abandonou uma vida luxuosa na diáspora e voltou a lutar pela liberdade de sua pátria e de seu povo. Elas se lembrarão dele como aquele que fundou a primeira escola feminina da cidade e mandou construir estradas. Sua biografia continuará circulando entre o povo porque os revolucionários não morrem, mas são imortalizados por sua história.
Amin Hamideh teve 18 filhos (homens e mulheres) e centenas de netos, a maioria deles morando nos Estados Unidos da América. Ele morreu na Venezuela, e a última coisa que disse foi “Viva a Palestina”. Seu corpo foi devolvido à sua cidade natal “Al-Mazra’a Ash-Sharqiya” e enterrado lá. Muitos membros de sua família e de sua cidade seguiram seu caminho e continuaram a marcha em defesa de sua pátria e dos direitos de seu povo.
Existem muitos grandes homens e líderes que sacrificaram tudo para defender a Palestina e sua causa, mas não sabemos nada sobre eles e sua história foi esquecida. É claro que isso tem muitas razões, incluindo ignorância da história, indiferença e negligência das autoridades responsáveis e, infelizmente, em alguns casos, essa negligência é intencional. Portanto, esta é uma mensagem aberta às autoridades responsáveis e historiadores palestinos de que eles deveriam estar mais interessados em conhecer a história desses heróis que sacrificaram tudo para defender nossos direitos.
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