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Quem vai competir com Erdogan nas eleições turcas de 2023?

Presidente da Turquia Recep Tayyip Erdogan durante cerimônia de inauguração de obras da Autoridade Regulatória do Mercado Energético (EMRA), em Ancara, 9 de novembro de 2021 [Doğukan Keskinkılıç/Agência Anadolu]

Desde o pleito municipal de 2019, o debate sobre eleições antecipadas na Turquia jamais se apaziguou. Com base em um relativo progresso, a oposição turca adotou a pauta, ao promover uma imagem de considerável confiança na possibilidade de repetir seus ganhos em âmbito parlamentar e mesmo presidencial.

Por outro lado, a Aliança Popular — composta pelo Partido Justiça e Desenvolvimento (AK) e pelo Partido de Ação Nacionalista (MHP) — insiste que as eleições não serão adiantadas e devem ocorrer como marcado, em meados de 2023. Não obstante, a oposição não foi dissuadida de seus apelos, sobretudo ao sugerir aumento de sua popularidade, em detrimento contínuo do grupo governista, que supostamente teme o resultado das urnas.

Dessa forma, apesar da ênfase do governo em manter o cronograma como está, a Turquia vive agora uma atmosfera eleitoral sem sequer formalizar campanha. Há polarização, brigas frequentes, confrontos nos espaços públicos e diversos pré-candidatos tentando promover sua figura entre os colegiados em potencial — sobretudo à presidência da república.

O presidente Recep Tayyip Erdogan deve ser naturalmente candidato de seu partido, sob a coalizão formada pela Aliança Popular. Portanto, prevalece a dúvida de qual será o nome escolhido pela oposição para concorrer contra ele.

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Primeiro, é preciso considerar que o voto deriva, em boa parte, da importância que lhe é concedida em determinado contexto, que afeta inexoravelmente os resultados, de uma forma ou de outra. Não é possível falar de eleições e prever vitoriosos sem abordar as circunstâncias nas quais ocorrem — entre as quais, a situação econômica no país, avanços na política externa, alianças eleitorais, número de candidatos, tendências populares, e assim por diante.

Segundo, é importante reiterar que as chances de vencer Erdogan não são necessariamente o critério unívoco — ou mesmo mais importante — para escolher seu adversário.

Nas últimas eleições presidenciais, em 2014, a oposição não concordou com um candidato em comum. Caso houvesse consenso, o voto oposicionista não seria esfacelado e as chances de derrota do incumbente turco certamente seriam maiores.

Meral Aksener, líder do chamado Partido do Bem, de caráter kemalista, insistiu em concorrer para ampliar as projeção de seu partido no parlamento e aproximar-se até mesmo da presidência da câmara, pela primeira desde sua fundação.

A escolha do Partido Republicano do Povo (CHP) também foi determinada por outros fatores, alheios às chances de vitória. Kemal Kilicdaroglu estava farto de sua disputa interna com Muharrem Ince, então presidente do partido, que perdeu diversas vezes contra Erdogan. O primeiro, todavia, decidiu instigar uma candidatura de Ince para livrar-se dele, mais uma vez derrotado e humilhado nas urnas. De sua parte, Ince acatou porque pretendia utilizar sua projeção nacional como argumento contra Kilicdaroglu, dentro do partido, mas exacerbou efetivamente a disputa entre os correligionários. Em último caso, o então candidato deixou o partido e recentemente conseguiu fundar o Partido Pátria.

Terceiro, considerando ainda os pontos supracitados, um dos mais importantes fatores que afetam o resultado das eleições à presidência é justamente a capacidade da oposição de concordar com um candidato em comum. Caso consiga fazê-lo, suas chances aumentam; caso fracasse, suas chances declinam. Até então, parece que os dois mais importantes partidos de oposição — Partido Republicano do Povo e Partido do Bem — estão de acordo sobre a necessidade de uma coligação. Espera-se ainda que o Partido Democrático do Povo (HDP) apoie seu candidato nos bastidores; isto é, sem uma posição pública ou oficial.

Portanto, o principal critério para um candidato em comum é que seja palatável aos dois principais partidos oposicionistas, além de outros segmentos eleitorais. Nessa conjuntura, a tendência é um candidato de direita — conservador ou naciolista — ou que ao menos traduza essa impressão. No mínimo do mínimo, é preciso ser aceito por ambos os grupos. Dentre os mencionados, por exemplo, estão Ekrem Imamoglu e Mansur Yavas, que governam as principais cidades do país, Istambul e Ancara, respectivamente.

Em teoria, o ex-presidente Abdullah Gul ainda é o candidato mais forte contra Erdogan, pois parece capaz — novamente, em teoria — de angariar votos de diversos movimentos e ideologias, incluindo partidos novos, criados por disputas internas com a liderança governista do Justiça e Desenvolvimento. Além disso, a experiência eleitoral de 2014 sugere que Kilicdaroglu não pode obter uma escolha determinante de seu próprio partido, muito menos de sua base, algo que poderá se repetir nos próximos dois anos.

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Após sua vitória para a prefeitura da Grande Istambul, maior metrópole da Turquia, Ekrem Imamoglu tornou-se o favorito de muitos para concorrer com Erdogan. No entanto, os cálculos municipais diferem vastamente do pleito presidencial e podem até mesmo descartar uma candidatura em escala nacional. Na presente conjuntura, o líder do partido — isto é, Kilicdaroglu — diz basicamente que ambos os prefeitos devem permanecer onde estão, para não dar espaço a uma eventual ressurgência do Justiça e Desenvolvimento nas cidades estratégicas. Isso significa que Imamoglu e Yavas não são candidatos preferíveis aos olhos da liderança partidária e que Kilicdaroglu pode indicar a si próprio, em seu lugar. Não obstante, Imamoglu e Yavas podem contestar a decisão e abrir as portas para maiores divergências internas sobre ambições eleitorais.

Em suma, os dois principais fatores que influenciam o resultado das próximas eleições à presidência da república são a escala de um eventual consenso entre a oposição e o nome escolhido para representá-la. Trata-se, por definição, de um enorme desafio aos diferentes grupos oposicionistas, de modo que não é fácil arranjar alguém capaz de seduzir simultaneamente nacionalistas turcos e nacionalistas curdos, por exemplo — representados pelo Partido do Bem e Partido Democrático do Povo, respectivamente.

Toda a questão torna-se ainda mais complexa quando novos partidos são adicionados à equação e ainda não sabemos qual será sua estratégia nas próximas eleições: escolhas individuais, ao negociar apoio a uma das duas coligações existentes, ou a formação de uma “terceira via” constituída por partidos pequenos.

Quanto ao à presidência, trata-se ainda de uma pergunta prematura que deve ser precedida pela definição dos candidatos e suas alianças políticas. Entretanto, não é absurdo afirmar que o próximo pleito será mais difícil a Erdogan e seu círculo próximo do que as campanhas anteriores. Neste contexto, todos enxergam as eleições de 2023 como uma oportunidade excepcional para determinar a própria imagem da Turquia e sua projeção regional e internacional, no futuro próximo e ainda além.

Este artigo foi publicado originalmente em árabe pela rede Arabi21, em 8 de novembro de 2021

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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