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Bolsonaro e a controversa visita às monarquias do Golfo

Jair Bolsonaro recebido pelo rei Hamad bin Isa Al Khalifa e o chanceler do Golfo do chanceler Abdullatif Al-Zayani.[Agência de Notícias do Barein]

No sábado, 13 de novembro de 2021, Jair Bolsonaro foi para Dubai junto a uma enorme comitiva. O início do giro de uma semana visitando três monarquias do Golfo Pérsico iniciou com visita a Expo 2020 nos Emirados Árabes Unidos (EAU). Além de ter conversações com o vice-presidente e ministro de comércio exterior, ele visita os pavilhões da Arábia Saudita, Bahrein e Israel. A pergunta óbvia é: por que a entidade sionista tem um pavilhão de exposição em evento sediado em país “árabe”?! Simplesmente, porque as monarquias do Golfo são, em sua grande maioria, arranjos de Estados fictícios pós-coloniais. Desde o início do século, como exceção, o Catar se reposiciona a favor da libertação da Palestina e incide nas audiências ocidentalizadas através da Al Jazeera.

Já os EAU e Bahrein são a soma da herança maldita de Lawrence da Arábia (um agente de inteligência inglesa). O primeiro compartilha com o Apartheid colonialista um enorme complexo de inteligência de sinais e comuta dados com os sistemas de espionagem. A famigerada NSO, agora famosa no Brasil pela tentativa de emplacar contratos oficiais com advocacia administrativa por parte da família do presidente, é apenas uma das dezenas de empresas que operam na ponta de uma infraestrutura de alcance global.

Já o Bahrein simplesmente é hospedeiro da maior base naval dos Estados Unidos fora dos países “ocidentais”. Se as provocações da marinha estadunidense derem “resultado”, vão conseguir uma guerra naval convencional com o Irã e o local de ataque contra a força persa será Manama, a “capital” do reino absolutista.

Bolsonaro e os fundos soberanos de investimento 

Outra razão alegada para a visita aos Emirados, Bahrein e Catar é a conhecida “atração de investimentos”. Os três reinos têm volumosos fundos soberanos, onde recursos oriundos do petróleo e outras capacidades entram na espiral de dinheiro-dinheiro-dinheiro, circulando sem travas (por não sofrerem sanções dos EUA) entram e saem de aplicações em mercados de capitais, derivativos ou comora e venda de títulos públicos.

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Colocar uma parcela de valor destes fundos soberanos na forma de IED greenfield é muito difícil. A demagogia econômica de Paulo Guedes promete essas “mágicas”, junto aos grupos de mídia convencional, que repetem à exaustão a mentira de que “aplicação em capital fictício é investimento”. Bem como a especulação em torno da quebra e do desmonte da Petrobrás, que entra como metástase em uma empresa que já não é vertical na cadeia de óleo e gás. O fundo Mudabada (dos Emirados) entrou na Bahia, adquiriu a refinaria Refinaria Landulpho Alves (RLAM), não tem sócios públicos no quadro diretivo e criou empresa para adquirir mais instalações no setor. Qual o tipo de articulação possível com Emirados e Bahrein?! O que pode vir de bom e produtivo neste arranjo pós-colonial?!

A declaração conjunta de traição e risco para a soberania nacional

O dia 17 de novembro de 2021 marca mais um episódio absurdo de dupla traição. O presidente de extrema direita e pró-sionista do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, em visita a três monarquias do Golfo (Emirados Árabes Unidos, Bahrain e Qatar), assinou uma declaração conjunta na forma de protocolo de intenção, em conjunto com o monarca Hamad bin Isa Al Khalifa. Vale observar, com muita atenção, os itens sete e nove do texto A tradução e os grifos são deste analista, e a fonte é a Agência de Notícia do Reino do Bahrain (BNA).

7- Os dirigentes reafirmaram a importância atribuída à cooperação em matéria de defesa e manifestaram o desejo de assinar, o mais brevemente possível, o Acordo de Cooperação em Defesa, que constituirá a base de iniciativas conjuntas na área. Expressaram a intenção de estabelecer uma cooperação na área de Produtos de Defesa que transcenda os aspectos comerciais, enfatizando também as iniciativas conjuntas na área de pesquisa e desenvolvimento. O Bahrein saudou a participação da Marinha do Brasil nas Forças Marítimas Combinadas, parceria naval multinacional com sede no Bahrein. 

9 – estacando a importância de promover a tolerância e a coexistência para promover a estabilidade regional e a prosperidade econômica, o Presidente Bolsonaro deu as boas-vindas à assinatura dos Acordos de Abraão em 2020 entre o Reino do Bahrein e o Estado de Israel. O lado do Bahrein reiterou que os Acordos de Abraham representam uma oportunidade histórica que facilita a cooperação, a pacificação e o diálogo inter-religioso.

Desta forma, uma visita que poderia implicar apenas a abertura de embaixada em Manama, sede do reino absolutista e incremento no comércio bilateral –  algo perfeitamente compreensível e lícito no jogo diplomático –  se torna um  gesto de traição  contra as massas árabes e seus descendentes no Brasil. Também implica um risco real para a soberania nacional brasileira, haja visto que a “indústria de defesa” do Bahrain e dos EAU é  uma complementaridade da capacidades anglo-sionistas.

Bolsonaro, sionismo e os “amigos salafistas”

Importante observar com quem o governo Bolsonaro está se aproximando, com promessas vagas de negociações do que restou do parque bélico nacional para vendas destinadas aos Emirados, Bahrein e a sempre presente Arábia Saudita – que negocia de forma indireta. No domingo, 14 de novembro de 2021, houve uma “adaga cravada no povo palestino”.  Na projeção de poder sobre o Mar Vermelho, os “jogos de guerra do sionismo”, incluíram operações navais, manobras de complexidade e anfíbias justamente na mancha d’água onde os árabes puderam recuperar seu orgulho em 1956! Cinco dias de exercícios militares junto às forças marítimas do Império estadunidense e da entidade sionista, não por acaso simulando um conflito contra o Eixo da Resistência ou na hipótese de que um dia o Egito possa abandonar a posição traidora, liberar o Sinai como um corredor humanitário para Gaza e assim contribuir para a libertação da Palestina Ocupada.

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Ainda nesta mesma data, com Bolsonaro já em Dubai, capital dos Emirados Árabes Unidos, mundos árabe e islâmico recebem a seguinte constatação. Finalmente aquilo que todos sabíamos há anos é assumido. O líder da franquia da Al-Qaeda na Península Arábica, Khaled Batarfi, em uma entrevista divulgada pela mídia da organização terrorista Al-Qaeda, admitiu que os salafistas vêm lutando contra as forças do movimento Ansarullah do Iêmen em 11 frentes.

Mas não para por aí. Batarfi também afirmou que o papel de seus liderados na luta contra os combatentes Houthi é evidente e inegável. Isso levanta novas especulações sobre a cooperação entre as forças lideradas pela Arábia Saudita, EAU e os terroristas da Al-Qaeda, relatada anteriormente pela mídia, incluindo a batalha de 2016 por Taiz.

A respeito das manobras no Mar Vermelho, podem ser também uma forma de assegurar a permanência das linhas de suprimentos para material bélico. Os imperialistas nem disfarçam e especialistas dizem que os EUA têm usado e apoiado grupos terroristas no Iêmen desde o início da guerra liderada pelos sauditas. O próprio exército iemenita provou isso apreendendo esconderijos de armas, com logotipos da USAID, em depósitos de armas da Al-Qaeda.

Vejamos com quem Bolsonaro está negociando. Simplesmente com os inimigos e traidores da Causa Árabe, detratores do Mundo Islâmico, subalternos dos imperialistas e sionistas. No Brasil, somos mais de 16 milhões de árabe-descendentes (mais de 90%  oriundos do Bilad al-Sham). Não podemos normalizar mais essa agressão!

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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