Mais de 60 cidades em todas as regiões do Brasil já tem atos marcados neste sábado, 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra. Entre as bandeiras na luta contra o racismo, não deve faltar a da Palestina.
A data simboliza a histórica resistência negra em um país marcado pela herança maldita de 388 anos de escravidão. Foi o dia em que, no ano de 1965, o líder do Quilombo dos Palmares, Zumbi, foi assassinado. Seu legado está presente em cada lutador e lutadora contra o racismo, instrumento do sistema capitalista.
Para além da solidariedade internacional entre os oprimidos e explorados, essa batalha é inseparável da resistência rumo à Palestina livre. Além de o racismo ser parte intrínseca da colonização sionista, a militarização das vidas negras e pobres no Brasil e no mundo sustenta o regime de apartheid institucionalizado israelense imposto aos palestinos.
Setenta por cento das tecnologias militares desenvolvidas pela ocupação destinam-se à exportação, e o Brasil lamentavelmente se tornou nos últimos anos o quinto maior importador destas. Sob Bolsonaro, representante explícito na cadeira do Planalto, essa parceria da morte cresce dia a dia e se reflete também entre os governos estaduais. Nas mãos das polícias militares, encontram-se blindados israelenses, sistemas de vigilância e mesmo armas de guerra, como em São Paulo e no Amazonas, em que seus governos adquiriram metralhadoras Negev que disparam até 700 tiros por minuto a mil metros de distância e estão a serviço da criminosa ocupação na Palestina.
LEIA: Escutar Angela Davis para enfrentar o pacto de sangue Bolsonaro-Israel
Racismo no Brasil e na Palestina
Os alvos no Brasil, velhos conhecidos, são os corpos negros, indígenas e empobrecidos. Segundo anúario publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a letalidade policial aumentou 0,3% em 2021, e alarmantes 78,9% de suas vítimas são negros. O feminicídio cresceu 0,7%, e 61,8% das mulheres assassinadas são negras.
Se os negros e negras pobres resistem em um Brasil racista desde sempre a morrer de fome, de doença ou se tornarem vítimas diretas da violência do Estado, inclusive por balas disparadas pela polícia manchadas pelo sangue palestino, sob o genocida Bolsonaro aprofunda-se essa trágica realidade.
Diante da crises sanitária e econômica, conforme o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), entre o primeiro e o segundo trimestres de 2020, o desemprego atingiu 8,9 milhões de homens e mulheres. Desse total, 71% são negros e negras, ou 6,4 milhões. A análise foi feita com base em dados da da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mostra ainda que ao final de 2021, quando há uma volta ao mercado de trabalho, esta não se dá na mesma proporção entre brancos e negros, cuja parcela expressiva não retornou: 1,1 milhão de negras e 1,5 milhão de negros. “Pode-se dizer que, no 2º trimestre de 2021, enquanto a força de trabalho não negra já equivalia a 92% do total registrado antes da pandemia (primeiro trimestre de 2020), entre os negros, esse percentual foi de quase 59% (…).”
Consequentemente, segundo reportagem publicada pelo Brasil de Fato, “nos dois primeiros anos deste governo, a fome aumentou 27,6% no Brasil”. Conforme o Inquérito Nacional sobre Segurança Alimentar no contexto da pandemia de Covid-19, realizado em dezembro de 2020 pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, mais da metade da população enfrenta insegurança alimentar. São 116,8 milhões sem acesso pleno e permanente a alimentos. Para 19,1 milhões destes – 9% dos brasileiros – a situação é grave: estão passando fome. E 10,7% dos que estão sem ter o que comer são pretos e pardos.
Os palestinos e palestinos, submetidos há mais de 73 anos à contínua Nakba – catástrofe com a formação do Estado racista de Israel mediante limpeza étnica planejada –, conhecem essa realidade profundamente. Enfrentam, em função do apartheid institucionalizado, demolição e expulsão de suas casas, prisões políticas, destruição de suas plantações, checkpoints e todo um aparato da segregação, mas também fome, desemprego, pobreza e falta de vacinas em meio à pandemia. Enfim, toda sorte de violência e violação de direitos humanos fundamentais. A morte segue à espreita em meio à colonização que visa apagá-los efetivamente do mapa. Para os palestinos e palestinas, resistir é existir.
Na Palestina sob ocupação, conforme a Organização das Nações Unidas (ONU), metade da população tem dieta nutricional comprometida e 32,7% enfrentam o agravamento da insegurança alimentar em meio à pandemia. Em Gaza, cuja situação dos 2 milhões de habitantes é ainda mais dramática em função do cerco israelense desumano há 14 anos e bombardeios frequentes, são 68,5%. Metade das crianças vive quadro de desnutrição crônica. Mais de um milhão depende de ajuda humanitária para se alimentar.
Esse é o regime que Bolsonaro saúda. Coerente com governo racista e genocida, cuja existência é uma ameaça às liberdades democráticas. Contra ele, manifestantes no Brasil mandam o recado por ocasião do Dia da Consciência Negra: não voltarão à senzala, nem aos porões da ditadura.
A bandeira palestina ganha ainda mais relevância em um 20 de novembro que neste ano traz, como parte da luta contra o racismo, o mote “Fora Bolsonaro”. Neste Dia da Consciência Negra, às ruas. Rumo a uma Intifada (levante popular) “palestinegra”
LEIA: Lobby pró-Israel difama o movimento Black Lives Matter como ‘terrorista’
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.