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Reino Unido admite omitir fatos sobre avião sequestrado por Saddam Hussein

Stephen Davis posa com seu novo livro Operation Trojan Horse (Operação Cavalo de Tróia), que investiga o pouso do Voo 149 da British Airways, no Kuwait, durante a invasão iraquiana nos anos 1990, em Londres, 2 de agosto de 2021 [TOLGA AKMEN/AFP via Getty Images]

O público e o parlamento britânico foram ludibriados por décadas no que se refere a um voo da British Airways ao Kuwait, durante a invasão iraquiana ao país árabe, em 1990, admitiu o governo em Londres por meio de um pedido de desculpas oficial, nesta terça-feira (23).

Por mais de 30 anos, sucessivos governos encobriram o fato de que existia um alerta do embaixador britânico no Kuwait sobre a iminente invasão comandada pelo então presidente iraquiano Saddam Hussein, quando o Voo 149 da British Airways viajou ao Golfo.

Não obstante, a informação — que poderia ter impedido o avião de pousar no Kuwait — jamais foi transmitida às autoridades relevantes.

Como resultado, quase todos os 385 passageiros a bordo foram utilizados como “escudos humanos” pelo ditador árabe. Após serem sequestrados, civis foram posicionados estrategicamente para dissuadir soldados ocidentais de reagir às tropas de Bagdá.

O governo conservador da época — liderado por Margaret Thatcher — foi então acusado de utilizar o voo comercial para transportar uma equipe de inteligência à região.

Anthony Paice — que servia como agente político dos serviços de inteligência na embaixada britânica no Kuwait, em 2 de agosto de 1990, quando ocorreu o sequestro —, asseverou estar  “convencido” de que houve exploração militar do Voo 149 da British Airways.

LEIA: Israel fez o primeiro sequestro de avião comercial do mundo; a BBC precisa reconhecer isso

Paice revelou tudo que sabia em agosto deste ano, ao observar que suas obrigações sob o Ato de Segredos de Estado o impediram de comentar o caso, até então.

“Estou agora em posição de confirmar que ocorreu exploração militar de inteligência do Voo 149 da British Airways, apesar de o Ministério da Defesa negar o fato reiteradamente, desde 1991”, afirmou Paice ao jornal britânico Financial Times.

“Tenho conhecimento de que tratou-se de uma tentativa apressada e equivocada, embora deliberada, de colocar agentes de inteligência em campo”, acrescentou.

Tanto a companhia aérea quanto as autoridades insistem que o momento da invasão iraquiana foi inesperado e que o voo jamais teve qualquer objetivo militar. Liz Truss, atual chanceler britânica, que desculpou-se em nome do governo, reafirmou a negativa.

“O alerta feito pelo embaixador no Kuwait jamais foi publicamente confirmado ou reconhecido até hoje”, declarou Truss em comunicado por escrito. “Trata-se de um erro inaceitável … expresso minha profunda solidariedade àqueles detidos e maltratados”.

Não obstante, a negativa do governo em explorar um voo civil como missão militar foi contestada e condenada por um dos passageiros a bordo, na ocasião.

“Quem eles eram então? Jogadores de rugby?”, questionou Barry Manners. “Eu sei muito bem que eles eram soldados! Se nosso governo realmente usou voos da British Airways como transporte militar, que ao menos seja honesto e admita!”.

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