A Etiópia anunciou novas restrições ao compartilhamento de informações concernentes à guerra no norte do país, segundo informações da agência Reuters. Conforme a medida, apenas o governo central pode divulgar atualizações sobre os eventos em campo.
“Disseminar informações sobre manobras, atualizações e resultados do fronte via qualquer mídia é proibido”, salvo concedidas pelo comando civil-militar incumbido de monitorar o “estado de emergência”, declarou na quinta-feira (25) o serviço de comunicação do governo.
O conflito entre o governo central e forças rebeldes da região do Tigré, norte da Etiópia, deflagrou-se em novembro do último ano.
A declaração não especificou, no entanto, as implicações das novas regras, sobretudo a jornalistas e agências que cobrem a guerra. Por exemplo, não há consequências previstas para quem publicar informações de fontes não-autorizadas.
A agência Reuters tentou contactar o serviço de regulação de mídia do regime etíope; entretanto, até então, não recebeu resposta.
Na sexta-feira (26), Bilene Seyoum, porta-voz do primeiro-ministro Abiy Ahmed, afirmou à Reuters: “O estado de emergência proíbe entidades não-autorizadas de disseminar atividades do fronte via diversos canais, incluindo média”. Porém, sem conceder detalhes.
Neste ano, o parlamento etíope designou a Frente Popular de Libertação do Tigré, movimento que controla grande parte da região, como “organização terrorista”.
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Em seu novo decreto, o governo instruiu também “todos aqueles que usam a liberdade de expressão como pretexto … para apoiar o grupo terrorista a evitar fazê-lo”.
Ao tomar posse, em 2018, o premiê Ahmed supervisionou uma série de reformas, incluindo a retomada das operações de mais de 250 órgãos de imprensa, libertação de dezenas de jornalistas encarcerados e revogação de leis regulatórias altamente controversas.
Contudo, grupos de direitos humanos denunciam que a liberdade de expressão erodiu exponencialmente desde então, à medida que o governo passou a enfrentar surtos de violência e conflito, incluindo no estado setentrional do Tigré e regiões vizinhas.
Ao menos 38 jornalistas e profissionais de mídia foram detidos desde 2020, a maioria após deflagrar-se a disputa militar, segundo estimativas da Reuters.
Em maio, questionado sobre as prisões, o serviço de regulação de mídia do regime etíope argumentou, porém, que a “liberdade de expressão e proteção da imprensa são valores sacros, consagrados por nossa constituição”.