Palestinos, não renunciem à liberdade

Virginia Velasco Condori, senadora boliviana na Conferência dos Parlamentares por Jerusalém, dia 30 de novembro de 2021, em Ancara, na Turquia [Monitor do Oriente Médio]

Virginia Velasco Condori, a senadora boliviana que integrou a delegação latino-americana na Conferência dos Parlamentares por Jerusalém, dia 30 de novembro de 2021, em Ancara, na Turquia, nasceu na província de Los Andes, departamento de La Paz – Bolívia, no município de Laja, na comunidade de Caicoma. Filha dos agricultores Rufino Velasco e  Asunta Condori e com quatro irmãos, a atual senadora boliviana, foi uma criança que amava leitura e matemática, cresceu descobrindo o interesse por física e química, enquanto ajudava na produção agrícola e no cuidado dos animais da fazenda da família, principalmente ovelhas.

“Guardo uma bela memória da minha infância, que se passou no campo, onde cresci no meio de uma paisagem dominada por colinas e campos de cultivo, com céu azul de dia e noites repletas de estrelas, às margens de um lago onde tive a oportunidade de consumir o que a terra produzia, alimentos saudáveis, trigo, milho, feijão, batata, carne, frango, ovos e queijo. Isso marcou uma conexão com o campo que nunca morreu.”

Na juventude, a percepção da invisibilidade das mulheres determinou o rumo de sua vida. Somada a compreensão das lutas indígenas e do campo, essa consciência alimentou sua visão ampliada para as lutas de seu país e para a solidariedade internacional entre os povos.

A situação da Bolívia, da América Latina e da Palestina são temas desta entrevista com a senadora do Movimento ao Socialismo (MAS), Virgínia Velasco Condoni, ao Monitor do Oriente Médio, ao final da Conferência de Parlamentares por Jerusalém.

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Quando você decidiu entrar na política?

Decidi ser política aos 21 anos porque vi como a participação das mulheres nos diferentes espaços políticos era restrita, e isso iniciou uma luta de vários anos, vi como todas as autoridades, nacionais, departamentais, municipais e locais eram só homens. Já tendo saído do campo e estando na cidade, decidi trabalhar para que as mulheres do campo também sejam lideranças que possam participar da vida política do nosso país e estar em diferentes instituições públicas para contribuir na tomada de decisões em favor das novas gerações.

Como está a participação indígena na situação política na Bolívia?

Nosso Estado Plurinacional da Bolívia é caracterizado pela diversidade da população, nossa Constituição Política do Estado reconhece a existência de 36 povos indígenas e nações, cada um com sua própria língua, formas e costumes, o que faz com que a Bolívia tenha uma dinâmica social muito complexa e arraigados em culturas, os dois predominam em termos de tamanho populacional, os quíchuas e os aimarás.

Historicamente, essas nações e povos indígenas sofreram grande discriminação e injustiça durante o período republicano em nosso país (1825 – 2009), até meados do século 20 não podiam votar, e ao longo do século passado tiveram grandes restrições ao acesso aos direitos básicos. como saúde ou educação, porque não era prioridade dos governos neoliberais investir no setor indígena.

A partir de 2005, quando o nosso partido MAS IPSP venceu as eleições, iniciou-se um processo de mudança na Bolívia que se prolongou por 14 anos, no qual foram geradas políticas redistributivas destinadas a aumentar o investimento público nas áreas rurais mais atrasadas. Foi ativada a economia de pelo menos 74 cidades intermediárias que atualmente passam por processos significativos de urbanização no país. Gerou-se maior mobilidade social entre a população urbana e a rural, com redução da pobreza e da pobreza extrema.

Apesar de em 2019 ter havido uma tentativa antidemocrática de destruir as conquistas do Estado Plurinacional, com um governo transitório que se autoproclamou, nosso país recuperou sua estabilidade através das eleições democráticas de 2020 onde o povo voltou a eleger nosso partido (MAS) para que desta vez, à frente de nosso presidente Luis Arce Catacora e de nosso vice-presidente David Choquehuanca Cèspedes, continuemos o processo de mudança em nosso país.

Como você prevê o futuro político na América Latina?

É uma região rica e diversa que passou por mudanças rápidas nos últimos anos; Porém, há uma constante que vem marcando a agenda política da América Latina desde o início do milênio e é que grande parte da região se voltou para a esquerda, em processos de libertação política muito importantes que acredito estarem permeando a agenda mundial, fazendo com que a cada dia mais e mais pessoas se levantem contra um sistema imperialista que tenta nos sufocar a partir da América do Norte, porque a América Latina não é estranha às pressões dos Estados Unidos e certamente isso está gerando um farol de esperança em muitos países onde está havendo abertura aos povos indígenas e reconhecimento de seus direitos.

Qual é a sua posição sobre a causa palestina?

Como eu disse na conferência, a proclamação do povo palestino é uma causa legítima que tem uma base histórica e geográfica por mais de 2.000 anos, mas não se trata apenas de uma terra que historicamente pertenceu à nação palestina, mas também do direito que têm como seres humanos de viver em paz e harmonia, com respeito pelos seus direitos humanos e políticos.

A situação do povo palestino deve ser um apelo para que todos os países do mundo abram os olhos para o caminho do diálogo e da pacificação. Há décadas o povo palestino denuncia o ataque sistemático à sua integridade cultural e nacional, os crimes flagrantes contra seu povo, sua identidade e seus direitos mais básicos.

Como disse o presidente da Turquia, Reccep Tayyip Erdogan, enquanto não houver paz em Jerusalém, não haverá paz no Oriente Médio.

Você participou pela primeira vez da conferência de “Parlamentares por Al-Quds” qual a sua impressão desta conferência?

Acredito que foi uma conferência exitosa, com uma importante participação de todas as delegações que vieram de diferentes partes do mundo, mas o mais importante foi a unidade com a qual se pediu para defender a causa palestina, o respeito aos direitos humanos para restaurar a paz e a justiça.

Encontrei muitos parlamentares que se uniram para apoiar uma causa comum, a causa palestina; Para mim representa algo muito importante e é que de muitas partes do mundo existem vozes que pedem liberdade e justiça para um povo irmão do mundo e estou muito feliz por ter feito parte disso.

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Que relevância e recomendações resultaram da conferência?

A organização foi muito boa, não só porque teve uma convocação muito importante a nível mundial, mas também porque no desenvolvimento da conferência foi possível ter uma participação significativa de todos os assistentes e me parece que a mensagem e as recomendações foram muito claras: todos nós pedimos paz e justiça para a Palestina, a solidariedade do mundo com nossos irmãos palestinos. Agora é a tarefa de todos nós traduzir as recomendações desta conferência em ação.

E a mensagem da Bolívia ao povo palestino?

Como Estado Plurinacional, temos uma importante comunidade palestina, de pessoas muito valiosas que há muitos anos contribuem para o desenvolvimento de nosso país e por isso seus sentimentos tambem são nossos diante da denúncia de crimes de guerra sofridos pelo povo palestino. Nossa mensagem aos palestinos é de solidariedade e força. Não renunciem à sua liberdade, não renunciem à sua nação ou à sua terra. A justiça de Deus virá sempre para aqueles que nele têm fé e a cada dia mais e mais pessoas se unem à sua causa de forma solidária e sincera.

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